Inovação

Rui Moreira defende intervenção “forte e segura” do Norte na transição digital

  • Isabel Moreira da Silva

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O presidente da Câmara do Porto afirmou que o Norte deve ter a ambição de ser “uma região hiperconectada, onde é possível e simples aceder a redes de comunicação de última geração, fiáveis e eficientes”. Rui Moreira falava como orador da conferência "Territórios em Transição", que assinalou, quarta-feira, o 133.º aniversário do Jornal de Notícias.

A pandemia alterou o paradigma e veio “tornar difícil projetar o futuro com razoável certeza”. As “alterações bruscas a que o mercado de trabalho está sujeito” impõem uma ação rápida aos governantes, e o presidente da Câmara do Porto defende que para dar resposta aos desafios resultantes do teletrabalho, e “para que a mudança seja eficaz, equilibrada, e sem deixar ninguém para trás, é fundamental investir estruturalmente nas infraestruturas digitais, no conhecimento e na inovação”, declarou ontem à tarde, na conferência de aniversário promovida pelo JN, em que também marcou presença o primeiro-ministro, António Costa.

Segundo Rui Moreira, o tempo futuro “exige a garantia de crescimento sustentável, alinhando o combate contra as alterações climáticas, com medidas de valorização territorial e da biodiversidade, das infraestruturas digitais e do conhecimento e educação”. Além de que se torna “imperativo” abordar os temas da energia, mobilidade, construção e habitação.

“A chave para desafiar e enfrentar o futuro deve passar por uma intervenção a Norte, forte e segura, no âmbito da economia do conhecimento, da inovação e da transição digital”, sintetizou o presidente de Câmara do Porto, salientando que esta “nova economia” deve enquadrar-se nas “áreas prioritárias de investimento”.

Nada disto se faz, continuou o autarca, se não houver uma forte sinergia com as instituições de ensino superior e centros de investigação, a que elogiou a qualidade, também partilhada com a excelência dos recursos humanos.

A “cultura da inovação” deve rever-se na ambição de ter “uma região hiperconetada”, que priorize “o acesso por parte das famílias nas suas habitações, mas também das várias empresas nos locais em que se querem fixar”, considerou ainda Rui Moreira.

Nesse sentido, encontra nas novas gerações fortes aliados. “A garantia de conetividade de elevada qualidade, que suporte esta nova forma de se estar ‘sempre ligado’, é vista pelas gerações mais novas como o novo normal”.

Na conferência de aniversário do Jornal de Notícias, realizada na outra margem do rio, em Vila Nova de Gaia, na presença do autarca Eduardo Vítor Rodrigues, de Inês Cardoso, diretora do JN, de Marco Galinha, presidente do conselho de administração do Global Media Group, Domingos de Andrade, diretor-geral editorial do Global Media Group, Afonso Camões, secretário-geral do grupo, entre outras personalidades, Rui Moreira partilhou o exemplo da Porto Digital, rede da cidade que disponibiliza acesso gratuito à internet no espaço público.

A infraestrutura já garantiu acesso a mais de 3,5 milhões de dispositivos, “dos quais saliento os mais de 300 mil alunos e investigadores do ensino superior, nacionais e estrangeiros”, disse o autarca, adiantando estar prevista uma expansão da rede, “que passará a ser a primeira rede de sexta geração disponibilizada numa cidade com esta dimensão”. O investimento permitirá multiplicar por dez a capacidade da rede, garantindo que seja possível andar pela cidade e seus locais mais emblemáticos, sempre ligado.

Domingos de Andrade: “Somos um dos países mais centralizados e centralizadores da Europa”

Aproveitando as palavras de Rui Moreira, Domingos de Andrade, antigo diretor do JN que assume atualmente as funções de diretor-geral editorial do Global Media Group, quis salientar que o JN, projeto nascido no ano de 1888, procura, todos os dias, “projetar o futuro com razoável certeza”, com “um olhar local para a globalidade dos problemas”.

Problemas esses que se prendem com “o envelhecimento e o despovoamento”, que ameaçam o futuro do país e que geram “assimetrias profundas” no território, considerou Domingos de Andrade. Para o interior, não basta por isso a propalada aposta na transição digital. Com anterioridade, “é preciso garantir o acesso à saúde, à cultura e a outros bens essenciais”, porque senão “estaremos a criar portugueses de primeira e portugueses de segunda”, observou.

Quanto aos 5,3 mil milhões de euros previstos na “bazuca” previstos para esta área, o diretor-geral editorial do Global Media Group defendeu que o mais importante é perceber, dentro dos 14 mil milhões de euros a fundo perdido, “quantos estarão canalizados para inverter as desigualdades e para resolver os problemas concretos das pessoas e das empresas”.

“Um país não se faz só com a modernização da máquina do Estado”, realçou Domingos de Andrade que, no final da sua intervenção, destacou a importância do poder local, porque o considera o expoente máximo da democracia pelo nível de proximidade aos cidadãos, e porque é também "o poder mais escrutinado”.

“Apesar de as autarquias portuguesas receberem cerca de 14% das receitas públicas, as câmaras, as mesmas, são responsáveis, por 52% do investimento público”, assinalou. “Somos um dos países mais centralizados e centralizadores da Europa, apesar de ser evidente que o Estado é menos eficaz e menos produtivo quando está a gastar o dinheiro dos contribuintes”, concluiu Domingos de Andrade.

No encerramento da conferência do JN que assinala os seus 133 anos, António Costa passou a pente fino vários temas da governação nacional, associados ao crescimento do país e à oportunidade da bazuca europeia.

O primeiro-ministro afirmou que é “prioridade” a nova ligação ferroviária Lisboa-Porto-Galiza, porque acredita que é preciso o país olhar para o espaço ibérico como uma “segunda frente de projeção”, pela valorização do interior.

Foi a 2 de junho de 1888 que foi lançada a primeira edição do Jornal de Notícias. Quatro páginas, em grande formato, por um preço de 10 réis.