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A Brasileira já faz o seu charme em Sá da Bandeira

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A Brasileira reabriu, depois de cinco anos encerrada e de obras profundas que, 115 anos depois de inaugurada, lhe devolvem todo o seu charme. O famoso café está agora situado por baixo de um hotel do Grupo Pestana, cuja obra de reabilitação permitiu devolver à cidade um dos seus mais glamorosos espaços.

A Brasileira foi ontem re-inaugurada, contando a cerimónia com a presença dos promotores (o antigo Selecionador Nacional António Oliveira e o seu filho), dos responsáveis pelo Grupo Pestana e da Mota Engil, responsável pela empreitada. O Presidente da Câmara e o Bispo do Porto presidiram, respetivamente, à cerimónia cilvil e à cerimónia religiosa que se realizou no dia em que o café comemorou 115 anos de existência.

A zona de Sá da Bandeira é a que mais projetos de reabilitação tem conhecido na cidade, estando em curso a reabilitação total do quarteirão da antiga Casa Forte, a reabilitação do Mercado do Bolhão e dezenas de outras obras que estão a devolver à cidade um dos seus eixos mais fundamentais que, há poucos anos, se encontrava praticamente em ruína.

A administração do Grupo Pestana e os empresários da família Oliveira elogiaram a Câmara do Porto pela forma como tem permitido e incentivado este processo de regeneração da cidade.

Rui Moreira devolveu os elogio, dizendo que à Câmara cabe, sobretudo, não emperrar a iniciativa privada e mostrou-se satisfeito pela qualidade do trabalho realizado por uma empresa de construção do Porto, "e isso não é uma coisa qualquer", disse.

O estabelecimento foi fundado por Adriano Soares Teles do Vale, nascido na Casa de Cimo d'Aldeia, em Alvarenga (Arouca), no concelho de Arouca, na Área Metropolitana do Porto. Ainda jovem, Adriano emigrou para o Brasil. Era pai de Inocêncio Galvão Teles. No Brasil, dedicou-se ao negócio do café, com o que enriqueceu nos finais do século XIX. Casou no Brasil com uma filha de fazendeiros no Estado de Minas Gerais, onde se dedicou à fundação de um estabelecimento comercial inicialmente chamado "Ao preço fixo", que incluía, também, casa de câmbios, e à produção agrícola, em particular de café, que exportava para Portugal. Regressando a Portugal por motivos de saúde da mulher, que acabaria por cá falecer, criou uma rede de pontos de venda do café que produzia e importava do Brasil: as famosas "Brasileiras", espalhadas por Lisboa (Chiado e Rossio), Porto, Braga, Aveiro, Coimbra e Sevilha. Adriano Teles foi, também, um homem de cultura, com interesse pela música e pela pintura. Fundou a Banda de Alvarenga, financiando a compra dos seus primeiros instrumentos, e fez, da Brasileira do Chiado, o primeiro museu de arte moderna em Lisboa. No Brasil, ainda no século XIX, teve, ainda, passagem pela imprensa e pela política, tendo sido vereador da Câmara da cidade onde casara e se estabelecera.

De regresso ao Porto, montou uma torrefacção e fundou "A Brasileira", inaugurada a 4 de Maio de 1903, para servir café à chávena. Não havia na cidade, por essa altura, o hábito de tomar café em estabelecimentos públicos. Adriano Teles, para promover o seu produto, ofereceu, durante os primeiros treze anos de "A Brasileira", o café à chávena de graça no seu estabelecimento a quem comprasse um saquinho de grãos de café.

Numa visão do que, hoje, poderíamos chamar de marketing, Adriano Teles mandou pintar, em várias paredes da cidade, o slogan que se tornaria famoso: O melhor café é o d'A Brasileira

Fechado em 2013 e depois de uma intervenção de reabilitação e reconstrução profunda reabre com cafetaria, restaurante e hotel Pestana cinco estrelas.