Sociedade

"Fuga de cérebros" em Portugal

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Que motivos levaram um número crescente portugueses altamente
qualificados a emigrar na última década? Como têm evoluído estes fluxos
migratórios e qual o seu impacto no sistema científico e de ensino
superior português? Estas foram algumas das questões que uma equipa de
 investigadores das universidades do Porto, Coimbra e Lisboa procurou
responder no âmbito do projeto "Brain Drain and Academic
Mobility from Portugal to Europe" - BRADRAMO, cujas conclusões foram apresentadas no dia 18 de setembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) 
durante a Conferência Internacional "Fuga de cérebros: a mobilidade académica e a
emigração portuguesa qualificada".


Coordenado por Rui
Gomes, da Universidade de Coimbra, e desenvolvido por uma
equipa pluridisciplinar onde se destacam os contributos do Instituto de Sociologia da
U.Porto  (ISFLUP) e
do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP),
este estudo lança um retrato inédito sobre a emigração qualificada portuguesa.
Para isso, foi analisada uma amostra de 1101 portugueses detentores de um
diploma do Ensino Superior, que estivessem a trabalhar ou a residir noutro país
europeu, ou que o tivessem feito nos seis anos anteriores.


Para além de
mostrar que a maioria dos emigrantes qualificados são jovens e detentores de
cursos pós-graduados (74,5%), o estudo revela que, se 36,1% dos
inquiridos estavam desempregados quando saíram de Portugal, apenas 3,8% se
encontram nessa situação no país de destino. A equipa de investigadores
detetou também alterações decorrentes da emigração ao nível dos rendimentos.
Mais de 70% dos inquiridos recebiam, em Portugal, um salário inferior a 1000
euros, ao passo que mais de metade passou a auferir de um montante
superior a 2 mil euros no país de destino.


Para a maior
parte dos inquiridos, a emigração trouxe mais oportunidades de exercer uma
atividade profissional relacionada com a sua formação académica
(passou de 54.1% em Portugal, para 75.1% no país de acolhimento). Por outro
lado, constata-se que em Portugal "o reconhecimento formal de competências e de
recursos organizacionais não encontra uma clara correspondência nos níveis de
remuneração, nem tampouco nas possibilidades de carreira", notam os
investigadores.


A decisão de
emigrar tem, por isso, nas razões profissionais e económicas o seu principal
impulso: prosseguir uma carreira em que se sintam realizados profissionalmente
surge para 95.4% dos inquiridos como a razão principal que os leva a emigrar.
As razões salariais e a situação de desemprego ou de subemprego também
revelam um peso muito importante na decisão de sair de Portugal (80.6%),
secundarizando as razões afetivas (reunificação familiar, presença de
redes amicais nos países de destino, etc.).


A maioria dos
inquiridos refere ainda que "a mobilidade começou por ser projetada como
solução transitória, mas a experiência entretanto vivida mudou os planos para
uma perspetiva de emigração de médio ou de longo prazo". Muitos projetam-se
mesmo numa emigração para "toda a vida" no atual país de residência ou em
outros países europeus.


Estes e outros
resultados do estudo serão apresentados e discutidos  numa conferência que
vai reunir investigadores portugueses e internacionais especialistas na
área,  bem como representantes de diversas associações de emigrantes
portugueses (ASPPA - Alemanha; AGRAf - França; PARSUK - Reino Unido) e de
portugueses qualificados que residem em diversos países europeus. Pelo
Auditório da FLUP deverão também passar representantes da Direção-Geral
dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, do SNESup, deputados
representantes do Bloco de Esquerda e da CDU, representantes de associações de
profissionais, entre outros.


À margem
da apresentação dos resultados, o evento vai acolher o pré-lançamento do
livro "Fuga de cérebros: retratos da emigração portuguesa qualificada", no qual
se combinam 20 retratos sociológicos de emigrantes qualificados.  O
programa inclui ainda a apresentação do espetáculo de teatro «O meu país é o
que o mar não quer», peça documental inspirada na experiência vivida
por Ricardo Correia durante a sua estada em Londres em 2013, enquanto
bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.


O projeto "Brain Drain and Academic Mobility from
Portugal to Europe" - BRADRAMO
(PTDC/IVC-PEC/5049/2012) é financiado
por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia
(FCT/MEC) e co-financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
(FEDER) através do COMPETE - Programa Operacional Fatores de Competitividade
(POFC).


Mais informações aqui.

Fonte: Portal de Notícias da U.Porto