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Rui Moreira em entrevista ao La Voz de Galicia: “Propus a Alberto Feijóo coordenar os aeroportos do Porto e de Santiago”

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Miguel Nogueira

O “La Voz de Galicia” apresenta este domingo, na sua edição em papel e online, o resultado da entrevista que fez ao presidente da Câmara do Porto, na Corunha. Ao maior jornal do norte de Espanha, Rui Moreira revelou que propôs ao presidente do Governo Regional da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, uma colaboração estreita entre os aeroportos do Porto e de Santiago de Compostela. O autarca defende também uma nova ferrovia entre a Região Norte de Portugal e a Galiza, ligação que deve ser considerada no trajeto para Madrid.

À margem da conferência “Galiza e Portugal – novos laços”, que decorreu na passada sexta-feira, Rui Moreira foi entrevistado por Carlos Punzón, jornalista que tem acompanhado, do outro lado da fronteira, o desenvolvimento do Porto nos últimos anos, tendo inclusive descrito a cidade, em 2018, como “a grande urbe do noroeste peninsular”.

É sobre o tema das acessibilidades que inicia a conversa. Rui Moreira demorou “quase quatro horas” na viagem de carro do Porto à Corunha, responde. O problema, diz o autarca, está na deficiente ferrovia portuguesa, que não só estagnou a ligação entre Porto-Lisboa nas últimas décadas, como é ainda muito ineficiente a norte. “Em Portugal, não há comboio” e “para o norte é pior, é uma tragédia impossível até a fronteira, é como o faroeste. Isto tem de ser mudado”, declara.

No ciclo de debates “Diálogos Gallaecia” já se tinha abordado a questão da nova linha Porto-Lisboa de alta velocidade, e na entrevista à La Voz de Galicia, Rui Moreira voltou a dizer que o avanço da obra é fundamental para estabelecer a ligação com o norte de Espanha. “Esta é a hora de decidir que o comboio deve chegar à fronteira e seguir pela Galiza”, sinalizou o autarca, confirmando que também prefere o caminho da costa atlântica no percurso até Madrid, com saída pelo sul de Vigo. Já o nordeste de Portugal “pode ir por Puebla de Sanabria”, sugeriu.

“Entre a costa e Madrid não há população. A linha Aveiro-Salamanca é uma boa ideia para mercadorias, mas para os passageiros o importante deve ser uma linha rápida entre a Corunha e Setúbal”, sustentou ainda o presidente da Câmara do Porto.

Da ferrovia para os aeroportos. Na entrevista, Carlos Punzón desafia o presidente da Câmara do Porto a comentar em que pé se encontra a colaboração entre as duas regiões, a este nível. “Propus ao presidente Feijóo a coordenação entre os aeroportos do Porto e Santiago. Estão a uma distância confortável um do outro, o que justifica essa aposta. Poderiam estar ligados por um comboio rápido e cada um deles especializar-se em determinados destinos. O Porto para voar para a África, Nova Iorque ou Brasil, e Santiago de Compostela para a América Latina, por exemplo. Assim podíamos ser mais eficientes”, revelou Rui Moreira que, à margem da conferência na Corunha, jantou com o governante da Galiza.

Quanto à gestão aeroportuária, o presidente da Câmara do Porto não se confrangeu em dizer que quer o Aeroporto Francisco Sá Carneiro (que cresceu mais do que os três aeroportos da Galiza juntos) quer o Porto de Leixões - este mais competitivo do que Vigo - são mais eficientes do que os congéneres galegos.

“O sucesso do Francisco Sá Carneiro não provém do apoio público às rotas. Trouxemos a Emirates, a United Airlines, Turkish Airline com zero euros. A estratégia portuguesa na gestão aeroportuária tem sido melhor do que a da Galiza, que conta com uma competição artificial de três aeroportos, e que foi determinante para o Porto. Os aviões vêm pelos passageiros, não pelos aeroportos, e o [aeroporto do] Porto cresceu porque a cidade se tornou uma atração turística e porque atraímos voos importantes que ajudaram o turismo a crescer”, considerou Rui Moreira, justificando que faz mais sentido apostar na coordenação entre os aeroportos do Porto e de Santiago de Compostela, porque o de Vigo está perto demais e tem “condições naturais difíceis”.

