Sociedade

Histórias da cidade: a mais antiga igreja do Porto é consagrada a S. Martinho

  • Porto.

  • Notícia

    Notícia

fib_igreja_sao_martinho_de_cedofeita_01.JPG

Filipa Brito

O verão de S. Martinho convida a conhecer a mais antiga igreja do Porto, consagrada precisamente ao soldado cuja generosidade virou lenda, e que todos os anos é celebrado com magustos e dias de sol.

No dia 11 de novembro são tradicionais as castanhas assadas, mas também os dias de sol a amenizar as temperaturas baixas que normalmente se fazem sentir nesta altura do ano. É o chamado verão de S. Martinho, em referência à lenda do soldado romano com esse nome que, num dia frio, cortou a capa a meio para cobrir dois mendigos com quem se cruzou, vendo repentinamente, como por milagre, o céu abrir-se e a tempestade afastar-se, dando lugar aos raios de sol.

No Porto há um motivo adicional para celebrar S. Martinho, porque a mais antiga igreja da cidade é consagrada a esta figura. A Igreja Românica de Cedofeita, também referida como Igreja de S. Martinho de Cedofeita, está desde 1910 classificada como Monumento Nacional. Mas a sua história teve início muitos séculos antes.

Houve um longo caminho anterior até que a igreja de Cedofeita adquirisse o aspeto que tem hoje. Pelo menos dois templos antecederam a atual construção românica da Igreja de São Martinho de Cedofeita, nota a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), detalhando: “Os vestígios mais recuados atualmente conservados datam de finais do século IX ou inícios do seguinte. Na sequência da presúria do Porto por Vímara Peres, em 868, aqui se (re)construiu um templo, de que restam os dois capitéis do arco triunfal, reaproveitados posteriormente na obra românica.”

A construção primitiva, provavelmente do período suevo, estará ligada à origem toponímica local. Segundo a lenda, o templo foi construído com tal rapidez que era referido como “cito facta”, que significa “feita em pouco tempo”. O original latino deu origem à expressão que derivou em Cedofeita.

“Mas antes de se proceder à construção românica que hoje subsiste existiu uma campanha do século XI, com certeza patrocinada pelo Bispo de Braga, D. Pedro, que chegou mesmo a sagrar o templo em 1087”, acrescenta a DGPC. A esta etapa do desenvolvimento do templo seguiu-se a “fase plenamente românica”, que “aconteceu já em época bastante tardia, na viragem para o século XIII”, assinala aquele organismo.

Esta igreja é distinta não apenas pela sua antiguidade. “Possui uma importância acrescida que lhe advém do facto de ser a única que se apresenta totalmente coberta por uma abóbada em pedra”, realça a Infopédia, o serviço online de conteúdos da Porto Editora. No contexto da História da Arte românica nacional, a DGPC destaca a igreja de Cedofeita como “uma das construções de referência para o chamado Românico tardio do Douro Litoral.”

O templo seria objeto de uma intervenção profunda de restauro, na década de 1930, como atestam as imagens de Guilherme Bonfim Barreiros depositadas no Arquivo Histórico. Enquadrada no Largo do Priorado, rodeada de árvores, a Igreja Românica de Cedofeita resiste como um testemunho de intemporalidade no coração do Porto.