Educação

O teatro como disciplina para que o papel principal numa sociedade melhor seja dos alunos

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O “Zezinho” articula bem cada palavra para dizer que gosta de ajudar pessoas. Ao fantoche criado pelo Nicolas, no Curso Básico de Teatro, só lhe faltam as pernas e as mãos para realizar o sonho de ser skater. Ao Nicolas, ao João, à Vitória, à Melissa e à Mara é a própria escola a abrir-lhes o caminho para as artes dentro do percurso educativo. Se não escolherem o teatro para o futuro, levam com eles capacidades artísticas para construírem uma sociedade melhor.

Os cinco alunos do 5.º ano estão nisto desde setembro e, na manhã desta sexta-feira, receberam os primeiros aplausos do público. No final do ano, as aulas de teatro que vão encaixando num horário habitualmente preenchido de matemáticas, português ou ciências vão levá-los ao palco, com uma adaptação de “A Menina do Mar”, de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Mas, para já, o plano de estudos ainda é sobre exercícios básicos de teatro, de atenção aos colegas em palco, ao movimento do corpo, à expressão do rosto, aos exageros que são permitidos, à imaginação sem limites. E à falha, também. “No teatro, com o erro chegam-nos coisas melhores”, assegura o professor, da ACE-Escola de Artes.

É em parceria com a ACE que o Município do Porto vem, desde 2018, implementando o Curso Básico de Teatro em alguns agrupamentos escolares. Hoje, já depois de o projeto ter sido incluído pelo Ministério da Educação no ensino regular, a par da música e da dança, funcionam turmas de iniciação, nas escolas Gomes Teixeira, Bom Sucesso, Campo 24 de Agosto e Alexandre Herculano.

Para o vereador com o pelouro da Educação, “é importante permitir que o teatro possa ser transformador para a cidade e para as pessoas” e, por isso, a Câmara do Porto não teve dúvidas em “colaborar no que era o vosso sonho e que consideramos muito legítimo”.

“É isto também a Cidade Educadora”, considera Fernando Paulo, certo de que os poderes locais e centrais, através da cultura e da educação, devem apoiar projetos que “ajudem a criar sociedades melhores, em que todos tenham igualdade de oportunidades e a riqueza esteja bem distribuída”.

No público a ver a primeira apresentação daqueles alunos esteve, também, o secretário de Estado da Educação, António Leite, que veio à Escola Gomes Teixeira partilhar a certeza de que “a educação serve o propósito do desenvolvimento humano”.

“Momentos como este são os que verdadeiramente importam na educação”, considera o representante do Governo. António Leite lembrou também que “para muitos, a escola é mesmo a oportunidade que têm para mudar de vida e essa é a nossa responsabilidade primeira”.

A ideia de levar o teatro ao ensino regular é de Sílvia Correia. A tese de doutoramento da investigadora do CITCEM – Centro de Investigação transdisciplinar levou a tutela a homologar a formação de ensino artístico especializado de teatro, integrado no sistema de ensino nacional em regime de ensino integrado e/ou articulado.

Neste momento, 400 alunos de 17 escolas do país frequentam o Curso Básico de Teatro, mas Sílvia Correia almeja “normalizar o teatro nas escolas, que possa ser integrado no currículo único dos alunos”. “Se não fosse a sensibilidade, o pensamento para além do que é visível, isto seria impossível”, afirma a investigadora, a propósito do envolvimento do Município e, agora, também do Ministério, sublinhando como o teatro dá aos alunos competências artísticas, mas também “todas as outras” e “desperta o interesse pela leitura e ajuda na motricidade”.

Diretor da ACE – Escola de Artes, António Capelo também foi, nesta manhã, público atento aos jovens alunos de teatro. O ator reforçou a ideia de que “o ensino de teatro nestas idades é fundamental para formar melhores seres humanos”.

O profissional, que admite que “o teatro ensinou-me tudo”, acredita que esta forma de arte “pode ser o alicerce onde vai assentar tudo o resto”. E “esta sensibilidade que temos encontrado junto do poder local e central é muito importante. Obrigado por entenderem isto”, concluiu.