Mobilidade

Reportagem: Alunos do 6.º ano criam ciclovia que os vai levar à universidade e a um mundo mais verde

  • Cláudia Brandão

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Se há uns anos o sonho do Homem era ir à lua, hoje o sonho é criar um mundo mais verde. Esta é, pelo menos, a ideia que tem a Olívia Maia que, aos 11 anos, e ao lado dos colegas do Colégio Luso-Francês, projetou uma ligação ciclável entre o Amial e a Asprela. Querem uma cidade com menos carros, um ambiente mais ecológico e um estilo de vida mais saudável para todos. A Câmara do Porto ouviu os jovens e fez da vontade deles uma realidade.

A assinatura que, orgulhosos, deixam no asfalto é o ponto alto de uma ideia que começou a ganhar pedalada no ano letivo anterior como um projeto na escola, sob o tema da sustentabilidade. “Começámos por identificar o problema e fizemos uma análise muito vasta de grandes cidades da Europa que têm já há muitos anos uma cultura de ciclovia”, explica Paula Silva, uma das professoras responsáveis pelo projeto PEDALAR.

A descoberta de outra realidade despertou o entusiasmo e as conquistas foram ganhando forma. “Eles começaram a perceber que há outras realidades e essas realidades poderiam também fazer parte da nossa cidade”, afirma a docente.

Para Afonso Gonçalves, de 11 anos, é tudo muito simples: “A importância de uma ciclovia na cidade do Porto é promover a mobilidade sustentável, melhorar o ambiente e diminuir a poluição”. “Como a nossa professora andava de bicicleta todos os dias, nós falávamos muito sobre isso e daí tivemos a ideia de construir uma ciclovia”, acrescenta Leonor Teixeira.

Foi aí que, como conta a professora do Colégio Luso-Francês, “pensámos na ousadia de apresentar a proposta à Câmara do Porto”. E a recetividade foi total.

“Foi a escola que nos desafiou no início do ano letivo”, relembra a vereadora dos Transportes, Fiscalização e Proteção Civil. Cristina Pimentel conta que “vendo o trabalho deles, que era absolutamente fantástico, devolvemos-lhes o desafio. Dissemos: não vamos ficar por aqui, vamos desenhar esta ciclovia em conjunto e, no fim, vamos materializá-la”. O resultado já pode ser visto – e utilizado – ao longo da Rua Conde Avranches.

Para a vereadora, os alunos “apresentaram-nos um ótimo projeto, lançaram-nos um desafio fantástico”, o de ligar o colégio à zona da Asprela e ao Hospital de São João. É o caminho que, um dia, à partida, farão até ao Polo Universitário, quando chegar a altura do ensino superior. Sem “limites absolutamente nenhuns de imaginação e de vontade de intervir na cidade”, o projeto foi desenvolvido e implementado com a ajuda técnica do Município.

Uma geração a crescer pela mudança consciente e coletiva

Com estes cerca de 700 metros cicláveis, Leonor explica que “queremos incentivar as pessoas a andar todos os dias de bicicleta, acabando, assim, com a poluição” e o colega Afonso acrescenta: “queremos chamar a atenção para as questões ambientais”.

Maria Bonito vai mais longe e partilha a ideia de que “esta ciclovia serve para mostrar a todos que, se nós quisermos, nós conseguimos. Podemos todos usá-la, usar alguma coisa que seja sustentável”. “Temos bastante orgulho do que estamos a fazer”, assume a jovem de 11 anos.

“Sinceramente, não pensei que a nossa ideia inicial se pudesse tornar real” partilha Afonso, lembrando que “já estamos neste projeto desde o 5.º ano e este ponto que conseguimos atingir é muito alto. Estamos todos muito felizes por isso”.

Reconhecendo que “a Câmara teve uma recetividade incrível, uma atitude muito construtiva, muito pedagógica para com os nossos alunos”, a professora Paula Silva sublinha que “os alunos trabalharam um pouco como engenheiros, como arquitetos e o nosso trabalho procurou ser sempre de grande rigor para que os alunos percebessem que é fundamental terem consciência que podemos trabalhar como gente crescida”.

A vereadora da autarquia confessa que “este foi, realmente, um projeto de cocriação que nos surpreendeu a todos” e assume que “fizemos um esforço grande para ir ao encontro da vontade dos alunos”, que incluiu a obrigatoriedade de a ciclovia apresentar espaços verdes e de, um dia, ser erguida uma estátua na rotunda. A responsável pela área dos transportes garantiu que o Município está “sempre aberto a todas as parcerias para pensar a cidade em conjunto, para trabalhar com a comunidade”.

Cristina Pimentel acredita que “a partir do momento em que estes espaços se tornam seguros e disponíveis, e vendo o entusiasmo desta comunidade, as pessoas vão começar a utilizá-los”. Por seu turno, a professora do Colégio Luso-Francês, acredita que “ esta nova geração vai dar um impulso muito significativo e precisamos desta consciência coletiva para trazermos mudanças para a cidade, para o país e para o mundo, efetivamente”.

Além da ciclovia, o projeto PEDALAR incluiu a criação de duas zonas escolares junto ao Colégio Luso-Francês. A implementação do sistema “kiss & ride” – já em vigor noutras zonas escolares – pretende promover uma maior fluidez do tráfego, assim como uma maior segurança e melhor acessibilidade dos alunos.

A aposta da cidade nas ciclovias vem ganhando força desde o ano passado com entrada em prática do plano municipal para resgatar o espaço público, que tem feito nascer algumas dezenas de quilómetros de ligações cicláveis. A medida vai ao encontro de uma mobilidade urbana mais verde, que contribua para a descarbonização e para o cumprimento da meta de redução de 50% das emissões de CO2 até 2030, a que o Município se propôs.