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Porto Importa-se: o “milagre” de um abraço contra o isolamento social da população idosa

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A desconfiança inicial já foi ultrapassada, e agora o momento da chegada da equipa do Porto Importa-se assemelha-se a um momento de festa: o projeto desenhado para combater o isolamento social entre os idosos com mais de 70 anos e casais de idosos com mais de 75 anos, residentes nos bairros de habitação social do Município do Porto, entrou na terceira edição e assume uma dupla vertente. Para além de continuar o diagnóstico gerontológico, proporciona um acompanhamento próximo aos idosos sinalizados em edições anteriores.

Numa tarde de novembro, a equipa de terreno – constituída por uma assistente social e um grupo de estagiários do Instituto Superior de Serviço Social do Porto (ISSSP) – prepara-se para fazer mais uma visita a uma idosa sinalizada pelo projeto operacionalizado pela empresa municipal Domus Social.

“O programa está no terreno desde 2017. Temos encontrado diversas situações, nomeadamente pessoas que necessitam de algum cuidado, ou de atividades. As pessoas não querem ir para lares ou centros de dia”, nota a assistente social Andreia Moreira, realçando: “Este projeto visa combater o isolamento e a solidão. Fazemos recolha de informação, diagnóstico, e depois, atempadamente, conseguimos reunir e ver qual a melhor resposta social que podemos dar ao idoso.”

O impacto do Porto Importa-se reflete-se nas palavras de uma das idosas visitadas, que não quis ser identificada: “Eu estava num estado lastimoso, não saía à rua, não ia ao médico. Não fazia nada, era um vegetal. Não ia ao médico há quase três anos, e graças ao programa voltei. Tem feito milagres na minha vida”, agradece.

“É uma família”

“Todos os dias me telefonam, estou muito acompanhada. É uma família. Têm-me apoiado em tudo. Ir ao multibanco pagar as contas, por exemplo. O Porto Importa-se fez milagres. Não tenho palavras para descrever o que me fizeram e estão a fazer de bem”, acrescenta a idosa, entre palavras de gratidão e abraços aos elementos da equipa.

De uma amostra de 3070 idosos, desde a primeira edição, foi possível contactar e visitar, até ao momento, 2161. É algo que enche de orgulho a equipa responsável pelo Porto Importa-se: “São números muito bons. Em 2022-24 vamos para a terceira edição, e nota-se que o projeto já está muito divulgado, já é conhecido. Aquele receio, perfeitamente compreensível – não conheciam as pessoas, o sentimento de insegurança, havia alguma cautela – neste momento já conhecem o projeto, já conhecem algum vizinho que já teve as técnicas a falar com eles”, explica Marlene Baptista, técnica da Domus Social.

“O projeto resulta do trabalho dos técnicos no terreno. A população dos nossos bairros está muito envelhecida, e nas ações de prevenção e fiscalização que os técnicos fazem, aperceberam-se que as pessoas estão, cada vez mais, muito sozinhas, sem qualquer retaguarda. Não há uma rede de vizinhança de apoio”, acrescenta.

Para o desenvolvimento do projeto foi elaborado um diagnóstico gerontológico que permitiu traçar um perfil da população idosa residente nos bairros de habitação social do Município do Porto, e, posteriormente, sinalizar os casos consideradas de maior risco, de acordo com critérios definidos. Para realização desse diagnóstico a Domus Social realizou uma parceria com o ISSSP, responsável pelo desenvolvimento do diagnóstico e análise dos resultados.

Assim, as equipas de terreno realizam estes inquéritos à população alvo (idosos que residem sozinhos com mais de 70 anos e casais com mais de 75) e, se o diagnóstico identificar que se trata de pessoas em situação de risco de isolamento, sinalizam o caso e identificam as necessidades. “O critério foi os mais velhos dos mais velhos, começar com esses. Para além deste trabalho técnico, fazemos a sinalização dos casos que consideramos que estão em isolamento social severo, o critério de prioridade é esse, e sinalizamos às estruturas de apoio social, nomeadamente as juntas de freguesia. Os casos são depois direcionados para os serviços dos quais têm mais necessidade: centros de saúde, hospitais, a Domus Social dinamiza intervenções nas habitações, etc.” sublinha Marlene Baptista.

Acompanhamento próximo

O diagnóstico que é realizado dá destaque ao risco de isolamento social, mas também aos recursos económicos, condições da habitação, utilização dos serviços da comunidade, situação de saúde e capacidade para a realização das atividades da vida diária, por exemplo.

“Temos uma novidade na terceira edição, que não tivemos oportunidade de fazer nas primeiras duas: agora para além de chegarmos a novos idosos, estamos a fazer um acompanhamento dos idosos que já tinham respondido ao questionário, por exemplo na primeira edição, e que foram sinalizados como estando em isolamento social. Estamos a acompanhá-los com visitas periódicas e acompanhamento para as suas necessidades. É esta a novidade da terceira edição. Para além do diagnóstico que está a ser aplicado, vamos acompanhando os outros idosos”, realça a técnica da Domus Social.

Pelo trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, o projeto Porto Importa-se foi distinguido como Boa Prática Smart To-Do, por promover a Qualidade do Envelhecimento na Zona Norte do país, no encontro Ageing Summit, que decorreu em 2018 na Fundação de Serralves.

Na simplicidade de um telefonema, de um abraço, a presença do Porto Importa-se traduz um pequeno “milagre” para os idosos a quem o projeto já chegou e proporciona acompanhamento.