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Projeto de reconversão do Matadouro foi apresentado em reunião de Câmara

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O projeto da reconversão do antigo Matadouro Industrial foi esta manhã apresentado em reunião de Executivo municipal pelo arquiteto Diogo Brito, do gabinete OODA, uma semana após a sua adjudicação. A empresa portuense Mota-Engil foi a vencedora do concurso, com o projeto defendido pelo arquiteto japonês, Kengo Kuma, em parceria com os OODA, da Escola de Arquitetura do Porto.

Na sessão camarária hoje realizada, Rui Moreira convidou o arquiteto Diogo Brito a apresentar à vereação o projeto que convenceu o júri do concurso, lançado há dez meses pela empresa municipal de Gestão e Obras do Porto - GO Porto, como aquele que melhor serve os desígnios para a reconversão do antigo Matadouro Industrial e, num plano mais extenso, a própria reorganização do tecido urbano de Campanhã.

Na sua intervenção, Diogo Brito começou por garantir que o projeto vencedor (que também assina) vai contribuir para a coesão social e territorial da zona oriental da cidade. "Queremos criar um espaço acolhedor, agregador na sua fruição e com lógica de circulação", que se compromete também a materializar as três grandes componentes definidas no caderno de encargos: na nova infraestrutura vão coexistir as vertentes empresarial, cultural e social, salientou.

Aliás, esta visão esteve sempre presente no desenvolvimento do processo de criação, partilhado entre elementos provenientes da Escola de Arquitetura do Porto e o gabinete internacional de Kengo Kuma, responsável por projetar o novo Estádio Nacional de Tóquio, que receberá a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2020. Até porque, afirmou, desde logo foi preocupação "perceber as idiossincrasias do local, fazendo as perguntas certas para melhor responder ao desafio".

Com grandes dificuldades de afirmação no espaço envolvente, considerando que, "no seu entorno, há diversas circunstâncias difíceis de gerir, entre as quais a gestão de acessibilidades" - como a "ferida aberta" pela VCI (Via de Cintura Interna), com um "talude de 10 metros", e o limite físico do Mercado Abastecedor - o projeto tinha de ser suficientemente audaz para ultrapassar essas adversidades, lembrou.

Entre as soluções encontradas, gizou-se então a criação de diferentes espaços públicos, com especial enfoque na utilização da "grande praça" de entrada, que dá acesso ao interior do equipamento; a abertura de uma rua coberta; uma ponte pedonal de atravessamento, que irá permitir a ligação direta à estação de metro do Estádio do Dragão; e uma cobertura que envolva toda a infraestrutura, cuja linguagem estética, aludiu Diogo Brito, evoca as construções que marcaram aquela paisagem urbana na época industrial.

No projeto sobressai ainda o restauro do antigo edifício, numa fusão "entre o antigo e novo". Como frisou o arquiteto "sabíamos que estávamos a intervir em património classificado, pelo que sempre trabalhámos numa lógica de adição e não de subtração". Assim, teve-se o cuidado de "interligar o novo ao existente", através de estratégias arquitetónicas "que não desvirtuassem, mas que potenciassem o património", referiu.

Deste modo, "pretende-se que a reconversão do Matadouro provoque um 'contágio positivo' em toda a malha urbana da zona oriental", também muito pela flexibilidade de uso que o equipamento terá. Razão pela qual, explicou, o desenvolvimento do projeto foi sempre trabalhado "em diferentes camadas", procurando sincronizar a atual estrutura às suas novas funções.

Exemplo disso é a abertura do espaço ao exterior, quer pela praça coberta onde se poderá realizar uma grande variedade de eventos, quer pela rua coberta que vai permitir que o Matadouro tenha "uma membrana de atravessamento" direta para o outro lado da VCI, por via da passagem da ponte pedonal.

E, evocando o arquiteto Távora, Diogo Brito encerrou a apresentação do projeto com a frase "quanto mais local, mais internacional".

"Se tudo correr como planeamos, a obra arranca em abril de 2019", diz Rui Moreira

Após a apresentação detalhada do projeto, o presidente da Câmara informou a vereação de que aguarda que o contrato seja assinado ainda este mês e, embora existam dúvidas sobre a necessidade de o enviar para o Tribunal de Contas (TdC), vai prudentemente fazê-lo. "Esperamos que possa decorrer em dois meses", afirmou. Depois, considerando um prazo mínimo de projeto de sete meses, prevê que esta fase esteja concluída em março de 2019. Seguindo esta cronologia, o autarca prevê que em abril de 2019 a obra possa arrancar "com prazo previsto para a sua conclusão de dois anos".

O investimento, totalmente privado, será na ordem dos 40 milhões de euros, "dos quais 36 milhões para obra prevista", disse Rui Moreira. O presidente fez ainda menção ao gabinete do arquiteto Jorge Garcia Pereira, que contribuiu com aquela que considera que foi a parte mais importante do processo, ou seja, na "preparação do programa" do concurso.

"Este foi um processo iniciado com o vereador [da Cultura] Paulo Cunha e Silva [entretanto falecido], com a colaboração de muita gente. Devo salientar também a importância da Junta de Freguesia de Campanhã. A feitura de programa pretendia juntar vários vetores, ligando a cultura, a sustentabilidade social e a economia", descreveu Moreira citado pela Lusa. E lembrou que "o grande desafio era pegar num equipamento afundado pela cidade e pela construção da VCI e colocá-lo à superfície".

Do PS, o vereador Manuel Pizarro elogiou o cumprimento de "um programa essencial para a cidade do Porto no seu conjunto, mas também de um projeto âncora de promoção de desenvolvimento da zona oriental".
"Desde há muitos anos que olho para o matadouro como uma gigantesca oportunidade. Finalmente vai ver a luz do dia", observou, lembrando também o contributo da equipa do arquiteto Jorge Garcia Pereira. Na sua intervenção, o vereador defendeu ainda que esta constitui uma "oportunidade para a Câmara olhar para toda aquela zona e criar um programa global de reformulação", designadamente nas zonas de São Roque e Corujeira. 

Por seu turno, a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, assinalou que agora "é preciso ver como tudo isto vai ser concretizado", admitindo que é com expectativa que encara este desafio.

Na semana anterior foi anunciado em primeira mão no portal de notícias Porto. e na mais recente edição jornal Porto. o projeto vencedor para a reconversão do antigo Matadouro Industrial, localizado em Campanhã, saído do concurso lançado pela empresa municipal GO Porto há 10 meses.

O concessionário, que será responsável por todo o investimento, fica obrigado a cumprir o programa delineado pela Câmara do Porto nos próximos 30 anos, findos os quais, o equipamento ficará municipal. Nesse período, a Câmara do Porto também ocupará parte do Matadouro, onde desenvolverá a parte cultural e de coesão social associada.