Cultura

Porto Design Biennale já arrancou e a matéria está em todo o lado

  • Cláudia Brandão

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Dois de junho é o Dia D, de Design. E entre o Porto e Matosinhos, assim serão todos os dias até 25 de julho, com o tema das “Alter-Realidades” da segunda edição da Porto Design Biennale (PDB) a trazer 49 atividades, das conversas às exposições, dos workshops aos programas de rádio. As duas primeiras iniciativas arrancaram na manhã de hoje, na Casa do Design de Matosinhos, e no Museu Soares dos Reis.

É reconhecido o desafio que representou a concretização da PDB em 2021, em contexto de pandemia, como lembrou o presidente da Câmara do Porto. “Entendemos, apesar de tudo, que seria importante, quer para a afirmação da bienal, quer para o tecido crítico e produtivo, quer para os públicos que ela provoca, que esta edição se realizasse”, afirmou Rui Moreira.

No discurso que antecipou a inauguração da exposição “Museu da Matéria Viva”, na Casa do Design de Matosinhos, o autarca partilhou a ideia de que “o securitarismo que era justificável durante a pandemia começa a afastar-se para um autoritarismo que nos impede de viver. Até, por isso, é bom que façamos estas coisas. Não podemos deixar que o autoritarismo se substitua àquilo que era a prudência que nos era recomendada”.

Nas palavras do presidente da Câmara do Porto, a realização da PDB é duplamente importante: porque “se torna necessário propor uma nova ética de existência que harmonize a responsabilidade e a felicidade”, mas também “pela forma como o evento se adaptou ao contexto presente, pelas parcerias que convocou, pela escala que tomou, pela reinvenção de formatos que adotou e pelos discursos que propõe”. “Em tempos de autoridade radical, uma bienal radical”, lançou Rui Moreira, para “voltarmos, enfim, a ser humanos”.

A presidente da Câmara de Matosinhos concorda que “foi preciso coragem e cumplicidade para decidir manter o timing da bienal”, e reitera a importância do evento para “fazer da região um grande polo de vida, de atração, de dinamismo cultural, económico. É isso que nos mobiliza”. “Pôr a saúde em primeiro lugar, sem descurar o resto das nossas vidas”, afirmou Luísa Salgueiro.

Para a diretora da Esad-idea, que organiza a PDB, “fazer este ano uma bienal foi uma decisão de grande respeito pelos públicos e agentes da cultura”. Magda Seifert disse esperar que o programa da PDB “consiga abrir caminhos para compreendermos o modo como o design nos ajuda a pensar e a construir o nosso lugar”.

A manhã em Matosinhos terminou com uma visita à exposição “Museu da Matéria Viva”, guiada pelo curador da PDB. Alastair Fuad-Luke sublinhou a importância dos materiais presentes, mais ou menos obviamente, no dia a dia, lembrando que “não fazemos o mundo sozinhos, nós cocriamos o mundo. É importante fazermos coisas juntos, mudarmos o presente”.

“Espero que o “Museu da Matéria Viva” vos estimule a todos a pensar em como materializamos o nosso mundo, ou talvez deva dizer mundos. Nestes tempos de pandemia, temos que pensar nos outros e em novas dimensões”, afirmou o curador.

Bienvenue au Museu Nacional de Soares dos Reis

E a propósito de outras dimensões, a abertura da Porto Design Biennale prosseguiu para o Porto e para o recém inaugurado Museu Nacional de Soares dos Reis. Aqui se encontra a exposição “Autre”, que representa uma parte da oferta programada pelos curadores Sam Baron e Caroline Naphegyi, na celebração da França enquanto país convidado desta edição da PDB.

Rui Moreira destacou, precisamente, a escolha do França, país pilar da liberdade associada à civilização europeia. “Temos sido testemunhas e cúmplices da diplomacia francesa na área cultural”, sublinhou o presidente da Câmara do Porto, lembrando a colaboração francesa em programas como os Dias Da Dança, o renascer do Rivoli, o cinema francês e a sua apresentação na cidade.

Assumindo o “enorme desafio” de receber a Porto Design Biennale, o diretor do Museu Nacional de Soares dos Reis, António Ponte, sublinhou o cruzamento de muitas daquelas atividades “com o projeto que o Museu tem, que parte das coleções do Museu e se desenvolve num conjunto de propostas culturais, em que as coleções são vistas e relidas de uma forma contemporânea, resultando em interpretações diferentes”. “Que seja mais um momento de relançamento, de reafirmação do Museu no contexto cultural da cidade e do país”, acredita o responsável.

Presente no Museu Soares dos Reis, a embaixadora de França em Portugal, Florence Mangin, disse que “recebemos com entusiasmo a proposta de sermos o país convidado da PDB, que se impôs como o maior acontecimento do setor do design em Portugal”, sublinhando o design como “disciplina contemporânea de iminente protagonismo e responsabilidade na vida coletiva e na sobrevivência ambiental”.

Responsáveis pela exposição “Autre”, Sam Baron e Caroline Naphegyi explicaram que o confinamento os “obrigou a adotar uma postura mais crítica, de certa forma ativista”. Daí o envolvimento de contribuições portuguesas e francesas na criação da iniciativa. Queriam “mostrar a capacidade do design para reunir as pessoas”. “Acreditamos que, no momento particular que vivemos, o vínculo humano, na forma de uma carta, de um objeto ou de um imaginário partilhado, atribui ao design um sentido, amplia a capacidade de permanecermos juntos”, afirmaram.

A manhã de inaugurações contou, ainda, com a presença da adida de Cooperação Cultural e Audiovisual, Silvia Balea, do Cônsul Honorário de França no Porto, Manuel de Novaes Cabral, e do diretor do Museu da Cidade, Nuno Faria.