Proteção Civil

Rui Moreira questiona impacto de obras do metro: “Capacidade do rio da Vila não foi esgotada”

  • Porto.

  • Notícia

    Notícia

fib_declaracoes_imprensa_RM_11jan_01.JPG

Filipa Brito

O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, pretende ver esclarecido o impacto das obras em curso para a expansão da rede da Metro do Porto na enxurrada que assolou a cidade no passado sábado, 7 de janeiro.

“Houve intervenção da obra do metro. Tive oportunidade de visualizar que houve passagens e entradas para o rio da Vila que estavam cimentadas. Temos de averiguar até que ponto [as obras] tiveram este impacto. A Metro do Porto, depois de inicialmente ter assumido uma posição de dizer que não, assumiu que afinal tinha havido. Fez aquilo que devia fazer: pediu ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) para fazer essa averiguação. Isso a nós parece-nos uma medida totalmente apropriada”, afirmou o autarca, no final da cerimónia de louvor público às equipas municipais que restabeleceram a normalidade depois da intempérie.

“O que é que pretendemos saber? Primeiro: isto são consequências de obras? Também precisamos de saber se há um problema do projeto que possa ter de ser reformulado, para que esta situação não se repita”, frisou Rui Moreira, manifestando a disponibilidade do Município para partilhar a informação necessária: “Temos o levantamento feito. Já manifestámos ao presidente do LNEC que a Câmara do Porto tem um conjunto de elementos que pode fornecer. Esperamos que seja brevemente, mas as coisas têm o seu tempo. Não acredito que demore muito tempo, até porque é uma situação urgente.”

O presidente da Câmara do Porto apontou ainda que a capacidade do rio da Vila não foi totalmente colocada à prova pela intempérie: “Choveu, tivemos uma torrente na cidade do Porto. Essa é a causa principal, toda a gente se apercebeu que houve um fenómeno raro, nem os radares dos meteorologistas conseguiram prever. Questão diferente é porque é que houve consequências dessa chuvada que acarretaram os impactos que vimos na cidade. Está a ser feita uma avaliação para compreender porque é que aquilo que são infraestruturas que, ao longo de mais de 100 anos, têm sempre funcionado, nomeadamente no Centro Histórico, para levar as águas até ao rio, porque é que desta vez a água, em vez de andar no rio da Vila, andou em cima.”

“Estivemos lá ontem [terça-feira], fomos ver o rio da Vila, e demonstra que a sua capacidade não foi esgotada. Tem teias de aranha no teto, para terem uma ideia. Ou seja, alguma coisa levou a que as águas, que normalmente deviam ter corrido pelo rio da Vila, não correndo, transbordaram”, acrescentou.

Os danos causados pela água serão objeto de avaliação, disse ainda Rui Moreira: “Logo no sábado falámos com os comerciantes, os nossos serviços do comércio têm andado a visitar os comerciantes. Há comerciantes que têm avarias menores, que não são de grande monta. Há outros que têm avarias de grande monta. É importante, neste momento, que façam o levantamento exaustivo. Vamos, a partir daí, apresentar a candidatura desses comerciantes a serem ressarcidos.”

Zonas de perigo

Quanto à intenção da Câmara do Porto, noticiada pela agência Lusa, de comprar 23 habitações da “ilha” dos Moinhos, na escarpa das Fontainhas, e que foram afetadas pela enxurrada, o autarca explicou tratar-se de “uma situação diferente”. “Estamos a falar de um território diferente, de escarpa. O Município tem feito, nos últimos anos, enormes investimentos na consolidação das várias escarpas do Douro. Estão assinaladas no PDM como zonas de perigo. Verificamos que existem ali pessoas a viver, em particular numa ‘ilha’, que não tem grandes condições de habitabilidade”, indicou.

“Aquilo que queremos fazer e estamos a iniciar, através da junta de freguesia, que nos pôs em contacto com os proprietários, é um plano para que a Câmara possa adquirir essa ‘ilha’, para depois aí desenvolver um conjunto de medidas, perceber onde é que se pode viver e onde é que não se pode viver, criarmos ali um resguardo municipal”, acrescentou Rui Moreira, recordando: “Chamo à atenção que aquela é uma zona perigosa. Em 1959 houve uma grande tragédia nos Guindais porque a escarpa cedeu. Em 2001 houve também uma grande catástrofe ali, que provocou mortes. Nós temos que impedir que as pessoas ali vivam.”

“Tivemos de intervir em quatro casas e dizer às pessoas que tinham de sair de lá. Houve uma família que foi realojada – aliás, aproveito para agradecer à Segurança Social o apoio que deu a essa família – houve três outras pessoas que estavam lá em casas e não quiseram ser realojadas, mas tinham retaguarda familiar. Há zonas da cidade que, não sendo propriedade municipal – não estamos a falar em habitação social – precisam de todas as medidas preventivas. Isso foi feito, com a Proteção Civil, com a Segurança Social, e vamos continuar”, garantiu.

“Em sítios de perigo evidente, quer as pessoas queiram, quer não queiram, têm de sair. Nas outras zonas onde as pessoas, apesar de tudo, preferem o desconforto, a saírem de lá, temos de respeitar a vontade das pessoas. Na certeza, porém, que sempre que somos afetados por uma tragédia destas, sentimo-nos sempre desprotegidos. A nossa primeira prioridade era rapidamente pôr a cidade a funcionar”, concluiu.