Educação

Programa Aconchego une gerações na partilha de casa em troca de companhia

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São 12 pares com uma diferença de idades bastante acentuada que mais parecem avós e netos e que se espalham pelos corredores do Museu de Serralves, numa vista à exposição de Joana Vasconcelos. Na verdade, não se conheciam até o "Aconchego" uni-los numa relação intergeracional com ganhos para ambas as partes.

"Sentia-me muito sozinho no primeiro semestre escolar e comentei com os meus pais. E eles, no Brasil, descobriram este programa e disseram para me candidatar", contou ao "Porto." Gabriel Rebelo, de 21 anos, estudante da Faculdade de Economia do Porto, durante a visita de ontem a Serralves.

Gabriel leva pelo braço Maria Albertina Monteiro, de 88 anos, que o acolheu em casa ao abrigo do programa municipal "Aconchego". Já é o terceiro "neto" que lhe faz companhia e as suas portas estão abertas para receber os jovens estudantes.
"O Gabriel fez há poucos dias 21 anos e eu festejei e dei-lhe uma prenda. É muito educado. Eu trato todos na minha casa como se fossem meus netos", disse. 

Neste ano letivo 2018/2019, e concretamente neste último trimestre, estão integrados 24 beneficiários (12 estudantes e 12 seniores) no "Aconchego", desenvolvido pela Câmara do Porto em parceria com a Federação Académica do Porto (FAP), desde 2004.

No encontro proporcionado pelo Município, os beneficiários foram convidados a visitar a Fundação de Serralves e lanchar na Casa de Chá, juntamente com vários elementos das equipas municipais e representante da FAP.

O programa assenta numa ideia simples: jovens estudantes que chegam ao Porto e procuram alojamento e idosos que vivem sozinhos e precisam de companhia. Os seniores retribuem a companhia com o alojamento e os jovens universitários compensam o alojamento com companhia, apresentando-se como uma opção para combater a solidão dos mais velhos e como forma para os estudantes reduzirem as despesas de alojamento.

"O balanço é extremamente positivo e continuamos com 24 beneficiários ativos. Achamos que é uma excelente forma de desenvolver a cidadania, despertar para os valores e fazer com que a cidade, apesar da sua grande dimensão e da capacidade de atração, continue a ser uma cidade com rosto, porque se preocupa com os residentes", explicou Fernando Paulo, vereador da Habitação e Coesão Social.

A divulgação do programa é da responsabilidade conjunta da Câmara do Porto e da FAP e a admissão dos aderentes cabe ao Município, que se baseia no perfil do estudante e do sénior e na avaliação da respetiva habitação.

"Esta é uma parceria muito feliz; é o exemplo de uma ideia simples com grandes resultados. Os estudantes que vêm para o Porto precisam de um local para ficar e, mais do que um sítio para viver, encontram verdadeiramente uma casa, uma amizade e uma companhia", reiterou Catarina Araújo, responsável pelo pelouro da Juventude e Desporto, que também participou na visita ao Museu e Jardins de Serralves.

Impacto do Programa Aconchego

Pelo impacto que tem na vida das pessoas e da comunidade, o programa foi premiado em 2010, no âmbito do concurso "This is European Social Innovation" promovido pela Comissão Europeia - Eurocities, devido ao seu potencial inovador e de empreendedorismo social.

Em abril de 2012, foi distinguido com o selo de Iniciativa de Elevado Potencial de Empreendedorismo Social, atribuído pelo Instituto de Empreendedorismo Social, e mais recentemente, em março de 2018, o "Aconchego" foi selecionado como uma boa prática "smart to-do/Ageing Summit". Em agosto do ano passado, foi selecionado como uma "age-friendly housing practice", através da WHO Age-friendly Cities and Communities.

O Programa Aconchego é uma marca registada da qual a Câmara do Porto é detentora.

Devido à crescente visibilidade e sucesso do programa, várias organizações da sociedade civil têm demonstrado interesse em proceder à replicação noutros concelhos e cidades do país.