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Sétima arte revela como a cidade (re)ergueu a casa-diamante que é o Bolhão

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Mercúrio e Flora, deuses do comércio e da agricultura, estão de novo a observar, lá do cimo, restaurados, quem entra e sai do mercado. São um dos pormenores que compõem o diamante centenário que é o Bolhão, cuidados no processo que devolveu o lugar das raízes ao Porto. “100 Anos de Bolhão” é a sétima arte como testemunha das dores e alegrias que décadas de projetos, muitos projetos, infligiram no icónico edifício. Documentário foi projetado em antestreia, ao final da tarde desta quinta-feira, no Batalha Centro de Cinema, antes de chegar aos ecrãs de televisão.

“Sei que o meu império é feito com matéria dos cristais, e agrega as suas moléculas seguindo um desenho perfeito. Em meio à ebulição dos elementos, toma corpo um diamante esplêndido e duríssimo, uma imensa montanha lapidada e transparente”.

Assim escreveu Italo Calvino, em 1972, em “As Cidades Invisíveis”. Assim poderia ter escrito sobre o Mercado do Bolhão, palavras que marcam o início da viagem sobre os largos cem anos de projeção, declínio, promessas, manifestações e projetos megalómanos vividos pelo edifício.

Desde a necessidade da sua construção numa cidade que crescia ao ritmo do comércio, ao regresso a casa, em setembro do ano passado, “100 Anos de Bolhão” alicerça-se nos testemunhos de historiadores, arquitetos e engenheiros para contar uma história que “é para sempre”.

Autora da ideia inicial, Graça Correia Ragazzi afirma que o documentário “pretende mostrar uma obra onde fica claro que a decisão política deve ser instruída de conhecimento arquitetónico”.

“Foi, precisamente, essa cultura superior que permitiu a adequação de um modelo político e programático aos objetivos da arquitetura, o que motivou o excelente resultado que todos vimos”, sublinha a arquiteta, sobre um edifício “interesse nacional que é dos poucos em que a sua função também é protegida patrimonialmente”.

Antes da projeção, a vice-presidente da GO Porto, a empresa municipal que assume a gestão do Mercado do Bolhão, disse que o filme “retrata a concretização de um sonho há muito prometido para esta cidade”.

“É documentário sobre o nosso icónico e tão acarinhado mercado, sobre as suas gentes, sobre o seu passado, o seu presente e sobre o aquilo que foram as longas décadas nas quais todos tivemos que superar muitos desafios para, finalmente, termos o Bolhão”, lembra Cátia Meirinhos.

“100 Anos de Bolhão”, realizado por Ricardo Clara Couto, é uma produção da Clara Amarela Filmes e será transmitido na RTP 2.

“Somente conhecendo o resíduo da infelicidade que nenhuma pedra preciosa conseguirá ressarcir é que se pode computar o número exato de quilates que o diamante final deve conter, para não exceder o cálculo do projeto inicial”. Assim escreveu Calvino. Assim se restaurou e devolveu o Bolhão ao Porto.