Sociedade

Alguns dos autores mais interessantes da literatura moderna vêm à Feira do Livro para levantar questões

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"A minha mãe não acreditava que o Bem triunfava sobre o Mal; ela acreditava que o Belo triunfava sobre o Mal". Esta foi uma das memórias de Sophia de Mello Breyner evocada pelo seu filho, Miguel Sousa Tavares, na abertura dos debates da Feira do Livro do Porto.

O início da noite de ontem foi dedicado a Sophia, com o primeiro de oito debates que vão realizar-se ao longo do certame, até ao próximo dia 17, a sobrelotar o Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Programados por José Eduardo Agualusa, estes encontros pretendem cumprir a missão e ambição da grande literatura: "Levantar questões" e provocar "inquietação".

Para tal, o autor lusófono lembrou que este ciclo trará à Feira do Livro do Porto "alguns dos nomes mais interessantes da literatura moderna", cujos nomes e datas de presença pode confirmar aqui.

Entre eles, estão o próprio Miguel Sousa Tavares, Ana Luísa Amaral e Frederico Lourenço, que conversaram sobre a vida e a obra de Sophia nesta sessão inaugural, integrada também no ciclo municipal Um Objeto e Seus Discursos por Semana, sob moderação de Anabela Mota Ribeiro que intervalou com a leitura de alguns poemas da homenageada.

Na sequência da também muito concorrida cerimónia ocorrida ao final da tarde, com atribuição de uma tília na Alameda dos Escritores, no Palácio de Cristal, este debate cruzou memórias ("Não sou só o filho da Sophia; também sou o filho da minha mãe", diria Miguel Sousa Tavares num dos momentos de emoção) com interpretações de poemas da autora nascida no Porto e, ainda, com a reflexão sobre os sentidos de humanismo e de justiça social que também caracterizaram Sophia de Mello Breyner, a par da importância do marido, Francisco Sousa Tavares, sobre a sua poesia. Este último "pormenor" foi mesmo pretexto para Anabela Mota Ribeiro ler "Porque", um intenso poema que nem todos sabem ter sido dedicado por Sophia ao marido.

Alguns episódios curiosos foram igualmente recordados, bem como a influência da natureza em toda a obra de Sophia, sendo ocasião para o filho revelar que "ela dizia-me sempre para abrir os olhos debaixo de água para ver melhor o mar". Mas tudo, neste debate, ia dar ao bem maior que Sophia nos deixou: "A minha mãe era poeta de manhã à noite. E não escrevia só; também recitava".

Muito mais para oferecer aos visitantes

Entretanto, o ciclo programado por Agualusa prossegue hoje mesmo com mais duas sessões de acesso livre. Pelas 16 horas, José Luís Peixoto e e Patrícia Reis conversam sobre "O Sagrado e o Profano na Literatura", sob moderação de João Paulo Sacadura. Recorde-se que José Luís Peixoto lançou em 2015 "Em teu ventre", romance centrado nas aparições de Fátima, e que o universo da escrita de Patrícia Reis engloba temas como o mistério, o intangível e as relações familiares.

Ao fim da tarde, chega à feira do Livro a premiada autora coreana Han Kang ("A Vegetariana") para ser questionada sobre a sua obra por José Mário Silva. A sessão, com início às 19 horas e tradução simultânea, tem por tema "A solidão do oriente" e constitui uma rara oportunidade para escutar uma das vozes mais originais da nova literatura acerca da situação da mulher numa sociedade conservadora, a solidão e a loucura. Han Kang falará também das suas influências literárias e das ligações entre oriente e ocidente através dos livros.

Paralelamente, os programas educativo e de animação multiplicam diariamente as atividades de acesso livre para todas as idades, desde sessões de spoken word a lições sobre alguns dos mais importantes autores de língua portuguesa (saiba mais aqui). 

No âmbito da Feira do Livro, e interrelacionadas com a temática do universo literário de Sophia, estão patentes duas exposições na Galeria Municipal do Porto, no Palácio de Cristal. Trata-se de Quatro Elementos e de O Anjo de Timor e outras histórias - ilustrações para Sophia,  ambas de acesso livre.

Há também cinema e, na noite de hoje, Diogo Costa Amarante apresenta "O Sacrifício / The Wicker Man" (Reino Unido, 1973) de Robin Hardy, uma parábola subliminar sobre a natureza do sacrifício (tanto no paganismo como no cristianismo) e que se tornaria num filme de culto.

Além de atrativos como as sessões de autógrafos e os Livros do Dia (de que pode saber detalhes neste site), encontros, teatro, colóquios, oficinas para crianças e adultos, espetáculos de música, jogos e muito mais fazem ainda parte da programação que está toda aqui. E pode optar por acompanhar a Feira do Livro através do facebook.