Política

Os caminhos cruzados do jornalismo e da democracia e os desafios para o futuro

  • Paulo Alexandre Neves

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Os diagnósticos estão feitos, as soluções variam conforme as opiniões, mas tudo converge num só sentido: nos tempos que correm, nem o jornalismo, nem a democracia estão a salvo. O contraponto existe ainda no otimismo de quem gere redações e de quem tem o poder, proveniente do voto popular, de comandar os destinos das duas maiores cidades do país.

De tudo isto se falou, esta manhã, no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no debate "Jornalismos e Democracia", iniciativa inserida nas comemorações do 45.º aniversário do Correio da Manhã e que juntou, à mesma mesa redonda, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, o seu homólogo de Lisboa, Carlos Moedas, e o diretor-geral editorial da Medialivre, Carlos Rodrigues.

"Havia uma relação bipolar entre aquilo que era a comunicação social e a política e surgiu um terceiro elemento na sala: as redes sociais, que fizeram com que cada um de nós tenha a possibilidade de se substituir ao jornalismo, pegando em factos, para os quais não estamos preparados para analisar, e tentar transformá-los em notícias", começou por afirmar Rui Moreira, recordando que foi através das redes sociais que conseguiu ganhar, como independente, a Câmara do Porto, em 2013.

“A democracia está sempre em perigo”

Num debate moderado pelos jornalistas da CMTV José Carlos de Castro e Tânia Laranjo, o autarca portuense reconheceu que, atualmente, "quem desempenha cargos políticos tem de estar numa situação mais defensiva". "As redes sociais exigiram uma outra coisa: já nem é o politicamente correto, mas reta pronúncia. Acaba por tirar-lhes a espontaneidade e o princípio da franqueza", acrescentou.

Feito o diagnóstico, Rui Moreira garantiu que "a democracia está sempre em perigo. Vive um risco como provavelmente não existia desde a II Guerra Mundial. Se não a tratarmos bem, objetivamente, ela vai morrer".

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O presidente da Câmara de Lisboa, que recordou ser filho de um jornalista – "sei o que é a dificuldade da profissão", disse -, frisou que o jornalismo ainda é "uma vocação, uma coragem, uma missão e, como dizia o meu pai, uma adição".

Sobre as novas tecnologias confessou: "Sou um 'tecno-otimista', mas a tecnologia está a matar a democracia e o jornalismo está a sofrer por isso. Ela está a destruir as instituições físicas".

O futuro passa, na opinião do autarca lisboeta, pela forma "transparente" com que "devemos envolver os cidadãos para ficarem a saber o que fazemos". "Se não apostarmos no futuro do jornalismo, se não criarmos oportunidades para os jornalistas, se todos (Estado, autarquias) não nos envolvermos, não há democracia", acrescentou Carlos Moedas.

Três desafios para o futuro

Sobre o futuro do jornalismo, o diretor-geral editorial da Medialivre demonstrou não estar de acordo com os perigos que se abatem, atualmente, sobre a democracia. "[O jornalismo] é uma barreira na defesa da democracia", disse Carlos Rodrigues.

O também diretor-geral editorial do Correio da Manhã deixou a ideia de que o setor passa por "três desafios" em "defesa do jornalismo livre, logo em defesa da democracia": defesa do emprego, uma das formas do Estado apoiar o jornalismo livre, ultrapassar a dificuldade em fazer chegar os jornais a todo o território nacional, que, atualmente, põe em causa a coesão nacional, e combater as grandes multinacionais da internet.

O Correio da Manhã, que hoje comemora o seu 45.º aniversário, vai apostar mais no Norte, com "redações abertas", conforme revelou Carlos Rodrigues.