Economia

Rui Moreira mostra em Cannes como trabalhar por uma cidade inclusiva

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O presidente da Câmara do Porto participou como orador convidado do debate "Inclusion Forum: Inclusive Cities", no âmbito do MIPIM, em Cannes. Na sua intervenção, Rui Moreira mostrou como o Porto está a trabalhar para ser uma cidade inclusiva e corresponder à tendência de regresso ao espaço público.

O painel, que decorreu nesta quinta-feira, foi catalogado na programação da maior feira de imobiliário da Europa como evento "a não perder" ("Not to be Missed").

Aberto a todos os participantes do MIPIM, o debate contou com sala cheia para refletir sobre o desenvolvimento urbano que "é um tema sensível pois os erros cometidos têm consequências que se repercutem no futuro", apontou a moderadora Alexandra Notay, diretora da PfP Capital, que questionou Rui Moreira sobre a forma de gestão das cidades para se tornarem locais verdadeiramente inclusivos.

O presidente da Câmara do Porto indicou o branding como um fator-chave para criar ou estabelecer a identidade de uma cidade, de modo a fazer com que os cidadãos se sintam orgulhosos dela.

"Há cinco anos, quando fomos eleitos, descobrimos que existem duas palavras que funcionam quando queremos gerir ou planear uma cidade: confortável e interessante. Com estes dois conceitos em mente, começámos a tecê-la", explicou.

À questão sobre quais as medidas que os governos, nomeadamente locais, podem tomar para combater a gentrificação, Rui Moreira indicou que a única forma de a combater é através da habitação acessível.

"Na década de 1960, grande parte da cidade do Porto foi estabelecida como sendo para habitação social; o que existe na cidade do Porto é que temos anéis concêntricos e círculos e pessoas que vivem duas a três horas de distância dos seus empregos. Há que planear a cidade de uma forma diferente para colmatar esta lacuna, por exemplo, através de arrendamento facilitado. Temos 30% da população do Porto que tem acesso a uma habitação arrendada pela qual paga cerca de 50 euros mensais; temos cerca de 20% da população que compra a sua habitação ou paga ao banco o empréstimo; e temos ainda outra franja da sociedade que não quer comprar casa, não quer ter nada a ver com bancos, mas também não é elegível para esta política municipal de arrendamento facilitado. Há que encontrar uma solução para este ?problema sandwich' ", afirmou o autarca.

"Pensemos em ruas como espaços sociais: as pessoas estão a voltar para o espaço público. Já não se limitam a ficar sentadas em frente ao televisor, têm tudo nos seus telemóveis ou tablets e começam a ocupar, de novo, o espaço público", continuou.

Por outro lado, Rui Moreira avançou que encoraja "novas formas de construção, de planear a cidade. Não devemos ter problemas com a densificação. Deve ser assim porque o espaço é escasso. Os urbanistas devem densificar a cidade em locais onde existem estações de metro ou de comboios, por exemplo".

Alexandra Hagen, CEO da White Arkitekter, realçou no mesmo painel a importância de não cometer os mesmos erros do passado no planeamento das cidades, referindo-se a novos espaços urbanos que devem ser redesenhados tendo em atenção as zonas verdes e a preocupação com a qualidade por oposição à quantidade: "as pessoas preferem viver em casas mais pequenas e com maior conforto".

Além disso, Rui Moreira foi questionado sobre a resposta a dar quando a comunidade aponta um caminho e indica que tipo de habitação quer, se isso faz com que se exclua a geração seguinte.

"Ninguém queria viver no centro histórico, estava degradado e as pessoas tinham mesmo vergonha de dizer que moravam lá. Atualmente, é uma das zonas mais caras da cidade", disse o presidente da Câmara do Porto, sublinhando que muita coisa mudou com cultura e investimento.

O painel pediu um conselho a Rui Moreira sobre como construir uma cidade verdadeiramente inclusiva, ao que o presidente respondeu: "Misturem as pessoas. Assim que elas começam a conhecer os seus vizinhos, seja na padaria ou através dos filhos que vão à escola e falam aos pais dos amigos que vieram de outros países e de outras culturas, muitas vezes verificam que na base não somos assim tão diferentes. Apreciem as cidades. É bom viver nas cidades e tudo na cidade deve estar disponível para todos", disse o autarca, concluindo que "a cidade é como uma salada de frutas: torna-se melhor se misturarmos tudo e a apreciarmos".