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Papel do Turismo e do Comércio na evolução do Porto foi a debate coletivo

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A pegada turística, a identidade do Porto, o comércio e a evolução de uma cidade foram debatidos na última sessão deste ano do ciclo "Porto - Conversar a Cidade", que levou um autarca, um historiador e um arquiteto a exporem as suas perspetivas, ao final do dia de ontem, no Palácio da Bolsa.

Tendo por tema "Singularidades de uma cidade genuína - a identidade única que prevalece", a sessão, que teve trasmissão em direto no canal "Porto." no youtube, lançou pistas de reflexão sobre o contributo do turismo e do comércio na construção da cidade, nomeadamente com as duas dimensões podem atuar de forma integrada na evolução do Porto.

Sob moderação de Paula Arriscado, do Grupo Salvador Caetano, cada um dos três oradores convidados focou-se, porém, numa temática específica, tendo o "Porto - um futuro agregador e genuíno" sido explorado pelo vereador Ricardo Valente, que explicou como é possível criar políticas que sejam atrativas para turistas, investidores, empresas e portuenses, salientando desde logo que esse é o objetivo da atual equipa de gestão autárquica. Que, como frisou, está empenhada em fazer da cidade "um território inclusivo, de partilha, com espaços verdes, com pessoas, com negócios, com comércio, com empresas, com turistas (que são residentes temporários), com empresas.

Para Ricardo Valente, "a questão, como na casa de cada um, não é visitarem-nos, mas como nos visitam" pois "estas pessoas têm de ter um comportamento compatível com a nossa forma de estar. É isto que nós temos de construir, mas temos de construir todos, em conjunto, e o papel da Câmara é defender este caráter identitário".

Por sua vez, o historiador César Santos Silva, perante a possibilidade ds estas novas dinâmicas e modernização poderem chocar com a identidade e o património histórico, defendeu que "o passado é a chave do futuro e temos de ver qual foi o nosso percurso histórico para chegarmos onde chegámos". Ora, "o Porto foi a cidade da indústria, e muitas pessoas com responsabilidades lançam estigmas sobre o turismo, falam do Porto industrial. É? Querem ir por aí? O Porto industrial trouxe-nos as ilhas, trouxe-nos a tuberculose, o tifo, a bubónica, a pneumónica... O dr. [médico] Ricardo Jorge chamou ao Porto 'a minha cidade cemiterial'... E ainda hoje a tuberculose tem números elevados, por comparação com o resto do país".

Além disso, nos censos de 2011, a Rua de 31 de Janeiro tinha 9 habitantes, era complicado andar à noite na cidade. "E é com esta decadência urbana que somos confrontados no início do século XXI. Ora, o turismo é a indústria do século XXI. Todos sabemos os seus lados também negativos e perversos (o bullying sobre os idosos, a pegada turística, a exigência de recolha de lixo mais rápida e eficaz...). Mas não consigo perceber alguns discursos que leio, até de pessoas reponsáveis, tornando o turismo uma espécie de anátema ou estigma. Se não fosse o turismo onde é que nós estaríamos? Numa das cidades mais decadentes da Europa Ocidental", assegurou.

César Santos Silva destacou que "apesar de tudo", o turismo trouxe emprego e recuperação urbana. "Podemos questionar alguma dela, como a do fachadismo, mas é desonesto a nível intelectual só olhar para o lado que nos interessa, seja o bem ou seja o mal" porque, em jeito de balanço, "o turismo é a salvação económica e demográfica da cidade".

O equilíbrio que o historiador foi referindo ser também necessáro manter, ou seja, de modo a evitar que o turismo passe a ser problema em vez de solução, foi igualmente um dos aspetos apontados pelo arquiteto Pablo Rebelo (do gabinete de arquitetura Pablo Pita Architects), que defendeu a preservação do património histórico como "mais-valia para o futuro".

Na sua opinião, arquitetura, pessoas, costumes, cultura e gastronomia são pilares da identidade de uma cidade, destacando-se "a arquitetura e a gastronomia por terem um papel mais iconográfico". E exemplificou: vê-se a Torre dos Clérigos ou uma "francesinha" e "sabemos que estamos a falar do Porto".

No entanto, a identidade é algo em constante mudança e evolução, pelo que, referindo um dos projetos em que o seu gabinete está envolvido - o das ligações mecanizadas na zona antiga da cidade - Pablo Rebelo considerou que o arquiteto precisa de ter sensibilidade para assumir a responsabilidade que tem de manter esse equilíbrio entre renovação, inovação e identidade.

Veja aqui o integral do debate em vídeo: