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Teatro portuense despede-se do fundador da Seiva Trupe

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Subiu ao palco pela primeira vez nos anos 60 com o Grupo dos Modestos, o Teatro Experimental do Porto foi o seu padrinho como ator profissional e assumiu os papéis principais como fundador da companhia Seiva Trupe e do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. António Reis morreu esta terça-feira, aos 77 anos.

“É com pesar e saudade que a Seiva Trupe anuncia e perde um dos seus alicerces em que se fundou e cresceu nestes mais de 48 anos – e nela e com ela o teatro no Porto, de que é parte indissociável da sua História. Mas despede-se com o orgulho de o ter tido entre os seus e a promessa de que saberá continuar, honrando-lhe a memória. Até sempre, António.”

Assim se despede a companhia portuense do seu fundador e figura incontornável do teatro portuense, nascido em Massarelos.

Depois da passagem pelo “velho Conservatório do Porto”, o Grupo dos Modestos, António Reis levaria a palco, nos anos 70, já integrando o Teatro Experimental do Porto (TEP), “Fim de Festa”, de Samuel Beckett, ou “A Casa de Bernarda Alba”, de Federico García Lorca.

Em declarações à Lusa, o diretor do TEP recordou o ator e encenador como “uma inspiração para toda a companhia” e alguém cuja falta será sentida “pela força e doçura”.

Na Seiva Trupe, foi, além de cofundador ao lado de Júlio Cardoso e Estrela Novais, ator, mas também encenador, cenógrafo, diretor de produção e diretor de cena. 49 anos depois do seu nascimento, a companhia portuense veria o sonho de uma casa permanente ganhar forma na renovada Sala Estúdio Perpétuo. O momento aconteceu no final de março, em celebração do Dia Mundial do Teatro.

Na nota de pesar partilhada nas redes sociais, a Seiva Trupe recorda a sua “qualidade e personalidade inconfundíveis” em interpretações em “Um Cálice de Porto”, em “Perdidos numa Noite Suja”, de Plínio Marcos, em “Macbeth”, de Shakespeare, ou “Uma Visita Inoportuna”, de Copi.

O teatro da cidade deve-lhe, ainda, a criação do FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, que dirigiu de 1989 a 2004. A par do teatro, o nome de António Reis também se fez pela televisão e pelo cinema, tendo trabalhado com Manoel de Oliveira, em "Vale Abraão" e "Singularidades de uma rapariga loira".

Em 1988 foi distinguido com a Medalha de Mérito Cultural da Cidade do Porto. Recebeu o Prémio Prestígio da Casa da Imprensa e o Prémio Lorca, pela Universidade de Granada, em Espanha, e foi ainda agraciado com o Grau de Comendador da “Ordem do Infante Dom Henrique”.

Também a Presidência da República fez referência a António Reis, “uma figura da sua cidade e um dinamizador do teatro em Portugal". Marcelo Rebelo de Sousa sublinha o seu caráter “enérgico, carismático e generoso”.

O corpo de António Reis estará em câmara ardente esta quarta-feira, entre as 16,30 e as 20 horas, na Igreja de Nossa Senhora da Lapa. As exéquias fúnebres começam na quinta-feira, às 15,30 horas, seguindo depois o funeral para o Cemitério da Venerável Ordem da Lapa.