Ambiente

Parque da Asprela a meio caminho de ajudar o Porto no combate às alterações climáticas

  • Isabel Moreira da Silva

  • Notícia

    Notícia

O conceito de “cidade-esponja” adquire com a obra do Parque Central da Asprela uma nova dimensão, porque este pulmão verde, que já respira, vai ter sangue azul na guelra, capaz de conter dilúvios. Uma combinação única entre cerca de 650 novas plantações de árvores e arbustos, 10 mil metros cúbicos de capacidade de retenção de água pluvial, e mais duas ribeiras desencanadas, que vão correr a céu aberto. O parque, com uma área aproximada de 6 hectares, fica concluído no primeiro trimestre de 2022.

Os passos pelos caminhos do futuro Parque da Asprela fazem-se na companhia de uma nova amiga, de seu nome poeira. Não vai sair de cena até que a modelação do terreno, a execução dos percursos e as escavações já concluídas deem lugar aos pavimentos, ao relvado e à arborização.

Propriedade da Universidade do Porto, os terrenos estavam abandonados há décadas, invadidos por cultivos informais, profanados pelo lixo para ali atirado. Uma realidade que deve fazer corar de vergonha o passado de uma das zonas mais férteis da cidade, entretanto sufocada pela urbanização que o Hospital de São João e o Campus da Asprela trouxeram. A obra do Metro veio depois, poupou parte do filete de terreno, mas entrincheirou o sobrante.

Ainda foram precisos cinco anos para o projeto sair do papel, contou Paulo Farinha Marques, coordenador da equipa multidisciplinar da Universidade do Porto e do Politécnico do Porto, que com a empresa municipal Águas do Porto, enquanto representante do Município e líder do projeto do Parque Central da Asprela, se uniram para criar este novo espaço verde de usufruto público. Superada a hesitação da proprietária e garantida a comunhão de interesses entre todos os participantes, a obra arrancou no verão do ano passado, no mês de julho. Enquadramento feito para o início da visita recentemente realizada pelo presidente da Câmara do Porto ao local.

O ponto de partida fez-se pela Rua do Dr. Plácido da Costa, diante do Centro Hospitalar Universitário de São João. O aspeto ainda árido do terreno, localizado na confinante entre a Faculdade de Desporto e a UPTEC - Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto, vai sendo gradualmente amenizado ao longo do percurso por uma envolvente mais naturalizada.

A desmatação e a limpeza dos terrenos estão feitas e a prioridade agora é tratar das “estrelas do parque”, que são a Ribeira da Asprela e a Ribeira da Manga, informa o arquiteto paisagística e professor universitário, mentor de uma equipa que reúne arquitetos e várias especialidades de engenharia (hidráulica, eletrotécnica, estruturas, entre outras).

De modo então controlar o voluntarismo das águas, donas e senhoras de si, estão a ser montadas peças hidráulicas em betão armado ao longo das duas ribeiras. Estes caminhos dique, podem, sempre que necessário, funcionar como pequenas barragens. Por outro lado, estão a ser criados sistemas que impeçam a entrada atrevida de caudal nos subterrâneos do metro, através de desvios que empurram diretamente os cursos de água em direção ao Douro.

Como resultado, o futuro Parque Central da Asprela vai cumprir o seu desígnio ao formar uma bacia hidrográfica com grande capacidade. Esta característica vai permitir reduzir significativamente a ocorrência de cheias e de inundações através da estabilização dos leitos e das margens, e contribuir para a permeabilidade do solo, estimada em 91%. Ao mesmo tempo, é garantida a regularização fluvial da Ribeira da Asprela, com uma extensão de 594 metros, e de outras mais pequenas, que vão ser igualmente desentubadas, despoluídas e reabilitadas, trabalho que de resto a empresa municipal Águas do Porto tem vindo a desenvolver noutras zonas da cidade.

Essa mancha verde e azul já se começa a vislumbrar no interior do parque, assim como a rede de percursos vai ganhando definição, testemunharam Rui Moreira e Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara do Porto e vereador do pelouro da Inovação e Ambiente, que também acompanhou a visita à obra.

A ideia é que o parque se organize como uma alameda, com o arvoredo e os espelhos de água a pontuar o espaço intercetado por caminhos pedonais, cicláveis e adaptados a pessoas com mobilidade reduzida, cruzado por pequenas pontes de madeira e passadiços.

As condições climatéricas que se fizeram sentir com maior severidade no mês de fevereiro obrigaram ao abrandamento da obra, condicionada pelo elevado caudal da Ribeira da Asprela. Os trabalhos retomaram assim que o tempo melhorou, atualmente até a um ritmo mais intenso.

O Parque Central da Asprela dá sequência ao trabalho iniciado com a criação do Parque Quinta das Lamas, localizado entre a FEP e a FEUP, e que incluiu a reabilitação da Ribeira da Manga. Futuramente, os mentores do projeto não descartam a criação de uma ligação direta entre os dois, através de uma ponte pedonal. Por agora, o pré-fabricado de uma agência bancária, localizada nessa extremidade do futuro parque, já foi demolida, completamente desenquadrada que estava ao ocupar uma parte do terreno fronteiriço.

A obra tem um prazo de 570 dias e corresponde a um investimento superior a 1,6 milhões de euros. Do Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente e Transição Energética, obteve um financiamento no valor de 1 milhão de euros, na rubrica "Adaptação às Alterações Climática - Recursos Hídricos".

Com o Parque Central da Asprela, a cidade do Porto abre uma nova janela no combate às alterações climáticas e pela defesa da sustentabilidade, preocupação que de resto está inscrita na revisão do Plano Diretor Municipal (PDM).