Sociedade

Histórias da cidade: Chafariz de S. Miguel (ou do Anjo), mais um legado de Nasoni

  • Paulo Alexandre Neves

  • Notícia

    Notícia

DR_chafariz_s_miguel.jpg

DR

O Terreiro da Sé é rico em património edificado. Entre muitos outros exemplares arquitetónicos encontra-se o Chafariz de S. Miguel (ou do Anjo), construção do século XVIII, atribuída a Nicolau Nasoni. Curiosamente, esta fonte, perfeitamente enquadrada no conjunto da catedral, é considerada por muitos estudiosos como uma das obras menores do arquiteto e pintor italiano.

No Porto, a construção de fontes e chafarizes foi sendo realizada, em termos públicos, a partir do século XVI e até finais do século XIX. Agostinho Rebelo da Costa, na sua "Descrição topográfica e histórica da cidade do Porto", de 1788, escreve que atravessavam "esta cidade muitos ribeiros de água, que servem, uns, para lhe levarem as imundícies, e tal é o chamado rio da Vila, outros para neles se lavar roupa e moverem com as suas correntes várias rodas de moinhos e azenhas". E continua: "é copiosíssimo o número das fontes, chafarizes e poços de água nativa e pura, que servem de uso e regalo a todas as famílias. Os poços excedem o número de 2000 […] o número das fontes públicas passa de cem".

Curiosamente, a Câmara Municipal chegaria mesmo a criar, em 1732, um cargo municipal que zelaria pela limpeza dos chafarizes, das fontes e dos tanques da cidade, tendo, na altura, nomeado 12 membros do povo para esta tarefa.

Construção em pedra de Ançã e ferro forjado

É neste contexto que aparece o Chafariz de S. Miguel. Adossado à parede da Casa do Despacho da Sé nem por isso desmerece o génio artístico de Nicolau Nasoni. Inicialmente encontrava-se no Largo da Sé, debaixo do Arco da Vandoma, tendo sido deslocado para a atual localização, na calçada de D. Pedro Pitões, durante alguma das reformas feitas naquela zona, no século XIX.

A fonte é constituída por um espaldar curvo, arrematado por duas urnas nas extremidades, e encimado por uma grade de ferro forjado. Ao centro contém uma coluna, que apresenta alguma decoração, sendo coroada com uma imagem de São Miguel, em pedra de Ançã, a segurar uma espada e um escudo, pisando o demónio. No centro do espaldar, encontra-se uma urna em médio relevo, onde está uma torneira, na vez da bica, que verte a água para uma taça assente num pedestal.