Cultura

Autora coreana Han Kang veio à Feira do Livro falar dos processos de escrita

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Catapultada para o top das listas de vendas do seu país com "A Vegetariana" e, na sequência, com a conquista do prémio Man Booker International Prize, a escritora sul-coreana Han Kang esteve ontem na Feira do Livro do Porto para uma concorrida sessão de debate em que se confessou ao jornalista e crítico literário José Mário Silva.

Na semana em que o seu segundo romance mais conhecido - "Atos Humanos" - conhece a tradução portuguesa, esta filha e irmã de escritores, que se estreou com poesia aos 23 anos, enquadrou ambas as obras com pormenores mais íntimos sobre o seu processo de escrita.

Trata-se de dois romances, sendo que o primeiro foca uma desgraça individual e o segundo uma desgraça coletiva. No caso de "A Vegetariana", que José Mário Silva apontou como "um livro bizarro", Kang contrariou a ideia de que se trata de uma obra sobre a sociedade coreana. "Tem a ver com a individualidade, que é uma questão universal", afirmou a propósito do drama vivido por uma mulher que decide tornar-se vegetariana e enfrenta as críticas de toda a gente, desde logo da família, por chegar a pôr a própria saúde em risco.

Questionada por um elemento do público, a autora comentou que "eu fui vegetariana alguns anos, mas concluí que se quisesse escrever tinha de comer mais. Foi uma escolha difícil".

Falou igualmente sobre  "Atos Humanos", onde recupera o massacre perpetrado pelo exército contra a sublevação popular antiditadura, na cidade onde viveu a infância e que deixou quatro meses antes do episódio. Tornada praticamente tabu no país, a história foi recuperada para livro por Han Kang, que encarna um personagem: "Quis usar-me como ponte entre a ficção e o real, mas é a primeira vez - e provavelmente a última - em que entro numa obra minha", confessou. E acrescentou ter sido surpreendida pela reação do público pois, em vez de críticas por falar de um assunto proibido, foi elogiada pela sua coragem. "As pessoas queriam recordar!", disse.

Por outro lado, "quando eu escrevo não penso nos leitores; só em acabar o livro", reconheceu ainda, não deixando de considerar "estranho saber que há tantas pessoas a ler os meus livros em tantas línguas", também agora que "Atos Humanos" entrou para a lista de best-sellers.

O próximo debate do ciclo programado por José Eduardo Agualusa para a Feira do Livro do Porto realiza-se no próximo sábado e vai questionar se "A literatura pode salvar o mundo", contando com as respostas de Tatiana Salem Levy e Dulce Maria Cardoso, sob moderação de Raquel Marinho.

Teju Cole, Isabel Lucas, Bruno Vieira Amaral, Djaimila Pereira de Almeida, Carlos Vaz Marques, Laurent Binet, Ana Sousa Dias, Alexandra Lucas Coelho, Gonçalo M. Tavares e Luís Caetano são outros nomes que irão também marcar presença no certame, cuja programação pode consultar no Jornal da Feira do Livro do Porto 2017.

Pode ainda acompanhar diariamente a programação através da página do facebook.