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Rui Moreira evoca segundo centenário da revolução liberal em artigo de opinião no Diário de Notícias

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A "tradição liberal" da cidade Invicta e a capacidade das suas gentes para "fazer diferente" são reafirmadas num artigo de opinião escrito pelo presidente da Câmara do Porto e publicado na revista 1864, do Diário de Notícias. Rui Moreira assinala os dois séculos da revolução liberal de 1820, acontecimento que "deu início à difícil, lenta e tormentosa fundação do Portugal moderno".

Foi um evento determinante para a história do Porto e do País, e que se tornava "inevitável pelo contexto político-social da época", escreve Rui Moreira, notando que, há 200 anos, Portugal "estava mergulhado numa profunda crise política, económica e social, e vivia debaixo de uma dupla tutela".

"Transformara-se num protetorado dos ingleses que, depois de terem derrotado as tropas napoleónicas, liderando a resistência portuguesa, mantinham a administração do território nacional, bloqueando as carreiras no exército (refundado por Beresford) e condicionando o funcionalismo público. Transformara-se, também, numa colónia do Brasil, elevado à categoria de reino através de uma nova identidade pluricontinental, onde a corte permanecia, onde o comércio e os portos se abriam a outras potências", recorda o presidente da Câmara do Porto.

Tratava-se, em suma, de um país "condenado à ruína e privado da sua soberania", circunstâncias que geraram "o clima propício ao descontentamento", prossegue.

Os acontecimentos noutros países, como a revolta militar que em janeiro de 1820 impôs o regime constitucional em Espanha e levou ao poder os liberais, "não passaram despercebidos em Portugal", explica o autarca. "Particularmente no Porto", destaca o autarca, dada a menor presença e influência da nobreza na cidade, a chegada de inúmeros desalojados das terras do interior e por desertores, e a existência de bons livreiros e os hábitos das tertúlias que trocavam as voltas à férrea censura da época.

"Não admira que o Sinédrio tenha surgido no Porto. Uma sociedade secreta, impulsionada pela consternação que se seguiu à condenação à morte de Gomes Freire, formada por burgueses e por juristas, tendo como característica comum o elevado grau de cultura política e grande respeitabilidade social. Foi no seio do Sinédrio que fermentou a conjura e o ideário liberal que, garantindo a fidelidade à casa de Bragança, lhe exigia que aceitasse regressar a Portugal para reinar constitucionalmente", aponta Rui Moreira.

Aclamação por todo o país e entrada triunfal em Lisboa

E assim se criaram as condições para, no dia 24 de Agosto de 1820, eclodir o golpe militar, escreve o presidente da Câmara do Porto: "As proclamações protestavam lealdade a D. João VI, condenavam qualquer violência ou anarquia, e faziam referência à reunião das Cortes para promulgação de uma Constituição; e logo foi constituída a Junta Provisória que passaria a dispor da suprema autoridade em nome do Rei", relembra. E à desconfiança da Junta dos Governadores, em Lisboa, contrapôs-se a aclamação por todo o país do exército que saíra do Porto, até à entrada triunfal e pacífica na capital, em 1 de Outubro.

"Foram terríveis os anos que se seguiram à revolução liberal de 1820, e o país só encontrou a paz com a regeneração. Entretanto, viveu-se uma sangrenta guerra civil e inúmeras revoltas num país dilacerado e indeciso", escreve ainda Rui Moreira, notando que "se esta revolução, liberal e burguesa, era inevitável no contexto histórico, também é inevitável que tivesse eclodido no Porto".

Consequência do que o presidente da Câmara do Porto identifica como o "conflito insanável entre a macrocefalia da capital, consequência da história e do Império e pasto natural do radicalismo europeu e o país rural, religioso, obediente e conservador; a clássica oposição entre a cidade e o campo, como escreveu Vasco Pulido Valente".

Duzentos anos depois, conclui Rui Moreira, "o Porto, mais reivindicativo do que revolucionário, continua, por razão dessa diferença que se espelha nesse contraste e na comparação com outras cidades, a guardar a tradição liberal e a fazer diferente".

Leia aqui na íntegra o artigo de opinião de Rui Moreira