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"Um Objeto e Seus Discursos" apresentou a terceira edição à volta das "Tripas à Moda do Porto"

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Abriu, ontem, sábado, dia 5 de março, a terceira edição de "Um Objeto e Seus Discursos Por Semana". O primeiro objeto de 2016 foi o típico prato "Tripas à Moda do Porto". A sessão decorreu na Cantina dos Trabalhadores da autarquia e juntou dezenas de participantes. À conversa estiveram Joel Cleto, Carlos Tê e Pedro Lemos.

Reza a lenda que o Infante D. Henrique, precisando de abastecer as naus para a Tomada de Ceuta em 1415, pediu aos habitantes da cidade do Porto todo o género de alimentos. As carnes disponíveis foram então limpas, salgadas e acamadas nas embarcações, ficando a população sacrificada com as ditas miudezas. Foi com elas que os portuenses tiveram que inventar alternativas alimentares, surgindo assim as "Tripas à Moda do Porto", que acabariam por se perpetuar e tornar num dos elementos gastronómicos mais caraterísticos da cidade.

Para além deste, existem ainda mais dois acontecimentos históricos lendários que carregam na sua génese o "sacrifício da cidade por um bem maior" ao disponibilizar toda a carne e ficar com as partes consideradas "menos nobres". São eles o "Cerco do Porto" no século XIX e a Crise de 1383-85 com a subida ao trono português de um filho ilegítimo, o Mestre de Avis.

Contudo, a "lenda" que mais provavelmente explica a origem das "Tripas à Moda do Porto" reside nos suevos, um grupo de povos germanos que estiveram no Porto, durante as invasões bárbaras.

"Tudo isto são lendas", como explica Joel Cleto, "ideias construídas ao longo dos tempos que tentam explicar o porquê de tal acontecimento". Para o historiador, todos os três acontecimentos que, lendariamente, estiveram na génese da invenção deste prato passam uma outra ideia: simbolizam os diversos sacrifícios que os portuenses sempre fizeram, um povo que sempre deu tudo o que tinha em prol de um ideal comum e do bem maior.

Também Carlos Tê entende que, o que deste prato sobressai é a questão identitária dos habitantes do Porto. Os "tripeiros" orgulhosamente apelidados que, ao longo dos últimos anos têm vindo a sobrepor-se ao "provincianismo" pelo qual sempre foram caraterizados. A mesma opinião é partilhada por Pedro Lemos, para quem "comer tripas" faz parte do ser portuense e segundo o qual, existe cada vez mais na arte da culinária, o respeito pelo sacrifício do animal ao utilizar-se na cozinha todas as suas carnes e vísceras.

Como não poderia faltar, no final da conversa, as dezenas de participantes presentes nesta sessão, foram convidados a degustar esta tradicional iguaria da cidade, confecionada pelo Grupo Desportivo Limpeza Urbana, fundado em 1971.

De relembrar que esta terceira edição do programa "Um Objeto e Seus Discursos Por Semana" se realizará todos os sábados, pelas 18 horas, até ao dia 10 de dezembro. Serão, ao todo, 34 sessões que irão cruzar o património municipal com o de outras instituições privadas, parceiras da iniciativa.

No seu discurso introdutório, Rui Moreira, salientou que esta é uma iniciativa que, na sua "simplicidade concetual e frugalidade organizativa, se conseguiu transformar num veículo particular de reativação patrimonial, de descoberta do território urbano e de ligação à identidade cultural, passada e presente".

 

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"Um Objeto e Seus Discursos Por Semana"