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TAP tem “um problema de vícios instalados”, critica Rui Moreira

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A TAP voltou a estar na atualidade noticiosa, com o presidente da Câmara do Porto a socorrer-se da sabedoria popular: “Aquilo que nasce torto raramente se endireita”, lamentou Rui Moreira, reiterando que “a cidade do Porto fica mais bem servida se a TAP não vier cá.”

Questionado pelos jornalistas, no final da conferência de imprensa em que foi dado a conhecer o plano de Mobilidade, Segurança e Limpeza da Passagem de Ano no Porto, sobre as demissões recentes do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, e da secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis (que integrou o conselho de administração da TAP entre outubro de 2020 e fevereiro de 2022), Rui Moreira não quis pronunciar-se sobre os casos concretos, mas constatou que “mais uma vez, no epicentro de uma crise, temos a TAP.”

“Verificamos que a TAP é não só um sorvedouro de recursos para o país e para os contribuintes, como é também um sorvedouro de valores políticos, de valores éticos, de tudo aquilo que nós gostaríamos de ver tratado de forma diferente. As notícias que vieram a lume nos últimos dias devem gerar a todos nós uma gigantesca preocupação”, afirmou o presidente da Câmara do Porto.

Rejeitando que Pedro Nuno Santos seja o único responsável por aquilo que se passa na TAP, Rui Moreira considerou necessário “metermos a mão na consciência”. “Tenho sido uma das vozes dissonantes relativamente a uma forma que o país tem de olhar para a TAP. Tudo isto tem sido consentido por nós, pelos portugueses”, afirmou o autarca, detalhando: “Como é que é possível meter-se muito dinheiro numa empresa e agora dizer-se que a empresa vai ser ou privatizada ou vai ser reduzida na sua atividade. Perceber que uns trabalhadores foram despedidos e outros viram as suas condições de trabalho condicionadas, foram criticados por fazer greve, e afinal para outras coisas parece haver sempre dinheiro. A TAP é um ‘perdócio’ para o país, e isso é que nos deve fazer pensar.”

“Para a cidade e para a região de Lisboa é fundamental e inevitável a existência de uma companhia de bandeira que viabilize o hub de Lisboa a qualquer custo. Nós nunca pedimos para termos um hub no Porto, nem nunca precisámos de subsidiar companhias aéreas para termos o turismo que temos. Há aqui uma desigualdade, patente no país e que toda a gente compreende. Não quero acreditar que seja preciso ter uma empresa deficitária, que presta um péssimo serviço ao resto do país, apenas a voar para Lisboa, para que o turismo de Lisboa sobreviva”, apontou.

“Não precisamos da TAP”

“Não me parece que seja preciso ter pessoas, remuneradas como estão ao nível da administração, e mal remuneradas ao nível dos trabalhadores, para garantir o turismo em Lisboa”, acrescentou Rui Moreira. Quanto ao Porto, sublinhou o autarca, a cidade “fica mais bem servida se a TAP não vier cá. Não precisamos da TAP.”

“A verdade é que a TAP custa-nos dinheiro a todos nós. Como português e como contribuinte, indigno-me com a situação de uma companhia em que nós permanentemente estamos a deitar recursos, que causa imensos problemas. Já não é apenas um problema financeiro, como se percebe. É um problema de vícios instalados”, criticou o presidente da Câmara do Porto, lamentando a falta escrutínio “relativamente ao que devia ser o interesse estratégico de uma companhia que, a meu ver, é absolutamente dispensável. Pelo menos para nós, é dispensável.”

Sem querer pronunciar-se sobre as demissões no Governo, Rui Moreira admitiu que “todos os portugueses têm vindo a acompanhar com preocupação o que se passa. Mas não me compete, pela natureza do meu cargo, pronunciar-me sobre isso.”

“Gostaríamos que as coisas que têm sido feitas, e bem feitas, na área da Habitação, que estavam configuradas numa política em que nós temos vindo a ser muito ativos, se mantenham. Gostaríamos também que o plano ferroviário, que foi desenhado e é importante, não ande para trás. Que não voltemos à estaca zero. Pelo menos essas duas áreas, em que nós temos vindo a colaborar ativamente com o ministério, possam ter continuidade”, afirmou.

“Seria importante não haver uma interrupção estratégica em duas áreas fundamentais. A mobilidade é fundamental. A habitação é fundamental. Este ministério é absolutamente crucial para o bom funcionamento do país, portanto espero que não haja ruturas naquilo que têm sido as decisões estratégicas do Governo”, concluiu Rui Moreira.