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Quando tratar o cancro por “tu” pode trazer mais qualidade de vida

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No pequeno auditório do Rivoli, o cancro, em especial o do pulmão, foi ontem, ao final da tarde, tratado por “tu”. Entre testemunhos pessoais, música e opiniões de especialistas, a doença foi mais diagnosticada pela sua evolução e qualidade de vida que pode sempre dar aos pacientes e quem os acompanha, do que pelos seus aspetos mais dramáticos.

A iniciativa, promovida pelo Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup), reuniu um painel de especialistas que debateram o cancro do pulmão nos seus mais variados aspetos. Aliás, entre todos, o que causa mais mortalidade em Portugal e que tem, ainda hoje, uma causa principal: o tabagismo.

“É um fator determinante para a sua existência. Por isso, combater, hoje, o cancro do pulmão é estimulante”, assinalou Bárbara Parente, pneumologista, adjunta da direção clínica da CUF Oncologia e coordenadora da Unidade de Cancro do Pulmão a Norte, acrescentando: “Hoje em dia, nenhum cancro pode ser tratado sem uma equipa multidisciplinar e sem os avanços terapêuticos inovadores”.

Todos foram unânimes em reconhecer que o paradigma do cancro do pulmão mudou. “As pessoas estão a ser melhor tratadas. Evoluímos muito nesta área”, reconheceu o diretor do Ipatimup, Manuel Sobrinho Simões, secundado pelos seus colegas de painel: Venceslau Espanhol, diretor do serviço de pneumologia do Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ), António Araújo, diretor do serviço de oncologia médica do CHUSJ, e José Carlos Machado, vice-presidente do Ipatimup. O debate foi moderado pelos jornalistas Miguel Soares e Tiago Alves, ambos da Antena 1.

“Hoje, eles dizem-nos a verdade”

A evolução dos medicamentos, mas também a forma como se comunica a existência da doença junto dos pacientes é mais próxima e verdadeira. Aliás, este último aspeto foi realçado pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, presente na sessão, deixando um elogio aos especialistas: “A informação é hoje muito maior. Hoje, felizmente, eles dizem-nos a verdade. Sabem que a sentença pode não ser definitiva”.

O autarca portuense deixou um conselho à plateia: “É possível vencer [a doença] por causa dos médicos, da Ciência, que tem evoluído extraordinariamente, mas também por causa dos nossos comportamentos. Não devemos pedir o impossível. Devemos procurar os confortos possíveis. Por exemplo, ouvir música”.

Estava dado o mote para ouvir Pedro Abrunhosa, com “É preciso ter calma” e “Eu não sei quem te perdeu”. O músico foi o primeiro de um grupo de convidados "para além da ciência" a estar presente nesta iniciativa, que terá ainda mais cinco sessões que vão passar por outras tantas cidades do país, entre janeiro e março, todas com entrada livre.

Com este evento, o Ipatimup pretende reintroduzir o tema da doença na discussão pública e ouvir os especialistas, numa altura em que um em cada cinco doentes oncológicos viu o seu tratamento ser atrasado por causa da pandemia e cerca de 100 milhões de rastreios foram cancelados em toda a Europa.