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Porto honra memória e valores dos que sonharam um país justo, livre e democrático

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“A revolta fracassou, mas o país não mais seria o mesmo”. As palavras do presidente da Associação Cívica e Cultural 31 de Janeiro sublinham o que, todos os anos, neste dia, se honra: a memória e os valores de militares e civis que, em 1891, lutaram pelo “sonho de um país justo, livre, equitativo, solidário, democrático e de retirar Portugal e os portugueses das humilhações, da miséria, da ignorância, da tirania e do medo”.

Na tradicional cerimónia no cemitério do Prado do Repouso, também o presidente da Câmara do Porto considerou “oportuno lembrar o quanto custou a liberdade em Portugal”. Para Rui Moreira, “os revoltosos do 31 de janeiro” ensinaram a todos como “a democracia é um edifício em construção” e, por isso, instou, “devemos exercer ativamente a nossa cidadania, com sentido crítico e espírito reivindicativo”.

Nas palavras do presidente da Câmara, “o 31 de janeiro germinou, em boa medida, devido à natureza indómita desta cidade e refletiu as aspirações liberais e burguesas que o Porto há muito reivindicava”, daí a forte adesão popular à “construção de uma sociedade mais justa, mais instruída, mais igualitária, mais progressista”.

Assumindo como a cidade “tem orgulho de ter sido o berço da primeira revolta republicana em Portugal”, Rui Moreira sublinhou a importância de uma cerimónia onde se homenageia “a coragem, a determinação, a força dos militares revoltosos” e que permite transmitir “o seu exemplo de inconformismo às novas gerações”.

Convidado a participar na cerimónia deste ano, o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares, escolheu reconhecer “a generosidade, a capacidade de entrega, o romantismo das ideias e os valores democráticos” que nortearam os defensores da República naquele 31 de janeiro de há 132 anos.

Para o provedor, um dos exemplos deixados pelos revoltosos foi o de que “vale a pena fazer política pelos ideais, participar no futuro coletivo de forma desinteressada”. O outro exemplo, sublinha António Tavares, é o de que “só conseguimos estar na política se tivermos caráter, se soubermos assumir as nossas posições, lutar por elas e conseguir fazê-las vencer”, defende, referindo a importância de “ousar não ter medo” de lutar pelos objetivos do desenvolvimento, da paz, da cultura e da educação dos mais jovens.

No mesmo sentido, o presidente da Associação Cívica e Cultural 31 de janeiro, Luís Cameirão, acredita que “facilmente se descobre de onde nasce esta paixão de um povo pela liberdade”. “A experiência prova que os povos só se desenvolvem na sua riqueza e poder sob um governo livre. É o bem geral e não o interesse particular que produz a força de um Estado”, referiu Luís Cameirão, citando Teófilo Braga (que citava Maquiavel).

Já o presidente da assembleia geral da associação que, todos os anos, promove as comemorações da revolta do 31 de janeiro, Carlos Nunes, lembrou como “hoje mantemo-nos num mundo que exige um combate contínuo às desigualdades, contra a pobreza, contra as iniquidades” e, por isso, é importante “dizer às escolas da cidade o que é o 31 de janeiro e porque é que homenageamos os combatentes pela liberdade”.

Em representação da Associação Nacional de Sargentos, o sargento-mor Lima Coelho reforçou o sentimento de que os revoltosos “foram derrotados no terreno, mas não nas ideias, não nos princípios, não nos valores”. “Bem-haja a cidade do Porto que não deixa que a memória do 31 de janeiro morra nunca”, afirmou.