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Histórias da cidade: do glamour de outrora ao renascimento do Cinema Trindade

  • Paulo Alexandre Neves

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A história do cinema português confunde-se, nos séculos XIX e XX, com a própria história da cidade. Aqui, tudo começou pela arte e engenho de Aurélio da Paz dos Reis e houve, em tempos idos, salas emblemáticas de cinema. Venha daí conhecer um pouco dessa história.

Sente-se na primeira fila e deixe-se levar pela magia da sétima arte. Esta história passa obrigatoriamente pelo Porto. “1, 2, 3... Ação”. Certamente com estas, ou outras palavras, Aurélio da Paz dos Reis revolucionou o quotidiano da cidade quando, em 1896, decidiu filmar a saída dos operários da Camisaria Confiança, em plena Rua de Santa Catarina.

Num filme mudo, a preto e branco e durante aproximadamente um minuto vê-se o movimento quotidiano da cidade. A obra "Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança" é o primeiro filme da história do cinema português e foi filmado na Invicta.

Aqui, também no século passado nasceram salas de cinema que viriam a constituir-se como património e imaginário da cidade. Em plena comemoração do quinto aniversário do rejuvenescido Cinema Trindade recuemos a 1913. Na altura como Salão Jardim da Trindade. Era uma sala de espetáculos que incluía, para além de cinema, um salão de festas, café, bilhares e terraço.

Sala para 1200 lugares

A sala tinha capacidade para cerca de 1200 lugares. Destacava-se, entre outras coisas, pelo seu projetor, capaz de rodar até 180 graus, o que permitia a exibição de filmes no terraço. O sucesso foi tão grande que, em 1957, o espaço foi remodelado, criando-se uma plateia e balcão de cinema. Projeto a cargo dos arquitetos Viana de Lima e Agostinho Ricca.

A partir de então, ficou apelidado de Cinema Trindade. Viria a sofrer novas intervenções nos anos 90 do século passado para criação do bingo. Já um prenúncio da crise que afetava o cinema e que, em 2000, teve o desfecho que muitos esperavam: tal como muitos outros espaços históricos localizados na baixa, o Cinema Trindade não sobreviveu ao declínio e viu-se obrigado a fechar as portas.

Pelas mãos de Américo Santos, fundador da Nitrato Filmes, o Cinema Trindade viria a abrir portas 17 anos mais tarde. Assim, a partir de 5 de fevereiro de 2017, a cidade volta a ter uma oferta cinematográfica diferente, com duas salas e quatro sessões diárias em cada, aberto todos os dias da semana. Privilegia-se o cinema independente e de autor, mas é também palco para filmes de grandes estúdios.

Memórias de outros cinemas

Como anteriormente referido, eram muitas as salas de cinema existentes no Porto no século passado. Aqui deixamos algumas das principais e que um dia foram o palco principal da cultura da cidade, também elas com muitas histórias para contar:

Águia D’Ouro – inicialmente café transforma-se, em 1908, em sala de cinema. Foi aqui inaugurado o cinema sonoro, em 1930, com o filme “All That Jazz”, com Al Jolson.

Sá da Bandeira – a sua história remonta a 1855, mas é só em 1870 que se ergue o teatro, na altura apelidado de Teatro-Circo Príncipe Real. Foi aqui que passaram os primeiros filmes portugueses de Aurélio da Paz dos Reis, a 12 de novembro de 1896. Em 1910, depois da implementação da República, muda-se o nome para o atual Teatro Sá da Bandeira.

Olympia – localizado na Rua de Passos Manuel, abriu portas em 1912 com o nome Olympia Kinema Teatro. Uma casa criada pelo mesmo arquiteto responsável pelo Café Majestic e que primava pela elegância e charme.

Cine-Teatro Vale Formoso – inaugurado em 1949 rapidamente tornou-se um espaço de referência na cidade entre os anos 50 e 70. Como se verificou noutras salas, também esta não aguentou a crise que se vivia na cidade e fechou as portas nos anos 90 do século passado.

Também conhecidas e com história eram o Cine-Foz, entretanto demolido, e o Cinema do Terço, inaugurado em 1965 e composto por uma sala ao ar livre. O aumento das visitas e consequente aumento de receitas permitiu a construção de uma sala coberta. Foi também demolido para dar lugar a um parque de estacionamento.

Mas houve também o Cinema Júlio Deniz ou o Estúdio Foco, entre muitos outros.