Turismo

Porto e Região Norte devem apostar na diversidade da oferta e de roteiros para relançar o turismo

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Era um fórum muito aguardado e foi amplamente participado. O Conselho Municipal de Turismo reuniu hoje, pela primeira vez, desde o início da pandemia, e dele saíram algumas ideias-chave para ações estratégicas, concertadas entre a cidade do Porto e a Região Norte, sobretudo focadas na ideia de aproveitar a diversidade como trunfo e assim "promover a capilaridade da oferta turística", mesmo no interior do território urbano. Num tempo que abre espaço ao setor do turismo para se reinventar, há ainda que investir na qualificação dos recursos humanos, dizem os conselheiros. 

O órgão consultivo, criado no ano passado pela Câmara do Porto, e a partir desta quinta-feira formalmente constituído com a tomada de posse dos seus membros, pode ter ainda pouco passado, mas o seu funcionamento parece já muito orgânico.

Da reunião que esta manhã juntou dezenas de conselheiros no Teatro Municipal do Porto - Rivoli, em representação de várias entidades e instituições, direta ou indiretamente ligadas ao turismo, a troca de impressões parecia antever o alinhamento tático que surgiu na ponta final do encontro.

O entendimento de que "deve ser desmistificada" a ideia de que o crescimento do turismo se deveu graças a "uma qualquer estratégia política ou a este ao àquele autarca", afirmava Rui Moreira, passando pela convicção "de que esta é a indústria mais democrática e que decorre do empreendedorismo dos cidadãos", foi transversal.

Confrontados agora o Porto e a Região com uma situação que, ainda no início do ano, nem os piores pesadelos faziam prever, pois, segundo o presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), Luís Pedro Martins, "continuávamos a crescer acima da média nacional" (com 6 milhões de hóspedes e os 12 milhões de dormidas, em 2019), há que aproveitar a oportunidade "ousando e interpretando as mudanças", dizia ainda o autarca da cidade do Porto.

Aqueles que sofriam de "turismofobia" e acusavam o setor de ser uma "monocultura" não podem contrapor com dados factuais, afirmou Rui Moreira. O turismo contribui em 10% para o PIB nacional e "em externanalidades vai muito além disso", assinalou. Por isso, é também agora tempo de lhe estender a mão, criando condições para que se possa reerguer e, que tal como na última crise, "volte a criar emprego e a volte a reabilitar a cidade", considerou o presidente da Câmara do Porto.

Luís Pedro Martins aproveitou a deixa para dizer que o TPNP tem "defendido um olhar muito atento às empresas e ao reforço das verbas neste setor". O responsável quer "empresas sólidas e com recursos humanos qualificados" e reivindica ao Governo que faça, "com urgência, uma discriminação positiva para todo o setor" e não apenas para algumas zonas do país. Áreas como a agricultura, os vinhos, a produção de conteúdos audiovisuais ou serviços de apoio foram igualmente "muito prejudicados", sublinhou o responsável.

Criar sinergias para vencer a crise

Certos de que o momento é difícil, os conselheiros partilham da visão do vereador da Economia, Turismo e Comércio, Ricardo Valente, de que "chegou o momento da gestão do turismo ser feita numa lógica global e transversal". O também presidente da Associação de Turismo do Porto (ATP) considera que é necessário que essa lógica seja bottom-up (que parta de baixo para cima, isto é, dos empresários para as instituições e entidades públicas) e que o Conselho Municipal do Turismo terá um papel relevante nessa matéria, através da promoção de fóruns que "promovam a qualificação"; no "apoio à elaboração de documentos estratégicos"; e na "criação de grupos de trabalho sectoriais". No fundo, deixando que o turismo seja "a pedra angular" na promoção de soluções integradas a nível local e regional.

O primeiro passo está dado, com o lançamento recente da primeira campanha conjunta entre a ATP e o TPNP, "O Norte Lá em Cima", abrindo portas a um novo capítulo na cooperação entre as duas entidades.

"Temos de propiciar novas rotas, ter uma atitude estratégica e deixar de lado as rivalidades", assinalou Rui Moreira que, como confidenciou Luís Pedro Martins, foi a força de desbloqueio de uma relação institucional pouco profícua no passado.

Entre os participantes do Conselho Municipal do Turismo surgiram vários contributos. Da Fundação de Serralves, Isabel Pires de Lima, sugeriu que, no interior da cidade, se olhasse "para zonas excêntricas para ver como podemos potenciar a dispersão". Uma observação pertinente para o presidente da Câmara do Porto, que identificou as potencialidades da zona oriental como algo a explorar, além do Parque Oriental, de projetos culturais como a Casa São Roque ou do projeto-âncora da reconversão do Matadouro.

Ficou também alinhada a ideia de que neste tempo é preciso apostar na requalificação dos recursos humanos, através de formações nos mais variados quadrantes (neste âmbito a Câmara já desenvolve ações de formação gratuitas a comerciantes); promover os roteiros para o comércio de rua, tirando partindo da aplicação Shop in Porto; tirar proveito de fatores distintivos; trabalhar com os operadores turísticos no sentido de diversificar roteiros entre o Porto e a Região; além da ligação próxima à Galiza, abordar as regiões de Leão e Castela para a criação de sinergias, aproveitando a linha do Douro, propôs Luís Pedro Martins.

Em síntese, o turista "é um colecionador" de experiências e a responsabilidade de criar e provocar novos momentos depende da "criatividade e ousadia" de todos os stakeholders (partes interessadas e intervenientes), disse Rui Moreira.

Este novo storytelling (narrativa), sugeriu ainda o vice-presidente da ATP, Manuel Marques, não se faz sem "resiliência" e sem uma voz reivindicativa no que toca à mobilidade das ligações aéreas, lembrou.

Constituição do Conselho Municipal de Turismo

Além do presidente da Câmara, do vereador da Economia, Turismo e Comércio, e do vereador do Urbanismo, têm assento nesta estrutura, organismos como o Turismo do Porto e Norte de Portugal, a Associação Comercial do Porto, a Associação de Comerciantes do Porto, a Fundação de Serralves, a Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (ARESP), o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte, o Sindicato dos Trabalhadores e Técnicos de Serviços, Comércio, Restauração e Turismo - Delegação Porto ou a ANA - Aeroportos de Portugal e um representante de cada uma das Freguesias ou União de Freguesias da cidade do Porto.