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Parque da Cidade enriquece património vivo dos Caminhos de Santiago

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Desta vez, as setas amarelas indicam o caminho até ao Parque da Cidade. “Percorrer o Tempo. Visões Contemporâneas do Caminho” é a exposição onde dez fotógrafos retratam o tanto que os diversos percursos que levam à Catedral de Santiago de Compostela envolvem: a história, a religião e também o turismo. Inserida nas celebrações do Xacobeo 21-22, pode ser visitada até 16 de outubro.

O destino é Santiago de Compostela, mas o que importa é, na verdade, o caminho, a experiência e as conexões. Os cinco contentores à entrada do Parque da Cidade testemunham de perto a peregrinação de muitos que seguem rumo ao chamado “caminho das estrelas”, e mostram em vídeo a experiência de dez artistas – galegos, franceses, ingleses e o português André Cepeda – ao longo do caminho, seja físico, seja espiritual.

Na inauguração da mostra, na tarde desta segunda-feira, o presidente da Câmara do Porto afirmou que “os Caminhos de Santiago e o Xacobeo são coisas que nos dizem muito”. “Sabemos que somos um ponto de entrada e um ponto de partida e, portanto, é muito importante associarmo-nos a este programa”, confirmou Rui Moreira.

O presidente aproveitou a ocasião para relembrar como “a itinerância também é pensar”, como “ao caminhar, vamos à procura de nós próprios, da natureza, do contacto”. “Muitas das pessoas que procuram esta itinerância de repente percebem que estão com elas próprias. O nosso desejo é libertar o pé da terra”, acrescentou.

Caminhos de Santiago a construir património 1200 anos depois

Para a comissária das celebrações do Xacobeo 21-22, escolher a cidade do Porto para trazer a exposição “Percorrer o Tempo. Visões Contemporâneas do Caminho”, depois de ter passado por várias cidades, “foi totalmente natural”. “O Caminho Português é muito popular e tem tido um crescimento espetacular, até porque, nos últimos anos, Portugal tem feito um enorme trabalho na divulgação, na promoção, na sinalização”, sublinhou Cecilia Pereira.

A responsável galega reconhece que “o Aeroporto do Porto converteu-se na entrada natural para grande parte dos peregrinos estrangeiros que fazem o caminho” muito devido às “conexões internacionais diretas com toda a América do Norte, com toda a Europa, com a América do Sul, e mesmo com a Ásia”. “A verdade é que é muito fácil deslocar-se até ao Porto e desde aqui caminhar até Santiago de Compostela”, reforça a comissária.

Cecilia Pereira destaca ainda como “a cidade do Porto é uma referência para nós no campo das artes plásticas, sem dúvida, pela música, há um fluxo constante”, acrescentou a responsável galega.

Relativamente à mostra agora no Parque da Cidade, a responsável pelas celebrações do Xacobeo admite que o objetivo de convidar jovens artistas e expor em contentores era o de mostrar que “o Caminho é algo que continua vivo”.

“Temos que gerar património porque o caminho tem 1200 anos de histórias mas não pode viver do passado. Tem 120 anos de história mas nem tudo é património românico, gótico, barroco. É preciso continuar a construir esse património”, afirmou Cecilia Pereira.

Para participar no projeto, André Cepeda fez o seu próprio Caminho de Santiago a partir do Porto, “uma experiência muito interessante e forte ao mesmo tempo”. “Há uma relação interior que se cria com a paisagem, há um confronto connosco, um crescimento que acontece ao longo do percurso”, admite, acrescentando que o filme que agora está em exibição reflete “a parte mental da experiência, a mística do Caminho”.

“Uma pessoa nunca se sente sozinha, sente-se sempre acompanhada pela presença de todas as pessoas que já pisaram aquelas pedras, aquela terra”, garante o fotógrafo, que esta quarta-feira, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, a partir das 21 horas, dá uma conferência sobre o projeto.

Conferência de André Cepeda esta quarta-feira na Biblioteca Almeida Garrett

A exposição “Percorrer o Tempo. Visões Contemporâneas do Caminho” celebra o Xacobeo 21-22 e surge de uma parceria da Fundação La Caixa com a Xunta da Galiza e a Câmara do Porto.

Para o curador da Fundação La Caixa, “esta exposição representa a importância do Porto para os Caminhos de Santiago e, sobretudo, a relação do noroeste de Portugal com o noroeste de Espanha, que é fortíssima”. “Isto é um sinal de como são autênticas, reais e profundas as relações entre Portugal e Espanha”, afirmou Artur Santos Silva.

A mostra estará aberta para visita até 16 de outubro, de segunda-feira a domingo, das 11 às 19 horas. A entrada é livre.

Ao fotógrafo português juntaram-se os artistas galegos Carla Andrade, Luís Díaz Díaz, Iván Nespereira, Bandia Ribeira e Lúa Ribeira, à inglesa Olivia Arthur, ao francês Michel Lebelhomme e a Cristina de Middel e Miguel Ángel Tornero.