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Rui Moreira contesta decisão de manter a data das eleições: “nesse dia, por acaso, tudo pode funcionar”

  • Isabel Moreira da Silva

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Miguel Nogueira

O presidente da Câmara do Porto reafirmou esta tarde que a melhor solução era adiar as eleições presidenciais marcadas para dia 24. Com o país a preparar-se para um novo confinamento geral, Rui Moreira diz-se indignado com a decisão dos partidos em não alterar a Constituição. Quanto à recolha de votos nos lares fala em “total irresponsabilidade”.

Em declarações à comunicação social, o autarca disse que nesta circunstância lhe parecia “óbvio” que os decisores políticos tivessem optado pela suspensão das eleições, “para que as pessoas possam, em total liberdade e segurança, exercer o seu direito de voto, não criando esta divergência entre aquilo que é política e a vida dos cidadãos”.

“Das duas uma: ou precisamos de confinar as pessoas por razões de saúde pública ou não precisamos. Não podemos é confinar para umas coisas e não confinar para outras. É uma questão de bom senso”, afirmou, recordando que este novo confinamento, que classificou de “extremamente violento” vai ser um rude golpe para a economia, ao atirar mais pessoas para o desemprego e ao ditar o encerramento de muitos negócios.

Neste quadro, sustentou o autarca, adiar as eleições era perfeitamente exequível. “Em democracia, não estamos na Coreia do Norte, as leis são feitas por nós e se é preciso alterar as leis que alterem; se é preciso alterar a Constituição, já que andaram uma semana para declarar estas novas medidas, suspendam por 24 horas o estado de emergência e alterem a lei”, desafiou.

Depois de no início desta semana ter visto a sua proposta de recomendação para o adiamento das eleições presidenciais aprovada pelo Executivo Municipal, o presidente da Câmara do Porto comentou hoje novamente o tema, para dizer que é lamentável que no dia 24 de janeiro, “por acaso, tudo pode funcionar para eleger alguém”. E ironizou: “parece que o vírus se suspende” para as eleições.

Recolha de votos nos lares é uma “total irresponsabilidade e “muito imprudente”

Sobre as eleições presidenciais há ainda outra questão que preocupa Rui Moreira de “sobremaneira”: a recolha de votos de pessoas que residam em lares. Só no Porto, adianta, existem mais de 80, com um universo potencial de 3.500 pessoas.

“O que sei é que, neste momento, o grande problema de saúde é nos lares. Aliás, a Câmara Municipal do Porto desde março que tem tido relativamente à questão dos lares uma atividade e uma ação preponderantes. Atualmente temos, por exemplo, a Pousada da Juventude a funcionar - paga pela Câmara do Porto, para que as pessoas que vivem em lares onde haja pessoas infetadas possam lá ter o seu resguardo”, referiu.

“Ir na terça e quarta-feira a um lar, considero que é muito imprudente. No domingo, até à meia-noite, vamos receber as listas dos lares onde há pessoas que querem votar. Na segunda-feira, vamos ter de dizer a que horas é que queremos lá ir nos dois dias seguintes”, detalhou ainda.

O autarca, que teceu duras críticas à condução deste processo por parte do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, a quem ontem dirigiu uma carta sobre o assunto, coloca por isso em causa a segurança da operação.

“Desde logo, criamos um risco para as pessoas que estão nos lares, que vão ficar muito surpreendidas, porque não puderam receber a filha, a neta, o bisneto, mas vão ter lá o presidente da câmara vestido de escafandro, para recolher o voto. E depois pergunto assim: que condições tenho para garantir o sigilo do voto? Está uma pessoa acamada, como é que o garanto? Não posso fazer a cruz pela pessoa. Não posso recolher o voto vendo em quem votou”, questionou, acrescentando que esta ação pode ser acompanhada pelos representantes das candidaturas.

“Tudo isto me parece, peço desculpa, de uma total irresponsabilidade. Nestas coisas o povo português é muito tranquilo, muito sereno. Percebo que é muito importante haver eleições. Mas tudo podia ser prevenido e tratado com bom senso, mas está a ser tratado com extremo mau senso”, declarou.

Além dos lares, acresce a recolha de votos das pessoas confinadas, quer seja porque estão infetadas ou a cumprir isolamento profilático, lembrou também o presidente da Câmara do Porto. E, apesar de ser declaradamente contra o atirar de responsabilidades para os municípios, e de sugerir que o melhor era que o ministro Eduardo Cabrita pedisse reforços à Segurança Social, Rui Moreira acredita que o Porto será, uma vez mais, exemplo.

“Acho que vamos conseguir. Vamos precisar de 30 ou 40 equipas, no mínimo. Mas estou convencido de que vamos ter funcionários suficientes para isto”. Todos a título voluntário, frisou.

Inscritos para o voto antecipado ultrapassam os 9.000

Nas declarações à imprensa, feitas após ter recebido esta tarde o candidato liberal à Presidência da República, Tiago Mayan Gonçalves, o autarca informou ainda que, neste momento, há mais de 9.000 eleitores inscritos para o voto antecipado em mobilidade, ato marcado já para o próximo domingo, dia 17.

“O MAI recomendou à Câmara que houvesse 16 mesas de voto e nós vamos ter mais; vamos ter 22 mesas de voto. Vão funcionar no CCD [Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da Câmara Municipal do Porto], em Alves Redol”, referiu Rui Moreira, que revelou ter escolhido também esta modalidade de voto.

“Acreditamos ter reunidas as condições para que o voto antecipado decorra em conforto e segurança. Fomos além das recomendações do Ministério da Administração Interna, que demonstram o empenho da Câmara para que as coisas corram bem”, concluiu.