Política

Rui Moreira reflete sobre a importância das relações internacionais no desenvolvimento da cidade

  • Isabel Moreira da Silva

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Miguel Nogueira

Acordos e alianças estratégicas com cidades de todo mundo em áreas como ciência e ensino, cultura, ambiente, gastronomia, enoturismo e história têm contribuído para a promoção e desenvolvimento do Porto. Uma mundividência que reforça a notoriedade da cidade enquanto marca, e que permite também galvanizar o interesse de empresas internacionais que aqui se instalam, gerando mais emprego. Rui Moreira refletiu ontem sobre esta estratégia numa aula online do mestrado de Relações Internacionais da Universidade Lusíada, em que participou a convite de Manuel Monteiro.

"A importância da política internacional e das relações externas para o desenvolvimento da cidade do Porto" foi o tema da sessão em que o presidente da Câmara do Porto interveio como orador convidado, nesta quarta-feira ao final do dia, e em que procurou partilhar, a cerca de duas dezenas de estudantes, o que move a diplomacia internacional do município.

Começando pela forma como é estabelecida. Rui Moreira encontrou no processo de geminação entre cidades, per si, terreno pouco fértil nos frutos. “Resumia-se a visitas cruzadas e a transporte de presentes e, a partir daí, nada acontecia”. Por isso, adotou outro sistema: “preferimos desenvolver contratos e acordos estratégicos”, mesmo com cidades-irmãs do Porto.

Desde logo, com a Cidade da Beira, em Moçambique. Há dois anos, as grandes tempestades que assolaram a região comoveram o mundo, e o Porto, parceiro antigo, socorreu, apoiando na reconstrução de dois equipamentos: na reparação do telhado da Escola Portuguesa e no fornecimento de equipamento para o Hospital da Beira, relatou Rui Moreira.

Noutro exemplo, o autarca recordou que, no ano passado, a cidade de Mindelo, em Cabo Verde, pediu a ajuda do município no combate à pandemia. E é aqui que a vasta rede de contactos internacionais que o Porto mantém pode fazer a diferença.

“Tínhamos um protocolo estratégico no âmbito das ciências e do ensino com a cidade chinesa de Shenzhen”. Quando os hospitais portugueses não tinham ventiladores, e o país procurava rapidamente adquiri-los noutros mercados, o presidente da Câmara do Porto pôs-se em contacto com o presidente da Câmara de Shenzhen, “sabendo que eles tinham uma fábrica e que estavam a produzir ventiladores, até para a Alemanha, e pedi se nos podiam ceder 40 ventiladores”. A maior parte ficaram nos hospitais de São João e Santo António, alguns foram ainda cedidos à Câmara Municipal de Cascais, e um foi para Cabo Verde.

O primeiro ventilador que saiu de Portugal foi enviado pela cidade do Porto para Cabo Verde. Também enviámos máscaras cirúrgicas e EPI’s [equipamentos de proteção individual]”, afirmou Rui Moreira.

Na área da cultura, o autarca destacou a troca de experiências e boas práticas, por vezes até de intercâmbio de técnicos municipais, em cidades classificadas como Património da Humanidade. “Estabelecemos logo uma aproximação a Florença”, entre muitas outras que integram o projeto AtlaS-WH, que a cidade do Porto lidera.

Já no que diz respeito ao ambiente, Rui Moreira lembrou que “há oito anos, o tema da transição energética ainda não era visto assim com tanta importância. O que nós fizemos foi ver quem eram os melhores, e descobrimos que era a cidade de Gotemburgo. Fizemos um contacto com a cidade e desenvolvemos com eles um conjunto de projetos, que depois foram apresentados à União Europeia como projetos-pilotos. Foram-se juntando a nós várias outras cidades, como Viena”, contou. Uma estratégia que, ao longo dos anos, foi solidificando, tendo o Município do Porto, pela segunda vez consecutiva, assumido a presidência do Fórum do Ambiente da rede Eurocities.

Com a vizinha Galiza, o Porto mantém uma relação especial, tanto que, em dezembro do ano passado, Rui Moreira deslocou-se até à Corunha, onde participou numa conferência organizada pela agência de notícias de Espanha EFE, com o presidente do Governo Regional da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, e na presença de vários empresários locais. Dias depois, era publicada uma sua entrevista ao La Voz de Galicia, o que levou o presidente da Câmara do Porto a comparar a cobertura da comunicação social numa e noutra região, concluindo que a implantação e interesse dos jornais galegos ultrapassa – e muito – aquela que é a realidade na Região Norte e até no país.

Neste particular, Rui Moreira acredita que o Porto pode desenvolver com a Galiza uma “estratégia de afirmação da cozinha Atlântica”. A gastronomia, enquanto “um negócio extremamente interessante”, à semelhança do que fez a cozinha basca. Esse é o caminho que o presidente da Câmara do Porto entende ser mais inteligente apostar, ao invés do Eixo Atlântico, que admitiu - “não sou fã” - por considerar que está reduzido à obtenção de fundos europeus, não obedecendo a qualquer estratégia delineada. “Acho até que o Porto devia sair”, à semelhança do que já fizeram outras cidades, defendeu.

Além da gastronomia, também os vinhos são grandes embaixadores das cidades, considerou o presidente da Câmara do Porto. A entrada do Porto no Great Wine Capitals segue esse princípio. “Algumas cidades nos cinco continentes têm particular ligação ao vinho. Ao criar uma comunidade para promover boas práticas e troca de experiências, tiramos mais partido de como utilizar o vinho enquanto promotor da marca cidade”, observou.

“Quando em 2009 escrevi o livro ‘Uma questão de carácter’, sobre a cidade do Porto, já dizia que faltava ao Porto uma marca. Era só conhecido pelas siglas FCP ou então como Oporto ou Port. Felizmente, agora é Porto”, disse Rui Moreira.

Por fim, a história enquanto elo forte nas relações internacionais da cidade do Porto, especialmente na Ásia, partilhou o autarca. “De alguma maneira compensando a falta de visão do Estado Português no extremo oriente”, analisou.

Entre elas sobressai a forte ligação a Nagasaki, no Japão. “O presidente da Câmara de Nagasaki já veio ao Porto várias vezes. O porto deles foi inaugurado com chegada dos navios portugueses, e atribuem-lhe um significado enorme”, explicou Rui Moreira, dando ainda como exemplos a ligação histórica a Banguecoque, na Tailândia, e a várias cidades chinesas, como Pequim e Xangai, onde Rui Moreira esteve em 2018, nas celebrações do Dia de Portugal.