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O país despediu-se no Porto de Agustina Bessa-Luís, mas a escritora fica para sempre

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Uma cerimónia algo restrita na Sé do Porto marcou, nesta tarde, o adeus oficial de todo país a Agustina Bessa-Luís, que

faleceu ontem com 96 anos. À família juntaram-se amigos e algumas personalidades, numa sublimação da escritora que, porém, deixa um legado perene.

A artista Mónica Baldaque, filha de Agustina, e demais familiares próximos contaram com o apoio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e da Ministra da Cultura, Graça Fonseca, nos momentos sensíveis que antecederam a partida do funeral para o cemitério do Peso da Régua.

À missa presidida na Sé pelo Bispo do Porto, D. Manuel Linda, assistiram também o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, o seu antecessor, Sebastião Feyo de Azevedo, o antigo ministro das Finanças, Miguel Cadilhe, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, o assessor do PR para a Cultura, Pedro Mexia, o administrador da Fundação Gulbenkian e ex-ministro Guilherme d'Oliveira Martins, e o diretor regional de Cultura do Norte, António Ponte, entre outras individualidades que consideram a escritora uma pessoa "absolutamente extraordinária", como sintetizou Rui Moreira.

"A Agustina obrigava-nos todos os dias a vermo-nos ao espelho nas nossas fragilidades e contradições, que todos temos", apontou o Presidente da Câmara, à saída da Sé do Porto, recordando o seu característico sentido de humor e considerando que "esceveu sobre o fim, e o fim é o principio de alguma coisa", pelo que - defendeu - devemos todos continuar a "interpretá-la, a fazer com que as pessoas leiam os livros dela".

Rui Moreira decretara já dois dias de luto municipal (ontem e hoje), paralelamente ao luto nacional decidido para hoje pelo Governo, mas o autarca congratulou-se por ter podido homenagear Agustina Bessa-Luís em vida. Com efeito, a autora foi homenageada na Feira do Livro do Porto em 2015, com a atribuição de uma tília nos Jardins do Palácio de Cristal. Recebera já a Medalha de Honra da Cidade do Porto, em 1988, e decorre desde janeiro deste ano um ciclo dedicado a Agustina, sobre cujas vida e obra está também patente uma exposição na Biblioteca Pública Municipal do Porto.

Após a celebração na Sé do Porto, o funeral seguiu para jazigo de família no cemitério do peso da Régua.

Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa nasceu a 15 de outubro de 1922, em Amarante. Teve uma original e fértil obra, contando com mais de meia centena de títulos, entre romances, novelas, peças de teatro, guiões de cinema, biografias, ensaios e livros infantis. Estreou-se nas Letras com o romance "Mundo Fechado", em 1948, e destacou-se com a publicação de "A Sibila", em 1954, obra que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz. Recebeu por duas vezes o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, a primeira pela obra "Os Meninos de Ouro" em 1983 e a segunda por "O Princípio da Incerteza I - Joia de Família" em 2001.
A escritora foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015. Em 2004 recebeu o Prémio Camões, instituído pelos governos de Portugal e do Brasil, e o Prémio Vergílio Ferreira, da Universidade de Évora.