Ambiente

População de Campanhã abre à cidade o parque com que sonhou e até plantou

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O Tiago e os colegas não têm grande dificuldade em plantar as primeiras árvores – serão mais de mil – no enorme jardim que, a partir de julho, terão mesmo ao lado da escola, a do Falcão. Também eles, como a própria comunidade de Campanhã, puderam pensar e ajudar a construir aquele que será o Parque da Alameda de Cartes, 40 mil metros quadrados de espaço aberto, de lazer e promotor de uma mobilidade suave.

A partir de hoje, corredores pedonais e cicláveis, uma série de arruamentos, permitem uma circulação mais fluida de quem frequenta os bairros do Falcão, do Cerco e do Lagarteiro, a Escola do Falcão, o Campo de Campanhã, a Piscina de Cartes ou mesmo a Horta das Oliveiras.

“Este é o vosso jardim”, disse o presidente da Câmara do Porto, a todos os que, na manhã desta terça-feira, se juntaram para a abertura da primeira fase do espaço. Para Rui Moreira, este “é um projeto que responde muito aos anseios da população e também a esta mobilidade suave que nós pretendemos para que as pessoas possam passear na cidade livremente”.

Com o olhar em Campanhã “há mais de dez anos”, o Município escolheu esta comunidade para fazer parte do URBiNAT, o projeto europeu de construção de corredores saudáveis com o envolvimento das pessoas que fazem os espaços.

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E, mais uma vez, a resposta – e as ideias – chegaram em força. “Este é um exemplo de parceria com a população que nós queremos, verdadeiramente, saudar. A ideia do URBiNAT é exatamente isto: como é que a população pode ajudar os decisores políticos a tomarem decisões. A cidade que vocês querem tem que ser adequada às vossas ideias”, sublinhou o presidente da Câmara.

Este é um exemplo de parceria com a população que nós queremos, verdadeiramente, saudar.

Ricardo Lopes, conhecido na zona e na comunidade do hip hop como “Ricardinho”, é um dos moradores com voz ativa no que é e será o Parque da Alameda de Cartes. Depois de vários encontros, com a Câmara, a escola, a população, “todos juntos conseguimos criar este espaço e está à vista de todos que vai ser bom para a comunidade. Será uma grande zona verde, um corredor saudável onde as pessoas se vão sentir à vontade para vir passear, conviver depois de deixar os filhos na escola”.

Para lá do material, Ricardo Lopes sublinha a importância do imaterial e do que o projeto de cocriação fez nascer: “uma plataforma que vai reunir tudo o que é história da freguesia e dos seus habitantes, as suas memórias, as iniciativas comunitárias, património”.

“Todo este processo fez-nos perceber de que maneira podemos trabalhar daqui para a frente. Que haja mais projetos com a comunidade para, juntos, fazermos mais coisas para a zona”, apela.

Águas da chuva infiltradas, armazenadas e distribuídas pelo parque a 100%

Além de tudo, há uma visível (e não tão visível) “relevância do ponto de vista ecológico” e do “enorme impacto ambiental”. É o arquiteto responsável pelo projeto quem garante: “é um espaço em que 100% das chuvas são geridas e infiltradas no local”. A inovação está em conseguir fazê-lo num parque com uma inclinação acentuada.

É um espaço em que 100% das chuvas são geridas e infiltradas no local”.

Com a construção de grandes áreas impermeáveis, “quando chove, quer as áreas verdes, quer as áreas pavimentadas, encaminham as águas para as micro represas, que fazem alguma infiltração e retêm a água durante algum tempo, e vão-na distribuindo”, explica José Miguel Lameiras.

O processo é contínuo: “daí, a água é reencaminhada para bacias de retenção, que têm um perfil drenante, ou seja, quando chove, elas infiltram água, mas também têm capacidade de armazenamento e de infiltração ao nível do subsolo”.

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“O grande objetivo é que essa água faça a recarga dos aquíferos e, a partir daí, temos níveis freáticos mais saudáveis, as árvores conseguem ir buscar água e evapotranspirar”, diz o arquiteto. Tudo em nome da “resiliência climática da cidade do Porto”.

A solução já está a desempenhar o seu papel: José Miguel Lameiras admite que “com as grandes chuvadas que tivemos [na semana passada], já conseguimos observar as bacias de retenção com água e o sistema a distribuir a água pelo parque e esta a ficar retida e infiltrada”.

Além disso, acrescenta o arquiteto, “o parque tem um conjunto de árvores de crescimento rápido que vão dominar a paisagem nos primeiros cinco a dez anos e que estão lá para criar condições para a instalação das árvores de crescimento lento, os carvalhais, que irão dominar a composição ao fim de 20 anos. São essas árvores que vão ser as grandes fixadoras de carbono”.

Um lugar para crescer(mos)

“Esperamos, agora, que o parque cresça, se desenvolva e seja muito usado. Precisamos, absolutamente, que as pessoas invadam o parque. É fundamental. Não há melhor segurança do que sermos nós os frequentadores dos parques”, sublinha o presidente da Câmara do Porto.

Ali ao lado, o proprietário da confeitaria que serve o Parque da Alameda de Cartes reconhece a diferença na zona nos últimos anos. “Era um bocadinho parada e a nível de desenvolvimento tinha muito pouco”, confessa Vítor Pinheiro.

Hoje, com o investimento na escola e o crescimento do espaço verde, considera o resultado do olhar atento “uma mais-valia para as pessoas da zona, porque têm mais onde passar o tempo, é bom para crianças e pessoas mais idosas”.

A cargo da GO Porto e com um investimento municipal de 2,2 milhões de euros, o Parque da Alameda de Cartes está a ser desenvolvido no âmbito do URBiNAT (Urban Innovative & Inclusive Nature – Healthy Corridor as drivers of housing neighbourhoods for the co-creation of social, environmental and marketable NBS) e conta com o financiamento europeu do programa Horizonte 2020.