Sociedade

Rui Moreira: “O Porto compreende bem o valor sentimental que o coração de D. Pedro tem para o povo brasileiro”

  • Porto.

  • Notícia

    Notícia

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, recordou hoje, em Brasília, a fraterna amizade que liga Portugal e Brasil, apesar das muitas atribulações e acasos que houve, ao longo da história, entre os dois países. É essa mesma amizade, disse, que “o Município do Porto quis homenagear ao autorizar a trasladação temporária do coração de D. Pedro para o Brasil”.

“Não nos pareceu correto negar ao Brasil a possibilidade de comemorar [o bicentenário da independência] com a relíquia que, porventura, melhor representa a bravura, paixão e força do seu primeiro imperador”, afirmou o presidente da Câmara, durante a palestra que proferiu hoje, no Instituto Rio Branco, sob o tema: "Dois povos unidos por um coração - o significado político e simbólico de D. Pedro para Portugal e o Brasil”.

Perante futuros diplomatas do Brasil, Rui Moreira garantiu que “o Porto é uma cidade de pertenças e afetos. Por isso, compreende bem o valor sentimental que o coração de D. Pedro tem para o povo brasileiro”.

Esperando que a presença do coração seja também “um contributo para o aprofundamento e a dinamização da cooperação entre os dois países”, o autarca portuense realçou que ela deve ser uma prioridade para ambas as partes, válida tanto para as relações Estado a Estado como “entre municípios, empresas, universidades e instituições públicas e privadas dos dois lados do Atlântico”, indo para além dos fatores culturais que ligam os dois países, de que se destaca a língua e todo o património comum.

“Temos de passar das palavras aos atos, das boas intenções a projetos concretos, das colaborações ocasionais a ações contínuas”, acrescentou.

“As diásporas podem ser um motor de aproximação”

A materialização das iniciativas passa, na ótica de Rui Moreira, por “projetos que efetivamente favoreçam o desenvolvimento económico, social e cultural dos dois países e produzam efeitos para lá da ‘espuma dos dias’”. “O bom entendimento entre governos é, como sabemos, bastante importante para a robustez das relações bilaterais. Mas há vários outros protagonistas, para além dos governos, capazes de fomentar a cooperação Portugal-Brasil”, frisou.

Para além dos governos, segundo o presidente da Câmara, “os municípios, as empresas, as universidades e as instituições públicas e privadas constituem uma massa crítica com potencial para aprofundar a cooperação entre os dois países”. “Acresce que, tanto no Brasil como em Portugal, existem comunidades imigrantes dos dois países com grande peso e influência social. As diásporas portuguesa e brasileira podem, seguramente, ser um motor de aproximação e interação bilateral em diferentes domínios”, argumentou.

O espaço da lusofonia, sobretudo o contributo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) foi também destacado por Rui Moreira, para quem “a lusofonia tem de figurar entre os desígnios estratégicos do país, sob pena de Portugal perder aquele que é o seu principal fator distintivo no seio da União Europeia”.

“No espaço da lusofonia, as raízes históricas, culturais e linguísticas comuns devem servir para criar novas plataformas de relacionamento, nomeadamente entre Portugal e o Brasil. Plataformas, essas, em que o diálogo luso-brasileiro se materialize em investimento empresarial, trocas comerciais e cooperação ao nível da inovação, investigação e desenvolvimento”, disse, acrescentando: “Uma relação mais forte, dinâmica e consequente entre Portugal e o Brasil seria seguramente do agrado de D. Pedro, a figura histórica que me traz aqui hoje”.

Coração exposto no Palácio do Itamaraty

Depois de fazer uma breve resenha histórica do 28.º rei de Portugal e primeiro imperador do Brasil, bem como da doação do coração ao Porto, o autarca portuense voltou a sublinhar a importância de D. Pedro, que personifica os valores liberais que perduram até hoje em Portugal: liberdade, igualdade, justiça e pluralismo.

“O ‘Rei Libertador’, como também ficou conhecido, é uma figura emblemática da cidade [do Porto] e personifica muitos dos seus valores identitários: honra, lealdade, convicção e liberdade”, sublinhou Rui Moreira, terminando a palestra a citar Vinicius de Moraes: “Enfim, depois de tanto erro passado/Tantas retaliações, tanto perigo/Eis que ressurge noutro o velho amigo/Nunca perdido, sempre reencontrado.”

As celebrações do bicentenário da independência brasileira, que se assinala a 7 de setembro, vão continuar. Depois do presidente da Câmara do Porto e do comandante da Polícia Municipal, superintendente António Silva Leitão, terem entregado a relíquia nacional no Palácio do Planalto, numa cerimónia organizada pela Presidência da República do Brasil, o coração de D. Pedro foi transportado para o Palácio do Itamaraty, onde ficará em exposição até ao dia 8 de setembro.