Economia

Projeto (D) de Eficiência quebra preconceitos e ajuda a encontrar o futuro

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Inserido nas celebrações do Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, que hoje se assinala, o "Porto." deslocou-se a uma das empresas que "quebra" o preconceito em relação às pessoas com deficiência e demonstra como alguém "rotulado" de diferente pode encontrar o futuro através da realização profissional e de um trabalho remunerado. 

A Ibertec, empresa sediada em Gondomar, integra Ricardo Soares nos seus quadros de pessoal como Ajudante de Armazém. O Ricardo tem paralisia cerebral, mas não deixa que isso o afaste de projetos de vida e de um futuro.

O Ricardo é uma das pessoas com deficiência que passou pela Cidade das Profissões para perceber um pouco do mercado de trabalho; foi indicado para estágio na Ibertec, que o acolheu e lhe reconheceu o potencial. Sem preconceitos.

Hoje, é um elemento do quadro da empresa, com contrato profissional; os colegas de trabalho vêm-no como uma pessoa "normal". "Sou igual aos outros", afirma Ricardo, que se sente bem a trabalhar e "por ter um ordenado". No futuro, "quero continuar como estou!".

Para Joana Oliveira, responsável pela Divisão Administrativa e pelo Departamento de Recursos Humanos da Ibertec, a entrada do Ricardo na empresa aconteceu porque "surgiu a necessidade de contratarmos alguém para o nossos armazém; contactámos o Centro de Emprego de Gondomar que nos apresentou a APPC, que tinha um curso de Empregado de Armazém a decorrer e precisava de um local de estágio para o Ricardo, que começou o estágio aqui na empresa".

Volvidos meses, o Ricardo já é um trabalhador efetivo na Ibertec. Em relação à adaptação ao ambiente de trabalho, as suas necessidades especiais "foram coisas quase de nada", pois "o Ricardo tem correspondido ao pretendido".

No ambiente de trabalho, as adaptações necessárias concretizaram-se a nível da "catalogação dos materiais e as informações foram apresentadas de forma mais fácil, para separar materiais", esclarece Joana Oliveira. "De uma certa forma, organizámos o nosso armazém e, agora, qualquer pessoa tem essa capacidade de organizar os materiais, o que acabou por ser uma mais-valia. Para nós, o Ricardo não tem rótulos; é um funcionário como qualquer outro", conclui Joana Oliveira.

A sociedade em geral e os indivíduos em particular devem estar conscientes da necessidade de conjugar esforços para incluir as pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Esta é uma questão não apenas de justiça, mas também de coesão social.

Nesse sentido, o Município do Porto, consciente da relevância da integração profissional de pessoas com deficiência, criou o Projeto (D) de Eficiência, que se assume como um projeto comum de promoção da inclusão no mercado de trabalho na cidade do Porto e na Área Metropolitana do Porto.

Iniciado em setembro de 2019, o projeto foi estruturado em duas grandes dimensões, nomeadamente, a captação e a sensibilização das empresas e a capacitação dos candidatos. A sua materialização integrou iniciativas de networking e de recrutamento.

O objetivo do Projeto (D) de Eficiência é demonstrar que as vantagens para empregador e empregado são mútuas e, com a ajuda da APPC (Associação do Porto de Paralisia Cerebral - Centro de Reabilitação), o número de candidatos com deficiência que encontram um trabalho digno e remunerado aumenta.

O projeto, de raiz municipal e concretizado pela Cidade das Profissões, organizou rondas de entrevistas entre entidades, nos meses de outubro e novembro, com interesse para empregador e candidatos com algum tipo de deficiência e com potencial de empregabilidade, cumprindo assim a prioridade do (D) de Eficiência, que nasceu na cidade do Porto para dar reposta à necessidade de promover a inclusão de pessoas com deficiência em cada aspeto da vida política, social, económica e cultural.

Para André Rocha, Lead Consultant e Permanent Placement da Randstad, na qualidade de formador convidado da Cidade das Profissões, esta iniciativa, com entrevistas e sessões de speed recruitment, "significa apresentar candidatos que possam ser úteis para o mercado de trabalho, colmatando inseguranças e limando ansiedades. A Cidade das Profissões significa, na prática, dar oportunidade, sermos mais inclusivos; todos temos de ser parte disto e participar desta responsabilidade social de que tanto se fala hoje em dia no mundo profissional. Significa oportunidade e capacitação a estes candidatos".

Diogo Feteira e Sérgio Nogueira frequentaram estas sessões para adquirir competências ou aperfeiçoar as que já tinham. "Estando desempregado há cerca de um ano e alguns meses, tenho andado à procura de emprego", explica Diogo. "Vejo este tipo de apoios como uma mais-valia, pois pessoas como eu, que já chegaram a variadas entrevistas e que quase no fim da entrevista, fico com aquela nítida sensação que não há ali nada de negativo da minha parte e que depois, por questões que eu não controlo, o meu problema foi um entrave para eu entrar no mundo do trabalho".

"Esta iniciativa da Cidade das Profissões dá-nos balizas mais concretas sobre em que é que nos devemos focar mais no aspeto de entrevistas, nomeadamente de nos dar o apoio mais técnico quando temos uma condição que faz parte de nós", conclui.

Para Sérgio Nogueira, que está atualmente em situação de desemprego, foi o desejo de "alargar horizontes" que o levou a inscrever-se nesta iniciativa, "pois por vezes temos tanto medo de iniciar uma nova fase da vida, e aqui ajudam-nos a esclarecer dúvidas, certos receios, e ficamos melhor preparados para uma entrevista".

O culminar deste Projeto (D) de Eficiência teve lugar no dia 3 de dezembro, Dia Internacional das Pessoas com Deficiência - nas instalações da APPC (Associação do Porto de Paralisia Cerebral - Centro de Reabilitação) e consistiu em sessões de networking e recrutamento. O principal objetivo foi promover a integração profissional de pessoas com deficiência, retirando vantagens para empregador e empregado.

Vale a pena salientar que são várias as organizações que uniram esforços neste projeto comum de promoção da inclusão. Além da Câmara do Porto (através da Cidade das Profissões e do Gabinete da Inclusão), participaram o Instituto de Emprego e Formação Profissional, a Associação Empresarial de Portugal, a Associação do Porto de Paralisia Cerebral, a Associação Salvador, a Aliados Consulting e, mais recentemente, a Universidade do Porto e o Instituto Politécnico do Porto, além de se terem envolvido na jornada final empresas como a Ranstad, Faurecia, Mindera, Dorel Juvenile, Grupo Ibersol, Grupo Salvador Caetano, Grupo Trivalor, Adecco, Pinto & Cruz e Sonae Capital.