Urbanismo

Ramal da Alfândega: solução mista entre transporte coletivo e uso para lazer ganha adeptos

  • Isabel Moreira da Silva

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O debate sobre a reativação do Ramal da Alfândega está lançado. Não será para “marcar passo”, disse Rui Moreira, mas sim para num curto espaço de tempo levar a cidade a tomar uma decisão. Entre as duas hipóteses apresentadas e amplamente estudadas – uma para transporte rápido elétrico e outra para a reconversão em modos suaves e criação de um parque urbano – há ainda uma terceira via que agradou aos interessados: compaginar ambas as soluções e aproveitar o melhor dos dois mundos. Toda a informação referente a este debate está a partir de hoje disponível no microsite ramalalfandega.cm-porto.pt.

Sim, neste caso será possível agradar a gregos e troianos. É o próprio presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que o admite, dizendo que o uso misto do Ramal da Alfândega é exequível e, pessoalmente, a solução que mais lhe agrada.

Numa matéria em que “nem o Executivo Municipal comunga de uma opinião unânime”, partilhou por seu turno o vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, do debate que esta tarde convocou cerca de duas dezenas de pessoas à Biblioteca Municipal Almeida Garrett, e que foi amplamente participado nas redes sociais da Câmara do Porto, com a transmissão a ser assegurada em direto (pode revê-la aqui na íntegra), coube a Paulo Pinho, professor e investigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, apresentar um estudo sobre o potencial de procura do transporte coletivo para o Ramal da Alfândega.

Na abertura da sessão, Pedro Baganha já tinha referido que o “achismo” ficou à porta. Pretendia a Câmara do Porto contribuir para uma discussão mais esclarecida, avaliando o interesse latente da população por esta solução, esclareceu o vereador.

A julgar somente pelos números apresentados, o transporte público será uma solução a equacionar. De acordo com o investigador, “os valores médios diários anuais, com transbordo, variam entre os 7.367 passageiros, no caso de serem consideradas duas estações [Alfândega e Campanhã], e os 8.817 passageiros, introduzindo a estação intermédia nas Fontainhas”. “Eu próprio fiquei admirado com os resultados”, confessou Paulo Pinho, durante a apresentação em que explicou que foram estudados duas opções de serviço: uma com duas estações (Alfândega e Campanhã) e outra com três estações (Alfândega, Fontainhas e Campanhã).

“A introdução da estação intermédia das Fontainhas faz aumentar a procura em cerca de 20%”, informou ainda o especialista, esclarecendo que nestes cálculos não considerou “o efeito turismo”, pelo que toda a avaliação foi feita com base nos moradores e pessoas que trabalham na cidade do Porto.

“E se conseguíssemos conciliar as duas soluções?”

Rui Moreira reforçou que “não há certezas absolutas” sobre esta matéria e que, por isso, fazia sentido estender o debate aos cidadãos. Disse ainda não ver mal nenhum pelo facto de o assunto ser discutido de forma “aguerrida” pelas várias entidades e personalidades.

Para o autarca, reativar o uso do Ramal da Alfândega, antigo canal de ligação entre Campanhã e a zona ribeirinha, encerrado desde 1989, é o mais importante, porque “vai permitir cerzir um rasgão na cidade”, além de que, acrescentou, “insere-se numa estratégia mais profunda que nós não abandonamos da ligação, através da Ponte D. Maria Pia, a Gaia”.

Recordando que hoje em dia há soluções de mobilidade que não obrigam a que o transporte se faça em “trilho ou carril”, Rui Moreira lançou a questão para a adoção de uma solução mista.

“Pergunto se não faria sentido nós termos este veículo a andar de segunda a sexta-feira, e ao sábado e domingo o veículo parava e utilizávamos o ramal como parque urbano? Talvez esta fosse a forma mais útil de olhar para esta valência”, considerou o presidente da Câmara do Porto, que disse ver vantagens na utilização do Ramal da Alfândega para fruição da população ao fim de semana, num cenário em que “as pessoas podiam andar a pé, de bicicleta ou de trotinete”.

“Tecnicamente julgo que não haverá inconveniente”, analisou Rui Moreira, avançando que a IP – Infraestruturas de Portugal, entidade gestora do Ramal com quem a Câmara do Porto estabeleceu um contrato de concessão em julho do ano passado, tem manifestado “enorme compreensão e interesse” na forma como o processo tem sido conduzido pela Câmara do Porto. “Não é por aí que teremos grande inibição”, observou. Isto porque o contrato estabelecido com a IP prevê somente a reativação do ramal para ecopista, mas o vereador do Urbanismo confirmou que não haverá qualquer entrave caso seja necessário fazer um aditamento. “Existe um acordo de cavalheiros”, disse Pedro Baganha.

Atualmente, o trabalho de desmatação do Ramal da Alfândega está feito, embora um deslizamento de terras tenha obrigado o município a desenvolver um projeto de consolidação da escarpa, que não deixa de ser compaginável com os trabalhos que se venham a seguir, garantiu o responsável pelo Pelouro do Urbanismo. Até porque há urgência em devolver o espaço à cidade ao final de mais de 30 anos. “Não vamos eternizar este debate. Gostaríamos de rapidamente ‘dar fogo à peça’ depois de amadurecido o estudo”, afirmou Rui Moreira.

Na parte da sessão aberta ao debate registaram-se várias intervenções, entre as quais do engenheiro civil António Campo e Matos, do empresário Mário Ferreira, e de Pedro Pardinhas, em representação do GARRA - Grupo de Ação para a Reabilitação do Ramal da Alfândega.

Dos comentários recolhidos, presenciais e através das redes sociais, há opiniões que pendem mais sobre uma ou outra solução, embora também se verifique um crescente número de pessoas agradada com a hipótese que concilia os dois usos.

Conheça ao pormenor as duas soluções no microsite

No microsite ramalalfandega.cm-porto.pt encontra todos os estudos referentes à reativação do Ramal da Alfândega e pode aprofundar o seu conhecimento sobre as duas soluções apresentadas à cidade: a primeira referente à reconversão direta modos suaves inclinação e parque urbano, entre Miragaia e Campanhã, e a segunda que equaciona a utilização do canal para transporte rápido e elétrico.

Sucintamente, a primeira proposta contempla a utilização de percursos mecanizados que permitam ligar a cota baixa à cota e alta da cidade, a instalar na escarpa a sul, na Rua Duque de Loulé, na Calçada das Carquejeiras, na zona compreendida entre as Fontainhas e a Ponte D. Maria Pia, e na Calçada do Rêgo Lameiro. A mais importante destas ligações ficará localizada o junto à ponte, permitindo relacionar a ciclovia da Avenida de Gustavo Eiffel, o tabuleiro da Ponte D. Maria, ligando à rede ciclável de Gaia. Esta solução preconiza ainda a construção de um parque urbano em socalcos, zonas de descanso e miradouros.

Quanto à hipótese de aproveitamento do ramal para o transporte público, a solução passará sempre por uma mobilidade elétrica, que pode ou não ser feita em carris. Este transporte teria uma frequência de oito minutos, demorando apenas cinco minutos a percorrer o ramal. Neste projeto, parte do parque de estacionamento junto ao edifício da Alfândega do Porto será transformado numa "alameda pedonal arborizada".