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Conversas Sub 30: "Os portuenses estão, cada vez mais, despertos para as causas ambientais", acredita Ana Rita Barros

  • Paulo Alexandre Neves

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Nuno Miguel Coelho

Ana Rita Barros tem 25 anos, maior parte deles entregues às causas ambientalistas. Em 2018 fundou a FOCA, uma associação de defesa do ambiente. Mestre em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) foi, recentemente, escolhida para embaixadora do Pacto Europeu para o Clima. Mas é ao do Porto que mais dedica a sua vida profissional. A juntar a tudo isto é presidente da Federação das Associações Juvenis do Distrito do Porto e ainda tem tempo para conhecer a cidade, que não troca por nada.

Quem é a Ana Rita?
Sempre fui muito apaixonada pela área ambiental. Acredito que se deva, em parte, ao facto de ter sido escuteira, o que acabou por trazer o gosto pela natureza. Sempre fui também muito decidida e muito de causas e, na altura em que entrei para a faculdade, considerei que seria interessante fazer um pouco mais por esta temática. Tinha acabado de entrar no curso de Ciências e Tecnologias do Ambiente, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) [Ana Rita Barros é mestre em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Engenharia (FEUP)], e percebi o enquadramento científico da questão. Entretanto, uma amiga desafiou-me a fazer voluntariado na área do ambiente. Percebemos que na cidade ainda não havia uma resposta clara. Não havendo decidimos criar, em 2018, uma associação de defesa do ambiente, a FOCA - Focus On Critical Actions. Foi aí que começou a minha jornada de trabalho pela causa ambiental, de uma forma mais séria, para além do gosto pelo contato com a natureza.

Essa paixão pelo ambiente foi precoce? Ou seja, quando te perguntavam 'o que queres ser quando fores grande', o que é que respondias?
Na verdade, por muito pouco romântico que seja, a resposta é não. Nunca tive muito essa ideia de que, quando fosse grande, queria muito ser engenheira do ambiente. Lembro-me que, na altura dos testes psicotécnicos, nunca houve uma área muito clara. Tanto dava a saúde, como letras e também o ambiente. Nessa altura, isso deixou-me os horizontes mais abertos para explorar outras áreas.

A tua formação superior ainda te aguçou mais o apetite ou te fez redefinir o rumo da tua vida?
Sabia que gostava da área do ambiente e do contato com a natureza, mas aprofundar os conhecimentos nesta vertente fez-me perceber os problemas e a necessidade de ação.

A FOCA foi uma forma de intervenção porque não existia nada em termos de voluntariado ambiental

Nos últimos tempos, muito se tem falado em Portugal sobre a causa ambiental e climática e pelos piores motivos. É a melhor forma de lutar por esta causa?
Não é, de todo, a minha forma de estar nesta causa. Não é, de todo, a forma de estar das pessoas com quem me rodeio. Percebo de onde isto possa vir. Acredito que seja uma tentativa de chamar a atenção para o problema, mas não concordo com a forma como é feita. Há muitas outras formas de trabalhar o problema e pode, até, ser contraproducente porque acaba por afastar a sociedade, em geral, desta temática. Acaba-se por associar, de uma forma genérica, a causa ambiental a atividades e medidas drásticas de pessoas que tentam chamar a atenção para o problema e não porque queiram resolvê-lo. Não me parece que seja por aqui o caminho.

Uma das formas é o associativismo, por exemplo a criação de uma associação juvenil de defesa do ambiente. Porque decidiste fazê-lo, em 2018, com a fundação da FOCA?
Foi uma forma de intervenção porque não existia nada em termos de voluntariado ambiental. Já tivemos mais de 600 jovens nas nossas atividades. A equipa está em constante crescimento. Atuamos em três dimensões: sensibilização, quer seja nas redes sociais quer em ações concretas, na mitigação dos impactos nos ecossistemas, através da limpeza de rios, que já fizemos, por exemplo, em conjunto com a Câmara Municipal do Porto, ou de praias, atividades de reflorestação e, numa última vertente, o apoio à investigação e ao desenvolvimento, com vários parceiros. As empresas vão estando mais despertas para esta causa. Isto acontece porque os jovens que trabalharam connosco estão agora no mundo empresarial e levam consigo esta preocupação.

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Ainda tens tempo para os teus hobbies?
Tem de haver. É uma parte fundamental das nossas vidas para termos equilíbrios, a todos os níveis. No ano passado deixei a presidência da FOCA e tomei posse como presidente da Federação das Associações Juvenis do Distrito do Porto (FAJDP). Um trabalho totalmente diferente. São mais de uma centena de associações, que trabalham, diariamente, para várias causas (sociais, ambientais, educativas). É giro alargar o meu âmbito de atuação e tentar contribuir, de várias formas, para diferentes públicos. No meio disto tudo vai sobrando tempo para o desporto, para estar com os amigos.

