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Solidariedade e resiliência foram os aspetos positivos de 2020, reflete Rui Moreira em entrevista ao Porto Canal

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Miguel Nogueira

O ano que terminou foi indelevelmente marcado pela pandemia, mas há aspetos positivos a retirar, considerou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, apontando como exemplo a solidariedade e resiliência demonstradas por todos os sectores da sociedade civil. Em entrevista ao Porto Canal, o autarca também perspetivou o que trará 2021.

A conversa com o diretor de informação do Porto Canal, Tiago Girão, decorreu na sala D. Maria, nos Paços do Concelho, e começou por um balanço de 2020. “Acho que poucas vezes nos aconteceu na vida desejarmos tanto que um ano acabasse e que entrássemos num novo ano. 2020 é, de facto, um ano de todas as aflições. É um ano que nós só podíamos imaginar quando víamos filmes ou líamos romances de ficção científica”, notou Rui Moreira, acrescentando: “Percebemos a fragilidade da sociedade humana”.

“Foi um ano de enorme destruição. Muitas pessoas, principalmente as mais velhas, morreram ou perderam um ano da sua vida. Na geração da minha mãe – que apesar de tudo tem saúde, mas já está numa idade avançada – muitas pessoas morreram, muitas ficaram doentes, mas outras deixaram de viver. E isso é para nós uma enorme lição”, frisou.

Mas também há aspetos positivos a reter de 2020. “Temos a parte boa, a solidariedade. Percebemos que apesar de tudo, numa sociedade como a nossa, quando tantas vezes duvidamos da resiliência da nossa sociedade, fomos capazes de, entre os icebergues, navegar um pouco à vista e garantir que as pessoas tiveram acesso à saúde, à solidariedade. Foram todos os profissionais de saúde que se empenharam, foram os polícias que se empenharam, foram os bombeiros que se empenharam. Mas foi também toda a sociedade civil que foi muito solidária. Foi um teste a uma sociedade que nós muitas vezes temos dúvidas sobre o que somos. E, nesse aspeto, acho que saímos claramente reforçados”, sublinhou o presidente da Câmara do Porto.

Rui Moreira destacou ainda, na entrevista ao Porto Canal, a importância do poder autárquico no combate à pandemia. “Este tempo demonstrou que a melhor perceção das diferenças decorre do poder de decisão ser tomado a um nível mais próximo”, afirmou, enaltecendo a importância de algumas medidas tomadas, a nível local, nos lares. “Preocupou-me muito a questão dos lares, e a Câmara do Porto nesse aspeto foi inovadora. Fez-me muita impressão o que estava a suceder. Os lares, onde em princípio as pessoas deixam os seus familiares confiando que aquele é um espaço de segurança, tranquilidade, onde os últimos dias desses familiares possam ser seguros e tranquilos, de repente transformaram-se em espaços de horror, e isso foi o que mais me impressionou”, confessou.

Manter cuidados

“Estivemos como em apneia, e agora vamos acordar em 2021 e sabemos várias coisas: a recuperação não vai ser tão rápida como pensávamos. Vamos ter ainda pela frente, seguramente, cinco ou seis meses difíceis, porque não vamos estar todos vacinados, vamos continuar a ter de manter cuidados”, prosseguiu o autarca, considerando acertado o modelo de vacinação adotado, que começou pelos profissionais de saúde.

A nível económico e social, a crise que já se faz sentir “é uma coisa que nos deve preocupar muito”, admitiu Rui Moreira, notando que todos têm um papel a desempenhar na mitigação desta crise. “O esforço que temos de fazer é, dentro das regras de segurança, garantir a normalidade, nossa e da economia. Ou seja: apesar de tudo, temos de continuar a ter de fazer compras, e se pudermos fazer numa pequena loja, estamos a ajudar alguém”.

“Também as crianças estão a viver um tempo difícil. Tem sido um grande esforço dos professores, de todas as pessoas que trabalham nas escolas, dos pais. Também para eles temos de criar uma normalidade, porque eles têm de voltar a socializar. Tudo isto é um esforço que temos de fazer, quase como se estivéssemos a aprender de novo. Este é o tempo da aprendizagem, da convalescença”, reforçou.

Lembrando que a cidade do Porto estava “num tempo fantástico, de grande esperança” antes da pandemia, Rui Moreira previu que a recuperação desse dinamismo venha a demorar: “2021 vai ser um ano ainda difícil. Não é previsível que este ano tenhamos uma recuperação do turismo. Desde logo, porque as pessoas têm medo de viajar, é incómodo viajar e as companhias não têm capacidade de resposta. Não acredito que antes do segundo semestre do ano haja uma recuperação do turismo”, concluiu o presidente da Câmara do Porto.

Assista na íntegra à entrevista de Rui Moreira ao Porto Canal