Sociedade

Projeto para o Tarrafal premiado

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É a primeira vez que um projeto português vence
este concurso. Foi no dia 5 de abril que Marzia Bruno recebeu
o telefonema de Nova Iorque, mas diz que ainda hoje não consegue acreditar... "Não consigo descrever a felicidade", diz esta italiana, a frequentar
o Doutoramento em História de Arte da Faculdade de Letras da Universidade
do Porto (FLUP). Entre as 423 candidaturas enviadas por 53 países, o júri
do apexart International Franchise Program 2016-17,
composto por 200 elementos de todo o mundo, selecionou quatro propostas, mas
foi a de Marzia que ficou em primeiro lugar. O projeto de curadoria
chama-se "A Glimmer of Freedom", o que se poderá traduzir por "Um
lampejo de Liberdade" e vai concretizar-se no próximo ano no Campo do
Tarrafal, em Cabo Verde.


Marzia Bruno é italiana. E foi em Florença que
concluiu o curso de Belas Artes. Em 2005 veio para Portugal ao abrigo do
Programa Erasmus e foi aí que todo o percurso de vida mudou. Decidiu que seria
na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto que faria o seu Mestrado
em Estudos Artísticos, com especialização em Estudos Museológicos e
Curadoriais. Foi ficando por cá, trabalhou no Museu de Aveiro e, já com uma
bolsa da FCT, aventurou-se no Doutoramento em História de Arte da FLUP. Porque
não em Florença? "Porque a decisão de fazer o doutoramento em Itália seria
óbvia. Um dado adquirido. E o meu interesse é por culturas novas", diz.


O projeto de curadoria que lhe valeu este prémio
internacional nasceu de uma visita realizada a Cabo Verde em 2014. Foi durante
essa visita que percebeu o interesse da valorização histórica deste lugar que
entre 1936 e 1954 abrigou presos políticos portugueses. "A Colónia Penal
do Tarrafal ficou conhecida como o ?Campo da Morte Lenta' justificado
pelas péssimas condições climáticas, saúde, alimentação e um regime
prisional marcado por um extrema violência. Mais tarde, de 1962 a 1974, sob o
novo nome - ?Campo de Trabalho de Chão Bom' - foi usada para aprisionar
líderes das guerras pela independência em Cabo Verde, Angola e
Guiné-Bissau. No total foram lá presos mais de 340 antifascistas
portugueses e cerca de 230 nacionalistas africanos", recorda Marzia.


Atualmente, as instalações do Tarrafal
preservam a estrutura arquitetónica das celas e as grades originais das
celas de tortura. O projeto de Marzia Bruno pretende fazer o levantamento
dos prisioneiros que estiveram no campo, entrevistar os que ainda se encontram
vivos e desafiar os artistas locais a apresentarem propostas.


"Os relatos de histórias pessoais das pessoas e o
espaço físico são um legado do colonialismo e pretendem ser um veículo
para a reflexão deste projeto curatorial. O nome Tarrafal, por si só,
refere-se à Luta e Liberdade, e a exposição irá explorar a visão dos artistas
sobre estas questões, articulando o espaço físico com questões
contemporâneas. Relacionando-se com a memória do espaço, quatro artistas
serão desafiados a criar obras de "Land Art", técnica também conhecida como
"Earth Art" ou "Earthworks", na paisagem envolvente, dentro dos limites de
prisão", explica a estudante na proposta submetida a concurso.


A decorrer entre abril e maio de 2017,
a exposição irá reunir várias instalações "site-specific", no interior
das celas, enquanto as paredes exteriores irão exibir mapeamentos de
projeção digital ("Video Mapping" ou " Projection Mapping"). Espaços como
o refeitório, a enfermaria ou a cela "frigideira" (a forma mais atroz
de punição perpetrada no Campo) serão os espaços que servirão de inspiração ao
trabalho dos artistas. Estas instalações serão produzidas com materiais
locais, os efeitos sonoros e os mapeamentos de projeção irão ser
utilizados na manipulação do espaço. Em simultâneo, serão levadas a
cabo iniciativas como música tradicional, dança, narração de histórias, mesas
redondas com ex-prisioneiros e atividades com as comunidades escolares
locais.


Sobre o apexart International Franchise Program


O apexart International Franchise Program é uma
iniciativa da apexart,
uma associação artística sem fins lucrativos norte-americana que visa
dar a curadores independentes e artistas emergentes e estabelecidos a oportunidade
de proporem e produzirem uma exposição a acontecer em qualquer lugar do
mundo, com exceção de Nova Iorque. Fundada pelo artista Steven Rand em
1994, a apexart concretiza esta missão através de exposições, um programa
internacional de residência, uma iniciativa de publicação de livros, programas
públicos e eventos.


As propostas vencedoras (na edição deste ano - a
nona de sempre - houve quatro) recebem um financiamento que pode ascender
aos 10 mil dólares e apoio administrativo para a sua implementação no
terreno. O projeto "Um Lampejo de Liberdade" venceu na categoria "Programa
Franquia".


Fonte: Portal de Notícias da U.Porto