Política

Presidente da Bulgária recebe chaves da cidade e deixa elogios aos portuenses

  • Paulo Alexandre Neves

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A visita oficial do Presidente da República da Bulgária, Rumen Radev, a Portugal começou hoje no Porto. Nos Paços do Concelho, recebeu as chaves da cidade. Antes, na Avenida dos Aliados, foram-lhe prestadas honras militares com revista e desfile da Guarda de Honra, seguindo-se a sessão solene, presidida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Num discurso de improviso, Rumen Radev elogiou o caráter do Porto: “Ao longo da História, a cidade [do Porto] tornou-se, para nós europeus, um símbolo de coragem e compromisso, para olhar para lá do visível e do acessível, para explorar o desconhecido, para cruzar mares e oceanos, descobrindo novos mundos”.

“Porto é a cidade invicta. Muitas invasões vieram por este território, mas a vossa cidade sobreviveu para se tornar capaz de apresentar, a milhões de turistas, a possibilidade de aproveitar uma cultura e arquitetura únicas”, sublinhou o chefe de Estado búlgaro, dirigindo-se ao presidente da Câmara do Porto: “Se for à Bulgária, pare qualquer pessoa na rua e pergunte-lhe o que sabe sobre o Porto. Ela dir-lhe-á, pelo menos três, coisas, mas adivinhe qual é a número um: o clube de futebol. O vinho do Porto, claro, e as famosas canções de fado”.

“O Porto pode ter um papel de liderança na dinamização da nossa relação”

Mostrando-se conhecedor da realidade da cidade, o presidente búlgaro deixou a Rui Moreira a garantia de que “o seu terceiro mandato, como presidente, é prova de que os cidadãos do Porto reconhecem o seu compromisso e liderança para levar a cidade à sustentabilidade económica, social e ao desenvolvimento ambiental”.

Rumen Radev mostrou-se também sensibilizado pela entrega das chaves da cidade por parte do presidente da Câmara do Porto: “É um sincero privilégio e honra receber as chaves de uma cidade com mais de dois milénios de História, comprometida, no entanto, com um futuro de modernidade. […] Tenho orgulho em receber as chaves de uma cidade onde nasceu Henrique, o Navegador, considerado o fundador das grandes descobertas geográficas. A cidade onde D. Afonso Henriques assentou as fundações da independência portuguesa”.

“O Porto pode ter um papel de liderança na dinamização da nossa relação. É por isso que o encorajo a explorar oportunidades – atuais e futuras – na dinamização da relação com a Bulgária, em todas as atividades públicas possíveis, para benefício mútuo e prosperidade das nossas populações”, acrescentou o chefe de Estado búlgaro, para quem “é de vital importância, neste momento, mostrar a união e a relação de amizade entre Portugal e a Bulgária. Se dois países, situados nos dois extremos da Europa, conseguem cooperar, ser amigos, pensar em conjunto pelo futuro da Europa, significa que todos nós conseguimos”.

Rui Moreira: “Terá ocasião de verificar como a cidade está dinâmica”

Antes do presidente búlgaro, o presidente da Câmara do Porto tinha começado por agradecer o empenho do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pela iniciativa de iniciar esta visita oficial na cidade, destacando, assim, o Porto e a região norte de Portugal. “Agradeço o seu empenho, desde o primeiro dia da sua presidência, há mais de seis anos, para abraçar todo o país com uma postura próxima, inclusiva e atenta às idiossincrasias muitas vezes não fáceis de gerir”, sublinhou.

Dirigindo-se ao presidente da Bulgária, Rui Moreira revelou que “terá ocasião de verificar como a cidade está dinâmica. Como está pujante e otimista na forma como encara o presente e o futuro. Como acredita na criação de riqueza, orientada depois, de forma solidária, para os seus cidadãos e, muito em particular, para aqueles que não têm ou que deixaram de a ter. Como o Porto acredita na inovação, no desenvolvimento da sua capacidade de acolher e atrair, na modernidade – sem nunca, porém, renegar o seu passado granítico e orgulhoso que define a cidade e as suas gentes. Uma cidade que gosta de trabalhar e que gosta de viver, que é séria e profissional, mas não tem medo de se divertir”.

O presidente da Câmara do Porto recordou os traços históricos comuns que unem as sociedades portuguesa e búlgara, nomeadamente o facto de ambas terem vivido, num passado recente, sob regimes totalitários, e, atualmente, em democracia parlamentar, “estável, multipartidária, que, como é típico de todas as democracias, vai conhecendo as suas fraquezas, as suas debilidades, mas, ao mesmo tempo, criando as defesas para lutar contra elas”, dentro do quadro da União Europeia, de que os dois países fazem parte.

Presidente da Câmara não esquece conflito na Ucrânia

Rui Moreira não deixou também de refletir sobre dois assuntos que preocupam, nos dias que correm, as populações dos dois países: taxa de natalidade e envelhecimento da população. “A nossa taxa de natalidade caiu para níveis preocupantes, tal como a da Bulgária. Estou certo que Vossa Excelência concordará comigo que este deve ser um tema que ambos os governos devem abordar com grande seriedade e preocupação”.

A propósito, Ruman Radev tinha já sublinhado que “este é um grande desafio. Temos que trabalhar para trazer as nossas pessoas de volta. Ou, pelo menos, não nos desligarmos da ligação espiritual com a pátria. Também acredito que o Porto, como segunda maior cidade do país, é um exemplo de rápido crescimento e desenvolvimento da indústria e zonas de comércio, sendo um lugar importante para o turismo, com a sua impressionante cultura e arquitetura”.

O presidente da Câmara não esqueceu o presente e futuro, “ensombrados por nuvens negras que não podemos esquecer”, abordando o drama que se vive na Ucrânia. “A invasão inexplicável e ilegal perpetrada pela Rússia tem demonstrado que estamos do mesmo lado. Estamos juntos na Europa da Democracia e do Humanismo”, sublinhou.

“Tal como diz Tzvetan Todorov, grande filósofo e linguista búlgaro, os bárbaros são os que consideram que os outros, que não se parecem com eles, pertencem a um nível inferior de humanidade e devem ser tratados com desprezo ou condescendência. Ser civilizado significa ser capaz de reconhecer a humanidade dos outros, mesmo que tenham rostos e hábitos diferentes dos nossos”, acrescentou Rui Moreira.

Após a cerimónia nos Paços do Concelho, que incluiu a assinatura do livro de honra e troca de presentes, Rumen Radev e a comitiva búlgara rumaram em direção à Casa do Roseiral. O programa continua esta tarde, em Serralves, onde os chefes de Estado dos dois países reúnem, seguido do jantar oficial desta visita, oferecido por Marcelo Rebelo de Sousa em honra do homólogo búlgaro, no Palácio da Bolsa. A visita de Rumen Radev a Portugal prossegue amanhã, em Lisboa.