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Uma letra que faz a diferença: projeto (D) de Eficiência colocou frente a frente candidatos a emprego e empresas

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A atividade final da terceira edição do projeto (D) de Eficiência decorreu nesta quarta-feira, tendo proporcionado entrevistas de emprego aos 20 candidatos selecionados. Foi o culminar de um percurso de preparação e capacitação que os deixou “otimistas e mais bem preparados”, confessam. Mais de duas dezenas de empresas demonstraram interesse em conhecê-los, com vista a preencher vagas em aberto.

O auditório principal do centro de formação do Instituto do Emprego e Formação Profissional no Cerco do Porto fervilha de atividade. A intervalos regulares soa uma campainha, que faz lembrar os tempos de escola, e várias pessoas terminam a conversa que estavam a ter. Apressam-se a trocar de mesa para o próximo compromisso, seja na mesa que está ao lado ou numa mesa no lado oposto da sala – ou então saem do auditório para fazer uma pausa.

A jornada de entrevistas curtas de recrutamento que encerrou a terceira edição do (D) de Eficiência colocou frente a frente candidatos e empresas: com agendas mais ou menos preenchidas, os 20 candidatos com alguma forma de incapacidade selecionados para participar no projeto deram-se a conhecer às 22 empresas escolhidas para marcarem presença no evento.

Antes das entrevistas houve uma fase inicial de preparação tendo em vista o mercado de trabalho atual: o Programa de Capacitação contribuiu para o desenvolvimento de competências de gestão de carreira, incluindo sessões dedicadas a temas variados, como a definição de objetivos profissionais; gestão de tempo; gestão de expectativas; imagem e apresentação pessoal; ou simulação de entrevistas.

“Este programa ajudou-me a estar bem mais preparada [para as entrevistas]. Como é em formato presencial, ajuda. A minha primeira foi online e não correu lá muito bem, mas graças a este programa consegui ter uma segunda oportunidade e ter acesso a estas entrevistas”, reconhece Alexandra Aguiar.

Após ultrapassar a timidez inicial, a candidata conta que a simulação de entrevistas foi particularmente útil: “Tivemos de simular que íamos fazer uma empresa, e tínhamos de pensar que papel teríamos nessa empresa. É uma espécie de pequena entrevista, por isso alguns conseguiram integrar-se mais facilmente, outros tiveram de usar a criatividade para se conseguir integrar.”

“Estou à procura de trabalho desde 2020, foi quando acabei a minha pós-graduação, mas depois rebentou a pandemia”, recorda Alexandra. “É a primeira vez que participo neste projeto e estava um bocadinho nervosa ao início. Mas percebi que, à medida que eu falava nas entrevistas, os meus nervos dissipavam-se. Os entrevistadores são muito simpáticos e esta experiência foi muito boa, não só para as minhas capacidades comunicativas, como também para um possível trabalho futuro”, conclui.

O otimismo de Carla e Peter

A agenda de Carla Oliveira esteve particularmente preenchida: “Tenho 11 entrevistas hoje”, diz a candidata, agradada com a experiência “nova, diferente, e incentivadora”. Os contactos que já tinha tido com empresas presentes na atividade final da terceira edição do projeto (D) de Eficiência deixaram-na satisfeita. “Correram bem, não podiam correr melhor”, considera, traçando a diferença para experiências anteriores no mercado de trabalho: “Estas entrevistas foram abordadas de forma diferente.”

“Estou à procura de trabalho desde janeiro. O número de candidatos é sempre bastante elevado, por essa razão tem sido difícil ser contratada”, explica Carla, que retirou ensinamentos valiosos do Programa de Capacitação. “A forma de elaboração do currículo e saber o que poderíamos responder na entrevista, conforme as perguntas que os entrevistadores nos colocassem”, foram apontados como alguns dos temas mais esclarecedores.

Há dois anos que Peter Odeyale procura trabalho – mas, apesar dessa busca prolongada, o seu ânimo não se deixa abater. “Fiz um mestrado, tenho experiência, e esta é uma boa oportunidade para mim. Espero encontrar um trabalho”, confessa.

“Preparei-me sempre para qualquer entrevista, mas é sempre a empresa que decide. Mas acredito que o meu tempo é agora. Hoje eu vou conseguir. Estou otimista”, acrescenta Peter, reconhecendo a importância do projeto (D) de Eficiência: “As sessões em que participei ajudaram-me bastante. Contribuiu para ter uma visão do que as empresas procuram e vão querer ver no candidato. Tem sido muito bom para mim.”

Valor acrescentado na inclusão

A equipa que dinamiza o projeto – e que inclui diferentes instituições, em parceria, desde a Câmara do Porto ao Instituto do Emprego e Formação Profissional, Associação Empresarial de Portugal, Associação do Porto de Paralisia Cerebral e Associação Salvador – selecionou um conjunto de 22 empresas para estarem presentes na atividade final do (D) de Eficiência. Os objetivos das companhias passam não só por preencher vagas em aberto, mas também por sinalizar candidatos para futuras oportunidades.

“Estamos presentes em nome do programa Talento Jovem, ao qual pertencemos, mais propriamente em estágios profissionais e estágios de inserção, mas também estamos em nome de todas as empresas e recrutadores do grupo”, explica Bárbara Moreira, representante do grupo Salvador Caetano.

“Todos os candidatos representam valor acrescentado, até pelo motivo de serem pessoas diferentes e pessoas com quem podemos aprender e ensinar conhecimento. Temos imensa responsabilidade social e de inclusão. Tentamos sempre estar presentes e admitir pessoas que realmente tenham vontade de trabalhar, e sobretudo de aprender e experimentar novas funções”, acrescenta.

Beatriz Carvalho é uma das caras da Job Impulse – multinacional alemã especializada em trabalho temporário – no evento. “O nosso lema é que levamos as pessoas ao sucesso, queremos conseguir a melhor correspondência possível entre os candidatos que temos e os clientes que temos”, começa por sublinhar.

“É a primeira vez que estamos presentes nesta iniciativa. Passaram aqui diversas pessoas com experiências diferentes. Muitas delas com algumas dificuldades, mas o nosso objetivo é sermos uma empresa o mais integrada possível, tanto em termos de candidatos como de clientes”, frisa Beatriz, concluindo: “As empresas têm de tomar cada vez mais medidas adaptativas para este tipo de população. A legislação tem vindo a ajudar bastante, tem aberto caminho, mas também é preciso abrir a mentalidade de alguns clientes. É ainda a parte principal e tem caminho para ser feito.”

O projeto (D) de Eficiência teve início em 2019, com o objetivo de valorizar e promover as competências de empregabilidade das pessoas com deficiência e incapacidade. Desenvolve-se em duas dimensões, da capacitação dos candidatos à captação e a sensibilização das empresas, promovendo a aproximação mútua em eventos de recrutamento.