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Porto, esse sentimento, deu início ao que sempre foi feito: celebrar Agustina

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“Pensar as coisas do avesso”. Eis o propósito da exposição inaugurada, na Fundação de Serralves, no passado sábado, dia em que Agustina Bessa-Luís faria 100 anos. O Porto, esse lugar que uma das mais reconhecidas escritoras portuguesas chamou de “sentimento”, associou-se a outras 14 entidades nas comemorações, que contaram, também, com a presença do Presidente da República.

O vice-presidente da Câmara do Porto sublinha que “é um dever cultural do país celebrar o nascimento de Agustina Bessa-Luís, exaltando o seu extraordinário património literário”.

“No caso do Município do Porto, esse dever é acrescido pelo facto de a escritora ter uma profunda ligação à nossa cidade. Foi no Porto que, em grande medida, Agustina forjou a sua identidade pessoal e literária”, acrescentou Filipe Araújo, na inauguração de “Uma Exposição Escrita: Agustina Bessa-Luís e a Coleção de Serralves”, cujo curador, Ricardo Nicolau, admite pretender fazer “pensar as coisas do avesso”.

Lembrando como para a escritora o Porto tinha “uma alma de muralha”, o vice-presidente acredita que “esta frase, reveladora da conhecida argúcia da escritora, Agustina sintetiza as características do pensar-sentir da cidade”.

Para Filipe Araújo, “se é certo que o enraizamento portuense da escritora influenciou a sua vida e obra, também não é menos verdade que o Porto ganhou uma outra aura, uma outra dimensão nos livros de Agustina”.

Com destaque para as obras “Fanny Owen” e “Os Meninos de Ouro”, o autarca considera que “a escritora captou com extrema agudeza o espírito do lugar. Ou seja, a forma de pensar, sentir e agir do Porto, que decorre dos valores liberais e burgueses da cidade”.

“Agustina Bessa-Luís é uma figura maior da cidade do Porto e merece da parte do Município toda a admiração, carinho e gratidão”, concluiu Filipe Araújo.

Já o Presidente da República considera que “homenagear o Portugal iconoclasta, homenagear o Portugal ecuménico, universal, mas ligado às raízes, homenagear o Portugal feito, ainda hoje, tal como nasceu, a partir do Norte, é homenagear Agustina".

Nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, “o dia de hoje, em que se assinala o centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís, é um dia nunca terminado, porque Agustina nunca termina".

Ana Pinho, presidente da Fundação de Serralves, recordou a escritora como "uma das vozes mais inoportunas da literatura portuguesa" e "um espírito anarquista singular", enquanto o comissário das comemorações do centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís, António Fontainhas Fernandes, sublinhou como o Norte se mobilizou "para homenagear uma figura única da cultura e da literatura portuguesa, conhecida pela sua erudição, pela experiência de vida e, principalmente, pela sua inegável contribuição para o enriquecimento do indivíduo e da sociedade".

A cerimónia de inauguração das comemorações contou ainda com a presença da filha de Agustina Bessa-Luís, Mónica Baldaque, que dedicou a iniciativa a quem conheceu a mãe "pela leitura, pelo estudo, pela crítica, pelo convívio". Também em Serralves, António Cunha, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), enalteceu a universalidade de Agustina e, ao mesmo tempo, o ser "profundamente portuguesa e eminentemente nortenha".

Até abril de 2023, as bibliotecas municipais propõem ao público continuar a celebrar Agustina. Além do destaque para os livros da escritora, no dia 29 deste mês tem início um ciclo de conversas à volta da sua obra. A abertura cabe à professora de literatura portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Maria de Fátima Marinho, que traz “As Terras do Risco” à Biblioteca Municipal Almeida Garrett.