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Rui Moreira contesta desigualdade de apoios a festivais no país

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Com apoios “insultuosos” de entidades públicas e a “concentração das agências publicitárias em Lisboa”, o Executivo municipal aprovou um apoio anual de 650 mil euros para manter na cidade o festival que representa um retorno económico na casa dos 36,1 milhões de euros. Sem patrocinador oficial, o Primavera Sound Porto quer trazer cerca de 45 mil pessoas em cada um dos quatro dias de música no Parque da Cidade.

“Ao contrário de festivais idênticos, que decorrem um pouco por todo o país, desde Lisboa ao Sudoeste, ao Alentejo, a Viana do Castelo, este festival não tem tido apoio do Turismo de Portugal”, criticou o presidente da Câmara, que considerou “insultuoso” o valor da verba da edição anterior.

Rui Moreira lembra que o instituto público “vai continuar a apoiar o Rock in Rio, vai apoiar as Jornadas da Juventude e os palcos e tudo mais, e para o Porto não há nada”, ao mesmo tempo que ignora que “se há coisa que, de facto, tem contribuído para a promoção da cidade, como destino para gente jovem, tem sido este festival”.

Recorde-se que, na última edição, cerca de cem mil pessoas passaram pelo Primavera Sound e terão gastado na cidade uma média de 365,42 euros.

Além da falta de verba pública, o facto de o Primavera Sound ter perdido o patrocinador principal é outro motivo para o reforço do apoio camarário. Rui Moreira já tinha deixado a crítica aquando da apresentação do evento, na semana anterior: “talvez por causa da concentração das agências publicitárias em Lisboa, e não, necessariamente, por algum centralismo, verificamos que, no sul, os festivais conseguem concentrar os apoios das marcas”.

Na altura, pretendendo chamar a atenção da indústria nortenha, que trabalha com essas agências publicitárias, o presidente da Câmara do Porto considerava que, “de vez em quando, é preciso explicar que alguns dos consumidores dos seus produtos também vivem cá”.

“Muitas dessas empresas, curiosamente, são aqui da região”, acrescentava Rui Moreira, apelidando de “tratamento quase colonial” a concentração de apoios. “Assim fica difícil”, considera o presidente da Câmara, deixando a mensagem de que “é bom que, enquanto consumidores, compreendamos que as receitas que aqui são geradas depois são sempre canalizadas para o mesmo sítio”.

Por isso, “numa situação destas, o que a Câmara do Porto deve fazer é apoiar um festival que é fundamental para a cidade e para a economia da cidade”, reforça, considerando esta “a nossa obrigação”.

Votada em reunião privada, na manhã desta segunda-feira, a proposta de apoio ao Primavera Sound recebeu a concordância de todas as forças políticas, à exceção da abstenção da vereadora da CDU.

Ilda Figueiredo e Sérgio Aires (do Bloco de Esquerda) trouxeram à discussão a possibilidade de atribuir benefícios, nomeadamente descontos no preço dos bilhetes, aos habitantes da cidade. O presidente da Câmara do Porto esclareceu estas duas forças políticas e também o PS que a proposta a votação referia-se, exclusivamente, ao apoio municipal dado ao festival. No entanto, Rui Moreira lembrou que, “para criar condições diferenciadas, em vez de falar em 650 mil euros, íamos para um apoio de 1,5 milhões ou dois milhões de euros e nós não temos esses recursos”.

“Se quiserem que seja tudo em Lisboa, também é relativamente fácil: deixamos de dar os 650 mil euros, dizemos que o festival tem que ser gratuito ou que vá para Lisboa, e vai mais um para o Passeio Marítimo de Algés. E depois vamos gastar o dinheiro a Lisboa em vez de o gastar cá”, concluiu o presidente da Câmara do Porto.