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Prémio Fundação Ilídio Pinho entregue a D. José Tolentino Mendonça na Câmara do Porto

  • Paulo Alexandre Neves

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D. José Tolentino Mendonça recebeu hoje, das mãos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Grande Prémio Fundação Ilídio Pinho, em cerimónia realizada no Salão Nobre da Câmara do Porto. Portugalidade e gratidão foram duas palavras que trespassaram em todos os discursos proferidos, perante centenas de convidados do meio político, académico e empresarial.

“Escolher um dos nossos melhores dos melhores não é missão despida de espinhos. Ela há um António Guterres, excecional símbolo da nossa projeção política no mundo; ele há um Álvaro Siza Vieira, excecional símbolo da nossa projeção cultural no mundo; ele há um José Tolentino de Mendonça, excecional símbolo da nossa projeção espiritual no mundo. Todos eles expoentes da portugalidade”, afirmou o Presidente da República.

E sobre a portugalidade, acrescentou, “dela nos disse tudo, ou quase tudo, D. José Tolentino naquele 10 de junho de 2020, nos Claustros dos Jerónimos. Como hoje, com a simplicidade profundíssima que nos transporta sempre ao essencial do que somos, porque somos, porque queremos ser, sem fim dos tempos”.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, “outros em nós descobrem, de premeio com os nossos defeitos, aquilo que de bom temos e dificuldade em descortinar. Nós, que, anonimamente, refazemos, todos os dias, a portugalidade; nós, que, mais do que as abstrações e as generalidades, fomos e somos, há quase nove séculos, a portugalidade”.

“Aqui estamos para agradecer [estava escrito] a José Tolentino de Mendonça o ser um dos melhores de todos nós. Este ano eleito um exemplo de portugalidade”, sublinhou o chefe de Estado, concluindo: “Outros há que sejam, como ele, exemplo de portugalidade? Há, não muitos tão completos, mas há. O prémio, pela primeira vez entregue, a José Tolentino de Mendonça é começar por onde faz sentido: olhar alto e longe. A ideia é um exemplo de Portugal e para Portugal. Homenagear José Tolentino de Mendonça é homenagear Portugal”.

“O Cardeal Tolentino Mendonça é um verdadeiro role model”, destaca Rui Moreira

Também o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, destacou a personalidade do cardeal português, “uma personalidade inspirada e inspiradora, que tem iluminado muitos de nós com a sua inteligência e o seu saber, com a sua escrita e o seu pensamento, com a sua tolerância e o seu humanismo”.

“O cardeal Tolentino Mendonça é um verdadeiro role model, uma referência ética num tempo de relativismo moral e cívico”, acentuou o autarca portuense. “Sejamos ou não crentes na fé cristã, as palavras do cardeal Tolentino Mendonça entram em nós como relâmpagos na noite escura. Ajudam-nos a ‘descobrir a gramática da compaixão, a arte da clemência, o caminho quotidiano da bondade’ – como escreveu num dos seus brilhantes aforismos”, acrescentou.

Destacando que o Grande Prémio Fundação Ilídio Pinho é o maior prémio pecuniário atribuído em Portugal por uma instituição exclusivamente nacional, Rui Moreira – que fez parte júri do prémio – referiu-se ao seu fundador, Ilídio Pinho, como alguém que “não se fechou numa torre de marfim, indiferente às carências e necessidades da sociedade portuguesa. Pelo contrário: empenhou-se em servir o bem comum, em ajudar a comunidade, em promover a educação, a ciência e a cultura, em empoderar os setores mais frágeis da nossa população”.

“A missão e atividade da Fundação Ilídio Pinho são, por isso, de grande conveniência numa sociedade frágil como a portuguesa. Uma sociedade em que o elevador social funciona mal, o ensino, a ciência e a cultura estão subfinanciados, o défice de competências especializadas é gritante e o Estado falha na proteção aos mais desfavorecidos”, frisou o Presidente da Câmara do Porto.

Portugal precisa de mais instituições como a Fundação Ilídio Pinho. […] Precisamos de exaltar os nossos role models. Precisamos de mostrar que existem portugueses verdadeiramente excecionais. Precisamos de contar aos nossos filhos e netos histórias reais de abnegação, altruísmo, solidariedade. Precisamos que eles saibam que há quem pense primeiro nos outros e só depois em si mesmos”, concluiu Rui Moreira.

José Tolentino Mendonça fala num “pacto geracional” em torno da gratidão

O homenageado começou o seu discurso por agradecer o prémio que lhe foi atribuído. “Quanto temos de aprender da palavra gratidão. Parece um argumento minúsculo e, para mais, hoje praticamente destituído de cidadania cultural e civil”, disse o cardeal português, citando Agustina Bessa-Luís: “Não há como os pequenos atos para exprimir aquilo que é grande e futurante no ser humano”.

“A gratidão representa um componente sem o qual a arquitetura profunda balança”, disse D. José Tolentino Mendonça, acrescentando: “Esse reconhecimento é o motor da vida. […] Ninguém depende somente de si. Somos uma obra dos outros”.

Para o homenageado é necessário, atualmente, firmar um pacto intergeracional, “mas celebrado em torno à gratidão e não do ressentimento”. Citando o Papa Francisco, o homenageado garantiu que só “juntos, na fraternidade e solidariedade, construímos a paz”. “É a gratidão que nos reforça para as grandes tarefas do ser”, acrescentou.

E sobre a portugalidade, D. José Tolentino Mendonça não tem dúvidas que, hoje, o nosso país, tendo como pano de fundo o elogio da gratidão, “deve salvaguardar a sua identidade. Só reforçando-se como projeto nacional, Portugal pode descobrir e concretizar a sua vocação ao universal”. E sobre a vitória sobre o pessimismo, garante: “Portugal precisa hoje de dar mais valor político à esperança”.

“A gratidão só se realiza com o assumir de uma responsabilidade. […] Como se vê, a língua portuguesa é a nossa tarefa. Agradeço-vos, de coração, por me permitirem hoje dizer, humildemente, obrigado”, concluiu o prefeito do novo Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé.

Além do valor pecuniário do prémio (100 mil euros), o cardeal, nascido em Machico, na Ilha da Madeira, recebeu ainda uma medalha desenhada, propositadamente, para esta ocasião pelo consagrado arquiteto Álvaro Siza Vieira.

“Está bem entregue o primeiro prémio da fundação”, garante Ilídio Pinho

O presidente da Fundação Ilídio Pinho justificou esta atribuição, afirmando que “está bem entregue o primeiro grande prémio”. “Este é o primeiro de muitos que, todos os anos, vão distinguir quem ousar fazer a diferença”, garantiu Ilídio Pinho, sob a presença da comissária europeia responsável pela pasta Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, da vereação municipal, do presidente da Assembleia Municipal, do bispo do Porto, do mais recente galardoado com o prémio Pessoa e demais convidados.

Tolentino Mendonça, que além de cardeal é também poeta e ensaísta, torna-se, assim, o primeiro rosto do Prémio Ilídio Pinho, após decisão tomada pelo júri da iniciativa, composto pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, pelo presidente da Câmara Municipal de Vale de Cambra, José Alberto Pinheiro e Silva, e pelos reitores da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Emídio Gomes, e da Universidade Católica, Isabel Gil. A direção-executiva do prémio está a cargo de Carlos Magno.