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Sonho do Joãozinho transformou-se finalmente numa casa digna para tratar as crianças

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Dez anos depois, o sonho de tratar as crianças num espaço digno e humanizado ganhou forma e muita cor. O Joãozinho, nome pelo qual é conhecida a ala pediátrica do Hospital de São João, já esqueceu os contentores onde funcionou durante uma década e assume-se hoje como um lugar de vida. A funcionar desde novembro, abriu portas oficialmente e em pleno na manhã deste sábado, contando com a visita do presidente da Câmara do Porto, do primeiro-ministro e da ministra da Saúde.

Assumindo falar em nome dos vários autarcas da região “que tanto se empenharam neste projeto”, Rui Moreira lembrou que “há mais de dez anos tem havido um enorme movimento cívico das nossas cidades no sentido de ser possível ter uma ala pediátrica capaz de tratar as crianças”. Como reforçou o presidente da Câmara do Porto, este projeto arrancou fruto de “uma grande exigência da sociedade civil”.

“Foi uma exigência continuada, que teve momentos mais felizes, momentos mais difíceis, teve projetos mais arrojados, alguns impossíveis, mas, finalmente, conseguiu-se chegar aqui”, recordou o autarca. Passadas essas dificuldades, “hoje temos, finalmente, realizado um sonho”, confessou Rui Moreira e, portanto, “não estamos inibidos de estar felizes”.

Garantindo que “a nossa exigência vai continuar”, o presidente da Câmara do Porto assegurou o apoio, “todo o nosso saber, mas também o nosso amor e carinho” para que os cuidados de saúde infantil do Hospital de São João se mantenham com condições de excelência.

Lembre-se que, em 2019, o Município cedeu uma ambulância para o transporte das crianças imunodeprimidas da ala pediátrica, tanto para deslocações internas como para a realização de tratamentos ou diagnósticos complementares fora do perímetro do hospital.

Uma norma de exceção para um serviço de excelência

Considerando “esta obra exemplar”, o primeiro-ministro sublinhou a celeridade com que decorreu, desde o início da empreitada, em outubro de 2019. “Foram dois anos particularmente difíceis na vida do país, de todos nós, mas especialmente na vida dos profissionais e das instituições de saúde”, assume António Costa, que crê, ainda assim, que “ mais difícil foi garantir que os sonhos não morriam com o Covid”.

Certo de que “este sonho” teve “várias oportunidades de ser resolvido”, o primeiro-ministro afirma que “é preciso ter a confiança, a teimosia de que é mesmo possível transformar os sonhos em realidade”.

António Costa acredita que “esta ala pediátrica não é só mais uma ala pediátrica” uma vez que tem “um conjunto de valências que outros não têm”. Essa realidade e a situação vivida durante largos anos levou a tivesse sido aprovada, pela Assembleia da República, uma norma de natureza excecional para as condições de contratação da empreitada. Segundo o primeiro-ministro, “aquilo que este conselho de administração demonstrou é que o legislador não precisa de criar burocracia inútil para assegurar a concorrência e a transparência”.

“Estamos aqui hoje porque não parámos”, acredita António Costa, juntando este projeto a outros que têm seguido o seu caminho, como é o caso, referiu, da viabilização do heliporto, cuja candidatura a financiamento foi, esta semana, aprovada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).

Em julho deste ano, os presidentes das câmaras municipais do Porto, Maia e Valongo assinaram uma carta dirigida ao ministro do Planeamento, ao ministro das Infraestruturas e ao presidente da CCDR-N onde reclamavam o papel do Estado para tornar a valência uma realidade.

Largos dias de união e perseverança

Também a ministra da Saúde assumiu que “hoje é um dia feliz para o Serviço Nacional de Saúde, os profissionais de saúde, para as crianças”. Marta Temido sublinhou que “não há maior satisfação do que aquela que reside numa sociedade conseguir organizar-se de forma a responder às necessidades dos mais frágeis”.

A responsável pelo setor da Saúde utilizou o projeto da nova ala pediátrica do Hospital de São João para retirar duas lições: a da união e a da perseverança. Nas palavras da ministra, “soluções para problemas complexos exigem união”, e este exemplo encontrou “uma solução que envolveu muita gente”, desde a sociedade civil aos projetistas, serviços centrais, revisores, profissionais de saúde, câmaras municipais e os deputados da Assembleia da República.

“Desde o dia da primeira pedra, em março de 2015, até ao dia em que a Beatriz, a primeira bebé internada nesta ala pediátrica, aqui chegou em 16 de novembro deste ano, passaram muitos dias”, assume a ministra. Marta Temido acredita ainda que “foi a capacidade de se focarem na solução e não nos problemas que nos trouxe a todos até aqui”.

Para a ministra, estas são “duas lições para o muito que temos que fazer no Serviço Nacional de Saúde”. Marta Temido deixou o agradecimento do ministério e do SNS “a todos os que tiveram esta capacidade e que nos inspiram a utilizar esta metodologia para outras respostas que precisamos de garantir”.

Disponibilidade das autarquias faz a diferença

O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário de São João assumiu que “tínhamos uma enorme responsabilidade de não falhar e conseguimos”. “Após mais de uma década em condições desfavoráveis, o sonho tornou-se realidade e a visão que muitos julgavam impossível concretizou-se”, sublinhou Fernando Araújo.

Depois de ver já todas as crianças transferidas para as novas instalações e a nova ala a funcionar a 100%, o responsável do hospital não deixou de referir “o apoio inexcedível” das autarquias”. “Se havia dúvidas, a Covid veio demonstrar o papel e a capacidade que têm de concretizar respostas aos cidadãos. Sinto diariamente o conforto do seu apoio à distância de um telefonema, sempre disponíveis para ajudar a construir soluções e isso faz toda a diferença”, afirmou.

Fernando Araújo não tem dúvidas de que é possível concretizar este tipo de projetos “de forma transparente e escrutinada, cumprindo prazos e orçamentos”.

A comitiva percorreu os cinco pisos que compõem o novo edifício de 13 mil metros quadrados, por entre as cerca de 100 camas disponibilizadas, e valências como a cardiologia pediátrica, cirurgia cardíaca e de intervenção, oncologia pediátrica, grande trauma e de resposta a doentes neurocríticos. A grande mais-valia da nova ala pediátrica será a primeira unidade de queimados pediátrica do Norte.

Dois anos em pandemia, vinte e cinco horas por dia

A obra, orçada em 25 milhões de euros, ficou a cargo da empresa Casais – Engenharia e Construção, que mereceu uma palavra do presidente da Câmara do Porto: “eu tive a oportunidade de vir cá várias vezes ver as obras durante o tempo da pandemia, e era impressionante ver como os vossos trabalhadores continuavam a trabalhar numa altura tão difícil como foi. E isso é assinalável e é bom saber que empresas portuguesas são capazes de cumprir e de cumprir prazos”, reforçou Rui Moreira.

Também o primeiro-ministro afirmou que “apesar da Covid, o país não parou porque muitas empresas como a Casais continuaram a laborar”. “Muitos trabalhadores”, reconheceu António Costa, “tiveram receio de ser contaminados, as todos os dias de manhã saíram de casa, puseram a mão na massa e construíram esta ala pediátrica”.

O governante frisou ainda o papel do conselho de administração do Hospital de São João que, “seguramente assoberbado com uma enorme pressão do que foi o acréscimo de serviço que a pandemia impôs a todos os profissionais de saúde, conseguiu encontrar uma 25.ª hora para continuar a fazer esta obra continuar a andar”.