Ambiente

Património arbóreo do Porto em perigo por causa da bactéria "Xylella fastidiosa"

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

O património arbóreo do Porto, constituído por mais de 65 mil árvores públicas, pode estar em perigo. Tudo por causa da ação nefasta da bactéria "xylella fastidiosa" e que já levou ao abate de milhares de espécies, especialmente no viveiro municipal. O vice-presidente e vereador do Ambiente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, classifica o atual momento de "risco permanente", já que o património arbóreo da cidade "pode estar em causa".

O Município do Porto tudo tem feito para tentar minimizar os efeitos da "xylella fastidiosa". Filipe Araújo assegura, em declarações à Agência Lusa, que o município está disponível para "aumentar a frequência e quantidade de testagem", por forma a abater, "apenas, os exemplares que se encontrarem positivos à presença da bactéria".

"É fundamental encontrar soluções específicas para preservar espaços verdes de centros urbanos, pois estamos a falar da destruição de um património histórico muito relevante", refere, acrescentando que a erradicação indiscriminada não pode ser feita de "ânimo leve".

O vice-presidente da autarquia garante que este é "um problema que preocupa o município do Porto e deve preocupar o Governo". "É fundamental haver investimento neste combate, mas igualmente importante é a preservação do património histórico da cidade, dos seus jardins e parques", defende.

Filipe Araújo diz ser "urgente" adotar medidas de erradicação da bactéria, bem como uma "ação mais assertiva" da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e "recursos que ajudem a encontrar solução para o problema". "Neste momento, a única solução apresentada aos municípios é o cumprimento das medidas adotadas para a zona infetada, o que representa a erradicação total das espécies apresentadas na lista de géneros e espécies vegetais detetados infetados", relembra.

Investigadora da FCUP propõe algumas soluções

A propósito do plano da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária – propõe, por exemplo, a obrigatoriedade de abater, num raio de 50 metros, as plantas que testem positivo à bactéria e todas as da mesma espécie que, num raio de 2,5 quilómetros, tenham testado positivo –, Ana Aguiar, do Centro GreenUPorto e docente na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), garante, também em declarações à Lusa, que as medidas de erradicação da "xylella fastidiosa" "não são as adequadas", defendendo que as plantas que não manifestam danos podem ser fundamentais para resolver o problema.

"Destruir plantas que não manifestam danos [depois de infetadas pela 'xylella fastidiosa'] poderá ser um erro", sublinha.

Destacando que com algumas plantas pode ser desenvolvida uma "relação de comensalismo", Ana Aguiar defende a importância de se "preservar" esse material vegetal, que "poderá ser fundamental na resolução do problema". "Antes de destruir as plantas, e nesta fase em que a 'xylella fastidiosa' está presente, mas não causa prejuízos para a agricultura, é urgente envolver os investigadores, financiando o trabalho da ciência", observa.

Em Portugal, garante, há "muito conhecimento acumulado na área da proteção das plantas" e defende que, à semelhança de outras doenças que afetam espécies vegetais, “importa olhar não só para a bactéria, mas para todos os elementos que compõem o tetraedro epidemiológico", nomeadamente, a planta, o agente causal da doença, o ambiente e os vetores.

"Perante um problema tão sério que levou à definição pela União Europeia de um conjunto de medidas de aplicação imediata, é essencial que a ciência dê a sua contribuição para encontrar soluções para, em estreita colaboração com os serviços do Ministério da Agricultura, evitar uma catástrofe económica como a que aconteceu na região da Apúlia em Itália ou o abate desnecessário de plantas onde a bactéria não causou prejuízos”, acrescenta Ana Aguiar.

Classificada como "bactéria de quarentena" pela Organização Europeia para a Proteção das Plantas (EPPO), em Portugal, a "xylella fastidiosa" foi detetada, em janeiro de 2019, no norte do país.