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Respeito e afetos levam esta noite coração de D. Pedro em viagem ao Brasil

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Está pronto a entrar a bordo de um avião da Força Aérea Brasileira o coração que o rei D. Pedro IV entregou à cidade em homenagem ao povo que lutou ao seu lado durante o Cerco do Porto. Depois de exposta ao público pela primeira vez durante dois dias na Irmandade da Lapa, a herança do monarca vai ser transladada para o Brasil a propósito das celebrações dos 200 anos de independência, que também a ele se deve. Mas viaja com bilhete de volta para um programa comemorativo associado no regresso.

“O Porto é uma cidade de pertenças e afetos. Por conseguinte, compreende bem o valor sentimental que o coração de D. Pedro tem para o povo brasileiro”, sublinhou Rui Moreira durante a assinatura, na tarde deste domingo, do protocolo que confirma a transladação do coração do rei, e que “traduz o compromisso do Município com as comemorações de um acontecimento que implica, em boa medida, com a história da nossa cidade e com a formação da sua identidade”.

Na noite deste domingo, o próprio o presidente da Câmara do Porto viajará para o Brasil para entregar o coração ao Governo brasileiro, numa viagem que, confirma, lhe “provoca um sentimento de responsabilidade”. Ouvido o parecer do Instituto de Medicina Legal, que confirmou estarem reunidas as condições para a transladação do objeto, o presidente da câmara assume que “não havia nenhuma razão para não o fazer, antes pelo contrário”.

Com este “empréstimo”, o presidente da câmara espera “que os brasileiros percebam que há um respeito enorme de Portugal relativamente à independência do Brasil, que percebam a ligação do Porto com esses acontecimentos e com D. Pedro”, mas também que “os portuenses percebam porque é que o coração está cá”, recordem que foi na cidade que o liberalismo venceu o absolutismo e conheçam a vontade última do rei para que o seu coração ficasse na Invicta.

Depois da confirmação de que cerca de 6.500 pessoas passaram pelo salão nobre da Irmandade da Lapa para ver o coração do monarca, Rui Moreira irá propor que o objeto seja exibido “pelo menos de cinco em cinco anos”, altura em que necessita de ser retirado da urna onde está guardado para reposição dos líquidos que garantem a sua conservação, “para que as futuras gerações também se possam aperceber, não apenas do que é o coração, mas do seu significado simbólico que vai para além da relíquia”.

Coração entra no Brasil como se o próprio imperador ali regressasse

Em representação do Governo brasileiro, o embaixador da República Federativa do Brasil sublinhou que “há neste ato bem mais do que um simbolismo. É também uma demonstração concreta dos laços históricos entre os nossos países”.

Raimundo Guerreiro Silva reafirmou “o nosso reconhecimento a Portugal pela moldura que nos permitiu forjar a nação brasileira, a D. Pedro pelo gesto, para nós heroico, que selou o destino do Brasil como nação independente em 1822, à cidade do Porto pela generosa acolhida ao pedido do Governo brasileiro, e à Irmandade da Lapa, por ter compreendido o significado histórico, afetivo e simbólico [do coração] para o Brasil, para a cidade do Porto e para Portugal”.

O embaixador deixou a garantia de que este “coração que, sem jamais ter deixado de pulsar pela sua terra Natal, pulsou também, muito forte, pelo Brasil”, será recebido do outro lado do Atlântico “como se o próprio imperador estivesse a regressar ao país” para as cerimónias cujo epicentro acontece a 7 de setembro. “Os vínculos entre os nossos países renovam-se a partir do ato de amizade e confiança como o que acabámos de celebrar”, concluiu.

O protocolo assinado entre o presidente da Câmara do Porto e o embaixador da República Federativa do Brasil pressupõe que, além de viajar em ambiente pressurizado, durante a estadia no Palácio Itamaraty, em Brasília, o coração seja alvo de todos os cuidados que garantam a sua integridade e segurança.

A honra, a lealdade, a convicção e a liberdade de D. Pedro e do Porto

Durante a cerimónia, Rui Moreira lembrou o monarca como “uma figura emblemática da cidade”, e que “personifica muitos dos seus valores identitários: honra, lealdade, convicção e liberdade”.

“O heroico apoio dos portuenses ao exército liberal comandado por D. Pedro, durante a guerra civil portuguesa de 1832-1834, fez emergir uma estreita cumplicidade (…) que perdura até hoje e tem no coração depositado na Igreja da Lapa o seu maior e mais importante símbolo”, afirmou o presidente da câmara.

Reconhecendo, igualmente, a importância do rei português para os brasileiros, Rui Moreira admitiu que “desde a primeira hora não nos pareceu correto negar ao Brasil a possibilidade de comemorar a sua independência com a relíquia que, porventura, melhor representa a bravura, paixão e força do seu primeiro imperador”.

“Consideramos que a trasladação do coração de D. Pedro é uma oportunidade de valorizar o papel do Porto na relação entre Portugal e o Brasil”, afirmou o presidente da câmara, certo de que “o Município do Porto está, não apenas a homenagear o Brasil, mas também a promover o aprofundamento e a dinamização da cooperação entre os dois países-irmãos”.

Nova oportunidade para ver o coração do rei a 10 e 11 de setembro

Rui Moreira assegurou que o coração do monarca estará no Brasil durante 20 dias e que o bilhete de regresso ao Porto já tem a data de 8 de setembro. Quem não teve a oportunidade de visitar a exibição daquela relíquia, vai poder fazê-lo nos dias 10 e 11 desse mês. Nessa altura, a Irmandade da Lapa vai oferecer também a mostra “D. Pedro IV: um coração, uma vontade” de contextualização histórica do legado do 28.º Rei de Portugal e 1.º Imperador do Brasil.

O presidente da Câmara do Porto adiantou ainda que “a indelével marca que D. Pedro deixou na cidade” será igualmente objeto de uma exposição no Museu da Misericórdia do Porto e de “um concerto no renovado órgão da Igreja da Lapa”, além de estarem previstas publicações, conferências e visitas “tendo como tema transversal D. Pedro, o Porto e o Brasil”.

“Trata-se de celebrar um acontecimento histórico”, afirmou Rui Moreira acerca da independência do Brasil, “que transformou profundamente dois países, e moldou a identidade de dois povos”.