Já o Aeroporto de Lavacolla sim, “tem todas as condições e fica entre a Corunha e Vigo”, observou o autarca.

Críticas às CCDR

Numa entrevista em que Rui Moreira admitiu que, “nos últimos 35/40 anos, o desenvolvimento da Galiza tem sido fantástico” e que hoje tem uma “qualidade de vida melhor que o norte de Portugal”, o autarca lamentou, no entanto, que o mesmo não se tenha passado em Portugal. As culpas atribui à ausência de regiões autónomas, como tem Espanha (as designadas “Xuntas”). Objetivamente, isso tem prejudicado uma relação mais profícua entre a Região Norte do país e a Galiza, entende.

“Tínhamos uma Comissão de Coordenação da Região Norte [CCDR-N] com pessoas como Valente de Oliveira ou Braga da Cruz, mas hoje esta entidade é determinada pelo Estado Central. Olhamo-la um pouco de lado, não tem representação nem poder político. E em relação às cidades, a questão é claramente o Eixo Atlântico, que não está a funcionar bem. O Porto não tem interesse no eixo, pretendo sair. Quando Chaves-Verín, o melhor exemplo de eurocidade em toda a União Europeia o abandonou, e Vigo também não se interessou, algo corre mal”, assinalou ainda o presidente da Câmara do Porto que, a propósito, confirmou que não tem qualquer relação com o presidente da Câmara Municipal de Vigo.

“É zero”, disse Rui Moreira, confirmando que já recebeu Abel Caballero oficialmente no Porto, mas, em contrapartida, nunca recebeu dele um convite.

Coligação ibérica para enfrentar mercado global

Na entrevista com Carlos Punzón, o presidente da Câmara do Porto defendeu ainda uma ligação luso-espanhola, independente da União Europeia. A ideia não é nova e Rui Moreira, no início deste ano, já a tinha traduzido como uma espécie de “Iberolux”, numa entrevista à agência EFE, que deu à margem do Cities Forum, decorrido em fevereiro, no Porto. Agora, voltou a esclarecer o que sugeriu na altura.

“O que proponho é uma coligação ibérica para questões comuns, como o Benelux ou os países escandinavos tiveram. Estamos na UE, na NATO, temos a fronteira mais antiga da Europa e, juntos, fazemos a fronteira da União Europeia com o sul. Os institutos Cervantes e Camões devem trabalhar juntos para combater a influência do chinês e do inglês. Mas fusão dos dois países, não”, frisou o autarca, que defendeu uma interligação também a nível mercantil, de forma a competir com outros mercados mais agressivos, como o da China.

Regionalização “é guerra perdida”

Numa entrevista em que admitiu ainda não ter decidido se se candidata a um terceiro mandato, mas em que reiterou não ter mais ambições políticas, Rui Moreira disse que já não acredita que o país avance com a regionalização.

“Lisboa vê o resto do país como uma colónia. E o Presidente da República, que é muito popular, não quer. É uma guerra perdida”, constatou.

A fechar a entrevista, a inevitável análise sobre a resposta de Portugal à pandemia. O autarca acredita que o país foi mais eficaz na primeira vaga e recordou que o Município do Porto até antecipou medidas nacionais.

“Como sempre acontece no meu país, dizia-se que era um milagre e portanto não era necessário fazer mais nada. Em agosto, em Sanxenxo, vi toda a gente com máscara, em Portugal não. Fizeram-se grandes festas familiares no verão sem nenhum cuidado e falavam do milagre português, de como nada aconteceu na final da Champions League em Lisboa, também outro milagre”, ironizou.

Pode ler aqui a entrevista na íntegra.