É importante que os cidadãos sejam apoiados e se juntem a esta causa [do Pacto do Porto para o Clima]

E tempo para conhecer a cidade?
Sou uma apaixonada pelo Porto. Quando acabei o curso sabia que queria muito trabalhar com a vertente das cidades. Nessa altura estava a ser criada a Direção para a Neutralidade Carbónica do Porto [da Empresa Municipal Porto Ambiente]. Acabou por haver um alinhamento e juntei-me à equipa, que conduz a cidade para um objetivo que é de todos. Dá-me especial gozo trabalhar para uma cidade que tanto gosto. Gosto muito de ir, mas gosto ainda mais de voltar. Um Porto seguro para os que aqui estão. Nasci cá, sempre aqui vivi, sou tripeira de gema.

A cidade está na linha da frente, em termos europeus, da neutralidade carbónica. O Pacto do Porto para o Clima é uma boa solução?
É uma excelente medida, inclusivamente vista com bons olhos pelos nossos parceiros de outras cidades europeias. Foi preciso juntar todos os stakeholders da nossa cidade nesta missão. Foi assim que nasceu o Pacto. É o caminho que temos de seguir. As instituições já perceberam esta questão, mas é importante também que os cidadãos sejam apoiados e se juntem a esta causa.

Os portuenses mostram-se interessados?
Os portuenses estão, cada vez mais, despertos para esta causa. As alterações climáticas são inegáveis, também na nossa cidade. Sinto que há um aumento da literacia dos portuenses em relação às alterações climáticas e da forma como têm a perceção do fenómeno. Há uma vontade de mudança. A nossa forma de trabalhar é muito de dar ferramentas. Por exemplo, aproximar os cidadãos e os especialistas. Não é só uma responsabilidade do Município, das grandes e médias empresas. É de todos porque cada um tem impacto e acaba por influenciar todos os outros. Se espalhar a mensagem a mais duas pessoas e essas a mais duas, a cadeia vai-se exponenciando e acaba por ser interessante o movimento que se está a criar.

É um motivo de grande orgulho para os portuenses perceber que a Europa nos vê como exemplo

Não satisfeita com o trabalho que já tens foste, recentemente, nomeada embaixadora do Pacto Europeu para o Clima?
No fundo, um e outro [o do Porto e o da Europa] acabam por se cruzar porque o objetivo é comum: juntar os cidadãos, em diferentes escalas, para a neutralidade carbónica. Vou atuando muito à escala local, contribuindo também para um pensamento mais europeu. É uma rede muito interessante de mais de 800 embaixadores, espalhados por toda a Europa. Muita gente que está a chegar aos mesmos objetivos, nos vários países, com dinâmicas muito diferentes. Algumas acabam por se cruzar e conseguem desenhar estratégias conjuntas para o objetivo comum.

Nessas instituições, como é visto o exemplo do Porto?
Ele começa logo por aqui. Temos uma grande motivação para chegar ao objetivo comum. Sinto da parte do Município uma vontade de fazer diferente. Percebo que noutras cidades europeias isto não acontece. Por exemplo, aproximar os embaixadores do poder local. Então, é interessante aí afirmar que, no caso do Porto, isto não acontece. É o poder local que quer aproximar-se dos cidadãos. No Porto, é diferente e para melhor. Enquanto uma das 100 cidades inteligentes e com impacto neutro no clima da Europa estamos na dianteira. Somos um case study, exemplo que surge para todos os outros. O nosso objetivo é alcançar a neutralidade carbónica vinte anos mais cedo (em 2030) que o resto da Europa. É um motivo de grande orgulho para os portuenses perceber que a Europa nos vê como exemplo e que quer que nós, enquanto cidade, com a nossa dinâmica, mostremos como se faz e se criem as sinergias para alcançar a neutralidade carbónica.

Esta entrevista é feita, por tua escolha, nos jardins do Palácio de Cristal. Porquê?
É uma montra da cidade, um exemplo de uma área florestal com grande significado. No meu percurso de vida fui passando por vários locais emblemáticos e o Palácio Cristal junta todas as vertentes que já abordamos: a questão ambiental, aliada às várias formas de intervenção. Une isso tudo aqui: turismo, espaços verdes, uma vista magnífica para o rio Douro, as dinâmicas que acontecem, todos os dias, por estes espaços. O Palácio surge como uma interligação entre as várias vertentes que vão acontecendo na minha vida.

Sou, particularmente, apaixonada pelas ruas estreitas da cidade

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Tens tempo para descobrir a cidade?
Temos de ter método. Gostava de poder, simplesmente, perder-me por aí depois de um dia de trabalho. Sou, particularmente, apaixonada pelas ruas estreitas da cidade. É muito giro ir percebendo os seus caminhos. Não tanto quanto quero, mas vai dando para explorar e até, numa vertente mais de prática desportiva e de qualidade de vida, que sejam em diferentes zonas da cidade.

O que é o Porto para ti?
Ui…. (pausa) É um espaço de oportunidades, de crescimento e seguro. O futuro, no fundo, para a minha vida, que quero muito que passe pela cidade. São os pilares que mais revejo no Porto e que são importantes para o meu futuro.