Urbanismo

Rui Moreira: as ilhas do Porto são "uma oportunidade de repovoamento" e "não um mal a erradicar da cidade"

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Para o Presidente da Câmara Municipal do Porto, as ilhas do
Porto são "uma oportunidade de repovoamento" e "não um mal a erradicar da
cidade". O autarca afirmou que o estudo mandado fazer pela Câmara Municipal do
Porto e apresentado ontem no Rivoli servirá de "ponto de partida para organizar
um programa de regeneração das ilhas", que reconhecerá "o direito à cidade".
Contudo, alertou que não poderá ser um esforço solitário da Câmara,
sendo necessária a mobilização dos proprietários, assim como também a
colaboração do Governo e a disponibilização de fundos comunitários.


A ideia foi reforçada pelo vereador com o pelouro da
habitação, Manuel Pizarro, que acrescentou que as ilhas são também precisas
"para dar uma casa adequada às pessoas", lembrando que os pedidos de habitação
social ao município chegam cada vez em maior número.


Com o título "Ilhas" do Porto - Levantamento e
Caraterização, o documento foi coordenado por Isabel Breda Vázquez e Paulo
Conceição, do Instituto da Construção da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto. Apurou a existência de 957 "ilhas" na Invicta,
onde vivem cerca de 10.400 pessoas e aponta para cinco possíveis modelos de
intervenção, incluindo a demolição ou a reabilitação de alguns núcleos.


Segundo o mesmo, a freguesia com maior número de ilhas é
Campanhã, com 243, seguida da União de Freguesias do Centro Histórico e
Cedofeita, com 176 e por Paranhos, com 155. Lordelo e Massarelos é a União de
Freguesias com menos ilhas, contando-se apenas 75. Estas quase mil ilhas são
compostas por mais de oito mil casas, mas somente cerca de 4.900 estão
habitadas.


Muitos dos moradores das "ilhas" são velhos, sendo que mais
de 65% dos inquiridos residem no mesmo local há mais de 30 anos e 75% diz-se
satisfeito ou muito satisfeito com a vizinhança. A degradação, sobrelotação,
ausências de equipamentos básicos interiores ou exteriores, como
casas-de-banho, problemas de vizinhança ou isolamento são comuns a quase todos
estes espaços.


As famílias sem filhos ou compostas por "pessoas isoladas"
representam 60% das que vivem nas ilhas; as reformas são, em 62% dos casos, a
principal fonte de rendimento; a média de idades dos moradores é de 53 anos e
os residentes com mais de 65 anos constituem 37% das pessoas que ainda vivem
nas ilhas. Tudo dados que apontam para "a presença de um contexto de
envelhecimento e vulnerabilidade social", refere-se no estudo. Contudo, isto
não significa que as "ilhas" sejam espaços obsoletos quando se
procura uma casa barata no Porto. O estudo diz que 12,4% dos moradores destes
núcleos chegaram ali há menos de cinco anos e entre eles estarão alguns
imigrantes oriundos da Bulgária, Brasil ou Angola.


Contudo, o documento refere que 60% dos inquiridos estão
"satisfeitos" com o alojamento e que 34% não quer mudar de casa. A maioria
(54%) assume, contudo, um desejo de mudança e, dentro deste grupo, 60% disse
que gostaria de poder residir numa casa reabilitada no mesmo local. Dos 503
agregados familiares que mostraram vontade de abandonar a "ilha", 402 assume
que não o fez ainda por "falta de dinheiro". A renda média nestes núcleos habitacionais, segundo o documento,
é de 85 euros, mas para a maioria dos moradores que chegaram na última década sobe
para os 162 euros.


A ilha da Belavista, propriedade do município e onde já está a
decorrer um plano de reabilitação, vai servir de "laboratório" para as
restantes. O projeto delineado para o local aposta no conceito de reabilitação
a baixo custo (cerca 6500 euros por casa), mantendo os moradores no mesmo
local, mas dando-lhes novas condições e novos vizinhos.


A autarquia alertou contudo, que há casos em que o estado de
degradação vai implicar "a demolição e realojamento", uma das cinco hipóteses apontadas
pelo estudo. As outras soluções passam pela "saída" dos residentes - nos casos
em que estes o pretendem fazer - ou pelo "desenvolvimento de novos tipos de ocupação".

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