Cultura

Jornal francês Le Monde destaca exposição "You Love Me, You Love Me Not" no Porto

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A maior das
exposições africanas de arte contemporânea está no Porto e prende atenção dos portugueses, da
imprensa nacional e internacional. É o caso do jornal francês Le Monde, que, na sua edição do passado dia 20 de março, destaca, em dois artigos, "You Love
Me, You Love Me Not" e Sindika Dokolo. O primeiro, aborda a exposição e os seus elementos artísticos;
no segundo, a jornalista Olivia Marsaud entrevista o colecionador, dono de mais de três mil peças de arte e que, através da sua fundação, dá ao
Porto a possibilidade de mostrar ao mundo as mais variadas obras de arte
contemporânea.    


Como refere
o Le Monde, as obras extraem a força dos
seus artistas, enquadradas entre uma cultura pop ocidental e uma
street art sul-africana, representando a nova geração de artistas, negros, que
se abrem ao mundo e se podem exprimir, através da arte, de uma forma livre e
aberta. Neste sentido, Sindika Dokolo expressa ao jornal francês:

"Nós, os
africanos, para encontrar a liberdade, sem ter
jamais de 'baixar as calças' aos preconceitos de racismos de tempos de outrora"
.


Olivia Marsaud questiona Sindika Dokolo sobre o porquê da escolha de "You Love
Me, You Love Me Not" para título da exposição no Porto. "O contexto é bem
específico das relações existentes entre Portugal e Angola, aliás, uma história
de fusão e estreitamento de relações como o que aconteceu entre a França e a
Argélia. Portugal viveu uma crise económica, social com uma crise dos partidos
tradicionais, alguns dos quais pró-Angola ou MPLA (Movimento Popular de
Libertação de Angola) [partido no poder ndrl] ou anti-anti-MPLA e Angola. Pela
primeira vez, e sem preconceitos, o "feito" se realizou no Porto. A cidade, numa completa abertura de cores, rejeitando a distinção entre
o "branco" e o "negro", estreita, com esta exposição, a relação com África, as pessoas, homens e mulheres
que se juntam e dizem ao mundo 'Nós amamos'"
, sublinha.

E acrescenta: "O Porto
cria duas abordagens de liberdade e respeito: por um lado, distingue o Homem,
por outro lado, estreita relações com um Povo que teve a sua História ligada ao
Porto e a Portugal"
.

O jornalista refere que esta nova abordagem realmente fez zumbido no Porto e no país e que quando Sindika Dokolo recebeu a Medalha de Mérito da cidade, por parte do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, tal facto criou um debate. O colecionador recorda: "havia dois debates. o primeiro não foi especificamente relacionado comigo, pois já tinha acontecido com Oliver Stone [realizador norte-americano condecorado por Rui Moreira]. O segundo é relativo à controvérsia em relação a Angola, um país tido como corrupto e o que tudo isso pode representar na sociedade".

   


"A expressão contemporânea mais cruel do racismo é dizer que o problema de África vem da sua elite e isso não corresponde à verdade. A exposição é uma forma de mostrar que num tempo diferente, a opacidade do sistema político enfraquece e que na arte há justiça e valor acrescentado de artistas que desenvolveram uma extraordinária capacidade de confiar em si mesmos e de ensinar ao mundo algo fundamental: que a força vem de dentro", frisa.

Na mesma
entrevista ao Le Monde, Sindika Dokolo revela que, em 2002, tinha uma coleção de
500 obras. Hoje é dono de cerca de mil peças de arte, vincando que foi graças ao
artista angolano Fernando Alvim, atual vice-presidente da Fundação Sindika
Dokolo. "Comprei em 2003, parte da coleção do alemão Hans Bogatzke, que antes
de morrer expressou a vontade de ela voltar para África", vincando que adquiriu
também obras de William Kentridge e Sue Williamson, Bernie Seale, artistas da África
do Sul, que desempenharam um papel proeminente para abrir um espaço de reflexão
no mundo da arte.


Sindika
Dokolo diz ser um interessado na arte de expressão contemporânea. "Criar um contexto
de estética e elitismo é uma forma de mudar o pensamento do mundo, quer em
questões políticas e culturais, quer nas questões morais e sociais"
, diz.

"Esta é uma forma de mostrar, que num tempo diferente, a opacidade do sistema politico
colonial era tão inaceitável, que a luta era evidente para os africanos poderem
conquistar o que todos têm de direito, a liberdade. A justiça é a
característica comum de muitas pessoas na arte em relação a África. O valor
acrescentado da minha coleção, que já lhe dá importância é a sua posição
política. Eles desenvolveram uma extraordinária capacidade de confiar apenas em
si mesmos. Eles nos ensinam algo fundamental: que a força vem de dentro. E eu
acho que falta em muitos países da África"
, acrescenta.

"You Love Me, You Love Me Not" está aberta ao público na Galeria Municipal Almeida Garrett até ao dia 17 de maio.

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