Palavras de Miguel Torga abrem com Ópera temporada do Coliseu lírico e sinfónico

Começam a escassear os argumentos - ser para um público específico ou não ser percetível - para não ir à Ópera. “Mátria – Aqui na terra” nasceu no Norte, em Trás-os-Montes, e é cantada em português, ao ritmo das palavras de Miguel Torga. Com música de Fernando Lapa e libreto de Eduarda Freitas, sobe ao palco do Coliseu Porto Ageas para um espetáculo único a 4 de março.

Esta é a história de Rodrigo, o menino, a sua ligação a casa, uma pequena aldeia transmontana, a crença de que na barriga de um monte existe um tesouro. É a história de Rodrigo, o homem, a sua viagem pelo “sossego que busca para dentro de si”. “E é quando a velhice se cola aos ossos, que o velho homem sente o apelo do regresso, à procura das certezas de menino”. Esta é a histórias das histórias que fazem o lugar.

Construída a partir de “Contos” e “Novos Contos da Montanha”, de Miguel Torga, “Mátria” estreou em Vila Real, em dezembro do ano passado, inserida nas comemorações dos 20 anos do Douro Património Mundial.

“Apesar de as obras literárias serem da década de 1940, “Mátria” é uma história atual, que retrata a sociedade que fomos e continuamos a ser”, diz a produção da ópera, com a certeza de que “mesmo sendo fruto da ficção, as personagens assemelham-se tantas vezes a cada um de nós”.

Aos solistas - Ana dos Santos, Madalena Tomé, Maria João Alves, Job Tomé, Paulo Lapa, Regina Freire e Tiago Matos - juntam-se as vozes da terra: os Moços do Coro e o Coro da Comunidade, constituído de propósito para esta ópera, e eles próprios a representar o cenário. São a montanha, a vindima, as ovelhas. A música de Fernando Lapa é tocada pela própria Orquestra Mátria.

"Consideramos muito relevante poder apresentar em 2022 uma ópera original dos nossos dias, baseada em património literário muito relevante especialmente para a região Norte", afirma Mónica Guerreiro, presidente do Coliseu.

Com direção musical de Jan Wierzba e encenação de Ángel Fragua, “Mátria – Aqui na terra” vem de Trás-os-Montes ao Porto nesta sexta-feira, 4 de março, e a montanha faz-se ouvir a partir das 21 horas.